Bahia

A presença das mulheres negras no empreendedorismo baiano

As mulheres negras representam 17% dos empreendedores do país e ganham menos do que os outros grupos, de acordo com um relatório especial do Sebrae divulgado em 2019. R$ 1.384,00 é o valor mensal recebido pelas empreendedoras negras e corresponde a apenas metade do rendimento das empreendedoras brancas, que chega a R$ 2.691,00. Na contramão das estatísticas desestimulantes, histórias de mulheres negras que empreendem na Bahia servem para impulsionar quem está começando ou quer iniciar a jornada empreendedora.

“Não me dava conta que era empoderada. Comecei a me envolver e entendi que precisava não apenas vender, mas agregar valor por causa das minhas referências que são minha mãe e minhas irmãs. As minhas bolsas representam a minha mudança interna, essa força que não tinha consciência que estava em mim. Eu não queria ser estatística, queria ser diferente e consegui”, afirma Leilane da Silva, proprietária da Enaliel Bolsas (@enaliel_bolsas), que começou a vender de porta em porta em Salvador há 11 anos e hoje tem um ateliê na própria casa. Suas peças trazem desenhos de rostos de mulheres pretas estampados em bolsas, mochilas e pochetes que têm feito sucesso na internet, até mesmo durante a pandemia do novo coronavírus.

Assim como Liliane, contrariando as estatísticas, Maili Santos viu nascer por acaso a profissão que a levaria ao universo do empreendedorismo. Depois de bordar roupas por anos e fazer desenhos nas unhas clientes na época de manicure, se encontrou como maquiadora especialista em pele negra e fez nascer, ao lado do companheiro e sócio Edilton Lopes, o Studio Móvel Maili Santos (@studiomovelmailisantos). Um detalhe importante: propositalmente, a palavra móvel da marca faz alusão à necessidade especial de Maili: o uso da cadeira de rodas. 

Maili Santos

“No ramo da beleza, há uma certa incredulidade no trabalho de uma mulher com deficiência e isso é um desafio na área. Há um avanço no comportamento e na tecnologia mas ainda há também uma luta muito grande para quem quer entrar nesse ramo, como as questões financeiras”, pontua a empreendedora que tem, entre seus objetivos, formar maquiadoras negras para o mercado de trabalho. Nesse momento de distanciamento social, já que o contato próximo está proibido e é fundamental para a realização do seu trabalho, ela tem dado foco em outros sonhos: o de ser palestrante e embaixadora de marcas de beleza.

Empreender por necessidade

E quando o sonho é, na verdade, ter uma profissão e a veia empreendedora é capaz de ajudar a realizar? Foi o que aconteceu com a advogada Eveline Santos, proprietária da Eva Sex Shop (@sexshop.eva). Ela começou com a venda de produtos eróticos em pequena quantidade para garantir uma renda extra e continuar na faculdade de Direito. Formada e com especialização, tornou-se tornou professora universitária, mas a decepção com a hegemonia branca na advocacia a fez apostar no que garantiu os seus estudos no passado. Investiu na marca e chegou até a abrir uma loja que tempos depois, por causa de uma crise, precisou ser fechada. 

“No momento difícil surgiu uma oportunidade. Foi quando criei um site e decidi me dedicar a expandir meu negócio como e-commerce. Deu tão certo que quando a quarentena começou, eu já estava pronta pra guerra sem saber. Minhas vendas dispararam e como eu já tinha as expertises pra lidar com o mercado virtual, criei conteúdos e serviços especiais para o meu público de redes sociais e clientes”, comemora Eveline.

Cada história revela a capacidade que a mulher negra tem de criar, inovar e superar desafios para conquistar seus espaços no universo empreendedor. “Persistência, conhecimento, coragem e buscar se qualificar para oferecer sempre o melhor. Aprenda a transformar o que for negativo em combustível para você ter sempre o positivo”, finaliza a maquiadora Maili.

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