Vereadores da bancada negra de Porto Alegre (RS), que tomaram posse no início de janeiro de 2021, na Câmara de Vereadores protestaram contra o hino do Rio Grande do Sul por considerá-lo racista. Os parlamentares, Karen Santos (PSOL), Bruna Rodrigues (PCdoB), Daiana Santos (PCdoB), Laura Sito (PT) e Matheus Gomes (PSOL) se recusaram a cantar o hino como ferramenta de luta frente aos trechos racistas presentes na letra.
“Mas não basta pra ser livre / Ser forte, aguerrido e bravo / Povo que não tem virtude / Acaba por ser escravo” são estrofes racistas e escravistas do hino gaúcho. A letra que evidencia o caráter segregacionista foi composta durante a Guerra dos Farrapos (1835-1845), em 1838 pelo tenente-coronel do exército farroupilha. A composição passou por ajustes em 1966 e foi oficializada pela lei nº 5.214/1966 como hino.
Na primeira sexta-feira do ano, 1º, os parlamentares da bancada negra continuaram sentados durante o hino, o que gerou críticas na Câmara, como a vereadora Comandante Nádia (DEM). Ela disse aos colegas que “o avanço de uma nação passa também pelo respeito aos símbolos”.
Matheus Gomes, vereador pelo PSOL, entrou com uma questão de ordem, a fim de justificar o protesto de seus colegas de partido: “Como bancada negra pela primeira vez na história da Câmara de Vereadores, talvez a maioria dos que já exerceram outros mandatos não estejam acostumados com a nossa presença. Não temos obrigação nenhuma de estar cantando o verso que diz que o nosso povo não tem virtude, por isso foi escravizado”, afirmou Matheus.
Na última sexta-feira, 29, a vereadora Karen Santos (PSOL) publicou um tweet em solidariedade aos ataques racistas e às ameaças de morte que o vereador Matheus Gomes (PSOL) vem passando.
Foto de capa: Ederson Nunes/CMPA.
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Jornalista em formação pela Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG) e afropesquisadora. Atualmente, estuda movimento negro e juventude em Minas Gerais, mas já aprofundou em racismo institucional e racismo e mídia. Também se interessa por cultura, música (principalmente rap nacional!) e política, sobretudo pelo modo que essas pautas dialogam com negritude no Brasil. É fotógrafa nos horários vagos (com a percepção e admiração pela maneira que a fotografia e o fotojornalismo narram realidades e perspectivas). Além disso, também é militante pelo Levante Popular da Juventude, comunicadora e coordenadora de cultura do Coletivo Negro KIANGA.