Atlântico Reportagem

Eleições Presidenciais de Uganda acontecem em meio à tensão e violação de direitos da população

Atualizado às 17h42 do dia 14/01/2021

Após as tensões pré-eleições com o candidato de oposição ter decidido por suspender sua candidatura de forma temporária, as eleições presidenciais em Uganda, país situado na região Oriental da África, ocorrem nesta quinta-feira, 14. Em meio aos conflitos, às tensões e às violações de direitos da população, o atual presidente Yoweri Museveni, 76, – no poder há 35 anos – tem como adversário Robert Kyagulanyi, 38, e mais nove candidatos. 

Conforme apurou a reportagem do Site Negrê, o então presidente ordenou que a proibição do acesso da população às redes de mídias sociais, tais como Facebook, Instagram, Twitter, Whatsapp e Youtube. Dessa forma, a dificuldade maior em obter atualizações sobre o que vem ocorrendo em Uganda. O que está ocorrendo é uma espécie de apagão.

A Netblocks, entidade que faz monitoramento da conectividade de Internet em Uganda, informou que a maioria das redes sociais deixou de funcionar na terça-feira, 12, incluindo o Twitter, Facebook, WhatsApp, Instagram e Viber. Para dar visibilidade ao que vem ocorrendo, africanos estão se manifestando nas redes sociais com a hashtag #WeAreRemovingADictator.

Um dos mais conhecidos defensores de direitos humanos em Uganda relata que a situação da capital, Kampala, está em clima “apreensivo”. “Não parece que o país vai para uma eleição. Parece que o país está em guerra”, dispara Nicholas Opiyo. Muitas famílias mandaram seus parentes para o interior e para fora de Uganda.

Oposição

Mais conhecido pelo seu nome artístico Bobi Wine, o principal opositor de Museveni veio ganhando popularidade nos dois últimos anos. Em protestos da população na rua durante campanha política – marcada por violência –, Wine foi preso e teve até que suspender sua candidatura no último dia 2 de dezembro para evitar mais conflitos, prisões e mortes. 

Wine denunciou pelo Twitter que, durante entrevista à uma rádio, teve sua casa invadida por policiais na última terça-feira, 12. Além disso, a empresa responsável pela segurança da residência do candidato recebeu instruções para encerrar as atividades de proteção.

Violações

Bobi Wine publicou tweets nesta quinta-feira, relatando o que vem ocorrendo nas últimas horas no país. “Como o da minha esposa, meu telefone foi bloqueado e não consigo receber ou fazer ligações regulares. Eu sei que isso é para me impedir de me comunicar com nossos agentes e coordenadores. Encorajo vocês, camaradas, a estarem vigilantes enquanto tento encontrar maneiras de chegar até vocês”, disse.

Além da proibição do acesso às redes sociais durante o período eleitoral, a mídia local foi censurada – uma violação do direito de acesso à informação – pela presidência. E os militares foram enviados para as ruas a fim de “manter a ordem” durante processo de votação, segundo noticia o portal DW.

Saiba quem é o principal opositor

Artista e empresário, Bobi Wine se filiou ao Partido de Unidade Nacional (NUP) em 22 de julho deste ano e é candidato a presidente nas eleições de 2021. A declaração oficial foi feita no dia 24 de julho de 2019. Wine entrou na política em abril de 2017 e, desde então, tem inspirado a juventude ugandesa dentro das campanhas políticas que vem atuando. Além disso, sua própria campanha de porta em porta tem chamado atenção da comunidade internacional.

O opositor Bobi Wine, 38. Foto: Getty Images/SOPA Images.

Para além de sua carreira artística, em 2018, Wine ganhou um pouco mais de visibilidade e reconhecimento público ao apoiar a vitória de candidatos que fizeram campanha nas eleições parciais contra candidatos do partido Movimento de Resistência Nacional (MRN) e o partido de oposição, Fórum para Mudança Democrática (FMD). Isso fez com que ele tivesse mais apoio popular, vindo principalmente dos jovens. No entanto, Wine já foi torturado, de acordo denúncias locais.

Desde 2019, foi preso várias vezes. Ele foi denunciado por estar a frente de protestos contra a taxa de mídia social (em vigor desde julho de 2018) e acusado ainda de desobediência civil. Na prisão ocorrida em 2 de maio, a Anistia Internacional resolveu interferir e solicitar ao governo de Uganda a soltura de Wine. E com isso, ele recebeu fiança e foi proibido pelo tribunal a continuar liderando manifestações determinadas como ilegais. 

No último dia 30 de dezembro, Bobi Wine foi detido novamente pela polícia local. Em meio às violações, sem dúvidas, estas é uma das eleições presidenciais mais concorridas em toda a história e contexto político de Uganda.

*Com informações do portal DW

Foto de capa: Sumy Sadurni.

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