A colagista Alexia Ferreira (Colagem Negra) desenvolveu o projeto de arte-educação “Fazendo Arte Como Eu Não Podia Fazer Quando Criança”. A ideia busca um resgate criativo a partir das fases da infância, utilizando colagem e fotografia para a criação de poéticas racializadas. As atividades serão realizadas na sexta-feira, 23, das 13h às 20h, na lateral da Escola Porto Iracema das Artes, escola de formação e criação artística do Ceará, gratuito e aberto ao público.
Ressignificando a arte, buscando referências ancestrais que envolvem a própria infância, o estudo, ações lúdicas que inspiram a criatividade se revelam como brincadeiras, suscitando a criança interior e sonhadora de cada um, o projeto propõem uma experiência imersiva por meio de múltiplas práticas.
O encontro terá uma live painting (pintura ao vivo) com o artista visual Blecaute, seguida por uma oficina de colagem ministrada pela própria Alexia. A ação contará ainda com Belle Azzi e Luz da Guia, trancistas do estúdio Nzinga, prontas para trançar os fios de quem chegar e quiser transformar o visual. Ainda, um campeonato de videogame complementa as atrações que seguem até as 20h.
O evento é resultado de uma formação de Alexia no laboratório de artes visuais do Porto Iracema. A proposta inicial do projeto era desenvolver seu fazer artístico rememorando suas próprias lembranças da infância. Dessa forma, começou a criar arte conforme foi entendendo o mundo por meio de sua ancestralidade negra e seus estudos em filosofia. Sua tutora, Scarlati Kemblin, também estará participando do momento.
Mais do que arte, um manifesto
Conhecida por abordar dores de forma artística, seu trabalho é também uma atenção para que não se pule nenhuma fase da vida de uma pessoa, para que as dores do colonialismo não se cruzem com a vida de sujeitos racializados, e que isso não venha a se tornar parte do indivíduo.
Para Alexia, se encontrar dentro da arte foi um processo confuso, dentro de um contexto onde crianças negras não são incentivadas a criar, a serem artistas. Dentro do laboratório, ela também desenvolveu o Manifesto para todas as crianças negras que não se sentiram seguras dentro de suas casas, além de oficinas onde pôde ter contato direto com o público e seus sentimentos envoltos da arte.
“(O projeto) foi adquirindo forma após lembranças de minha infância, quando notei como o racismo, a fome e a violência impediram minha criatividade, notando-se assim os traumas que me acompanham até hoje”, declara a artista.
“Fazendo arte como não podia fazer quando criança”, o próprio nome do projeto, significa um sonho de criança que continua sonhando ainda hoje, pois mesmo crescida, Alexia ainda sente sua vida sendo perpassada pelos problemas envolvendo o racismo.
Ela relata que “infelizmente, esta não é uma realidade apenas minha, isso foi notado ao longo das oficinas deste projeto, onde percebi que esse sentimento de não identificação com a criatividade na infância era algo presente na maioria das pessoas racializadas e que isso influenciava diretamente na autoestima delas”.
O projeto perpassa por diversos caminhos, mas o principal e essencial é que haja diálogos de autocompreensão acerca das dores em comum para pessoas racializadas, de forma a ser possível adquirir uma desenvoltura de sua própria poética sem se afastar de sua vivência enquanto um corpo que é colocado e visto como marginalizado em todos os espaços que o rodeia.
Foto de capa: Micaela Menezes
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Estudante de Jornalismo na Universidade de Fortaleza (Unifor). Vê no fazer jornalístico o poder de tocar e conscientizar as pessoas através de histórias e vivências, principalmente as que não costumam ser o foco da sociedade: vindas da periferia. Sempre fui próxima da escrita, mas para além disso, busco escrever para o meu povo, para quem quer ler sobre afro referências, cultura da favela, manifestos raciais. Por isso, o jornalismo negro é o caminho que busco percorrer em minha carreira.