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Universidade Afro-Brasileira terá curso de Medicina em Maciço de Baturité (CE)

A Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab) ganhará um novo curso de Medicina Federal, conforme anunciou o ministro da Educação, Camilo Santana, na última segunda-feira, 16. O novo curso será implementado no campus do Maciço de Baturité (CE), e deverá contribuir para aumentar a representatividade de negros entre os profissionais. 

Durante o anúncio da criação do curso, o governador do Ceará, Elmano de Freitas, se comprometeu em construir o Hospital Polo Regional do Maciço de Baturité, que receberá os alunos do curso. “De nossa parte, nos comprometemos em fazer o Hospital do Polo Regional do Maciço de Baturité, que vai ser decisivo para termos, agora, o curso de Medicina”. E completou: “Outros cursos virão, porque os profissionais terão onde fazer a parte prática de seus cursos na área da saúde”, disse. 

Foto: Canva.

O anúncio do novo curso é uma demanda antiga do Conselho Universitário da Unilab. A portaria para criação do curso de medicina na instituição foi assinada ainda em 2013. A universidade recebe alunos brasileiros e dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (Palops) – Angola, Cabo Verde, Guiné Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe -, e do Timor-Leste.

Sub-representatividade

A quantidade de médicos(as) negros e negras no Brasil ainda é perceptivelmente pequena, mas é um dado subnotificado. Como o Conselho Federal de Medicina (CFM) não exige a identificação da cor/raça no momento da inscrição no órgão da classe, não há contabilização da representatividade negra e parda entre os mais de 562 mil médicos em atuação no Brasil. No entanto, a sub-representatividade de negros e negras entre médicos pode ser percebida no dia a dia dos hospitais, clínicas e postos de saúde.

Essa sub-representatividade foi o que motivou o dentista baiano Arthur Lima a fundar a AfroSaúde, uma startup [empresa inovadora, geralmente apoiada em tecnologia] voltada para unir profissionais negros da saúde e pacientes que procuram esses especialistas. 

Ele explica que muitas pessoas negras procuram profissionais negros em busca de acolhimento e até mesmo para evitar serem vítimas de racismo. “Alguns pacientes passam a só aceitar serem atendidos por outras pessoas negras após serem vítimas desses crimes”, afirma.

Graduação

Outra forma de perceber a falta de pessoas negras entre esses profissionais é o abismo entre os que ingressam nesses cursos, quando em graduação federal, vagas extremamente concorridas, e nos cursos privados paga-se valores muito elevados pela graduação, fatores excludentes para a população negra e parda que em sua maioria são oriundas de escolas públicas e de baixa-renda. 

Segundo dados do Censo de Educação Superior no Brasil, do Ministério da Educação, realizado em 2019, apontam que 69,7% dos novos estudantes de medicina eram brancos, 24,7% pardos, 3,5% pretos e 2,1% indígenas e asiáticos. Essa sub-representatividade na academia reflete, inclusive, nos estudos direcionados à saúde específica da população negra.

“Infelizmente, a saúde da população negra não é disciplina presente em muitos cursos de graduação. Quando existe, é por meio de matéria optativa ou projeto de extensão”, reflete o dentista Arthur Lima, fundador da startup AfroSaúde. 

“O resultado disso são profissionais que se formam sem saber como cuidar da população de um país composto por 56% de pessoas negras”, finaliza.

Foto de capa: Canva.

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