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A verdadeira história de perseguição sofrida por Billie Holiday

A polícia estadunidense tem um histórico de perseguição a negros considerados subversivos. Foi assim com líderes como Martin Luther King, Malcolm X, Fred Hempton (líder dos Panteras Negras em Chicago), e com muitos artistas como Nina Simone, Sam Cooke, Jim Brown, Muhammad Ali e também com Billie Holiday. Muitos anos depois da morte de alguns desses líderes, foi revelado que o FBI tinha um programa secreto que vigiava esses e outros nomes no projeto Cointelpro, que tinha o objetivo de expor, desestabilizar, desacreditar e neutralizar as atividades de organizações nacionalistas negras e grupos de ódio. 

A partir da revelação dos segredos do FBI, muitos filmes passaram a ser produzidos mostrando a trajetória desses ícones do movimento negro estadunisense e a perseguição da polícia, que levou à morte de alguns deles. No filme Estados Unidos vs Billie Holiday (2021), mais uma história de sofrimento é contada.

Foto: Divulgação.

Billie Holiday foi uma grande cantora afro-americana dos anos 40 e 50, quando ganhou popularidade com sua voz e a interpretação extremamente emocional de clássicos do blues e do jazz. No auge da segregação racial nos Estados Unidos, Billie tinha fãs não somente entre as pessoas negras, como também entre os brancos.

A trajetória da artista não foi fácil. Nascida na Filadélfia, a então Eleanora Fagan foi abandonada pelo pai, um guitarrista de jazz. Em Nova York, foi morar na casa em que sua mãe trabalhava como doméstica, mas acabou descobrindo tratar-se de um bordel. Ali, Billie começou a se prostituir, pois a própria mãe deu um ultimato: ou se tornava prostituta ou ia embora do bordel.

Mas foi em 1939, ao interpretar a canção Strange Fruits que Billie se tornou uma das mais famosas cantoras afro-estadunidenses, mas também alvo do FBI, que usava como desculpa para vigiá-la seu abuso de drogas.

A canção que a colocou como alvo tornou-se um hino pela luta dos direitos civis, pois foi escrita depois que Holiday presenciou um linchamento de negros numa árvore. As estranhas frutas narradas pela canção são os corpos negros que foram pendurados, enforcados ou linchados pela branquitude.

Em 1937, o Senado dos EUA analisava um projeto de lei que proibia o linchamento de afro-americanos, mas não foi aprovado até hoje. Porém, a lei foi aprovada na Câmara com o nome de Emmett Till, adolescente negro de 14 anos que foi linchado em 1955, no Mississipi, apenas porque olhou para uma mulher branca. 

O vício de Billie em heroína dava à polícia uma “desculpa” para persegui-la. A cantora se envolveu com muitos homens cruéis ou que usavam drogas. Eles a incentivavam a abusar das drogas, a assediavam e a agrediam, inclusive publicamente

Foto: Divulgação.

Em 1947, a polícia finalmente conseguiu prender Billie por oito meses e cassar sua licença para continuar cantando. Ao sair da cadeia, a carreira da artista estava praticamente acabada, mas ela passou a cantar em pequenos bares e casas de espetáculo. Mesmo assim, ela continuou a ser vigiada pela polícia, que tentou por diversas vezes incriminá-la, inclusive em seu leito de morte, onde ficou algemada até morrer.

A canção Strange Fruits

A música foi escrita por um professor judeu que vivia em Nova York e viu pela primeira vez uma foto de dois jovens negros linchados com seus corpos pendurados nas árvores. Confira a tradução da letra:

As árvores do Sul estão carregadas com um fruto estranho,

Sangue nas folhas e sangue na raiz,

Um corpo negro balançando na brisa sulista

Um estranho fruto pendurado nos álamos. 

Uma cena pastoral no galante Sul,

Os olhos esbugalhados e a boca torcida,

Perfume de magnólia doce e fresca,

Então o repentino cheiro de carne queimada! 

Aqui está o fruto para os corvos arrancarem,

Para a chuva recolher, para o vento sugar,

Para o sol apodrecer, para as árvores fazerem cair,

Aqui está uma estranha e amarga colheita.”

Confira o trailer:

Ficha técnica

Estados Unidos vs. Billie Holiday
Ano: 2021
País de origem: Estados Unidos
Duração: 130 minutos
Classificação indicativa: 16 anos
Gênero: Biografia, Drama e Música
Direção: Lee Daniels
Roteiro: Johann Hari
Elenco: Andra Day, Garrett Hedlund, Natasha Lyonne, Trevante Rhodes, Tyler James Williams, Alain Goulem, Alex Bisping, Alika Autran, Arthur Holden, Blake DeLong, Damian Joseph Quinn
Disponível: Amazon Prime Vídeo

Foto de capa: Divulgação.

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