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23 de agosto é Dia Internacional de Lembrança do Tráfico Negreiro e sua Abolição

Em 1998, há mais de 20 anos, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), instituiu o Dia Internacional de Lembrança do Tráfico Negreiro e sua Abolição, lembrado em 23 de agosto.

O objetivo da data é promover reflexão e debates sobre o que foi a escravidão e como o tráfico humano de pessoas influenciou o mundo de hoje vivido por nós em meio ao que foi deixado por esse sistema escravocrata. Seus resquícios. Não restam dúvidas que foi uma das maiores violações dos direitos humanos da história da humanidade, contribuindo, inclusive, na luta contra o racismo que ainda perdura no século XXI.

Explorar essa memória se faz necessário para combater também a escravidão moderna presente em suas mais diversas formas e nuances, por meio da exploração sexual e do trabalho infantil, por exemplo. Há inúmeras situações e abusos que confirmariam esse sistema que ainda vigora.

Essas questões, entre outros problemas do racismo estrutural, estão diretamente relacionadas à pobreza e à falta de oportunidades que atingem principalmente as pessoas negras. Os negros são 75% entre os mais pobres, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Vale dizer que desde 2001, o tráfico de seres humanos e a escravidão são considerados crimes contra humanidade pela comunidade internacional.

Por quê 23 de agosto? 

Em uma colônia francesa das Índias Ocidentais, na região oeste da Ilha de São Domingos, uma das maiores ilhas das Antilhas, ocorreu uma revolta de escravizados e negros libertos na madrugada de 22 para 23 de agosto de 1791. Mas a independência veio apenas em 1804, quando o conflito, batizado como Revolta de São Domingos (1791-1804) – também conhecido como Revolução Haitiana – chegou ao fim e houve o reconhecimento da igualdade de direitos dos habitantes.

Pintura sobre a Revolta de São Domingos (1791-1804) feita por January Suchodolski.

A localidade adotou o nome de Haiti, a primeira república governada por pessoas de ascendência africana e o evento, histórico, contribuiu diretamente para o movimento da abolição durante o século XIX. O Haiti foi também o primeiro país da América Latina a alcançar sua independência e primeira República Negra das Américas.

Projeto “A Rota do Escravo – Lições do passado, Valores para o futuro”

Em 1994, a UNESCO criou um projeto que surgiu da iniciativa do Haiti e de diversos países africanos participantes da “Rota dos Escravos”, como Angola (região Central), Guiné (região Ocidental) e Moçambique (região Oriental), para ajudar a conscientizar a sociedade sobre a escravidão e suas consequências. Isso a partir de programas culturais e educacionais, tornando possível a identificação de questões sociopolíticas, culturais e éticas desse período.

Para saber mais, veja o documentário “A rota do escravo – A alma da resistência”, produzido pela UNESCO e legendado pelo Centro de Informação das Nações Unidas para o Brasil (UNIC Rio):

Ilustração de capa: Suellem Cosme.

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