A maioria dos jovens negros, especialmente do sexo masculino, já deve ter ouvido dezenas de orientações de suas mães ao sair de casa. Indicações, como “leva o documento”, “não corre”, “fica longe de brigas”, entre outras que são recorrentes vindas de mães que sabem como o racismo tem força o suficiente para violentar pessoas de cor. E é sobre uma mãe negra e a angústia de não saber a localização de seu filho negro que trata o filme American Son (2019), adaptação da Broadway estrelada por Kerry Washington (Scandall).
No meio de uma tempestade, à noite, a professora Kendra Ellis (Washington) está numa delegacia em Miami (EUA), buscando notícias sobre o paradeiro de seu filho, Jamal. Ela busca informações com um policial novato, branco, que não pode lhe dar informações, devido ao protocolo. Kendra sofre todo o tipo de racismo por parte do policial, que lhe faz questionamentos estereotipados sobre a aparência de seu filho. Perguntas sobre ele possuir apelidos das ruas ou ter tatuagens e dentes de ouro.
Desesperada, sozinha e sem informação, ela só pode aguardar até que o tenente responsável apareça para responder suas dúvidas e esclarecer o que houve com Jamal, que até então, permanece desaparecido.
A atuação de Kerry Washington é excelente, ela está em todas as cenas e, na maioria das vezes, está praticamente num monólogo. É quando seu ex-marido chega a delegacia. Scott Connor (Steven Pasquale) é um homem branco, agente do FBI e tem um tratamento diferente do que foi dado à Kendra. Ele exige informações e consegue muito mais do que ela conseguiu durante todo o tempo em que permaneceu na delegacia.
O casal interracial traz para a tela discussões sobre a relação pai e filho, especialmente pelo fato do pai ser um homem branco que pouco ou nunca incentivou o filho a compreender a questão racial. E, como ocorre algumas vezes, acredita que o racismo não existe e que a violência policial é justificada.
O filme é tenso do início ao fim e o telespectador compartilha a mesma angústia de Kendra, afinal, onde está Jamal e o que lhe ocorreu? Pela tensão do filme e a reação do policial Paul Larkin (Jeremy Jordan) e do Tenente John Stokes (Eugene Lee), conseguimos ter uma ideia ou pelo menos especular as diversas possibilidades de ações que podem ter acontecido ao estudante Jamal; afinal, estamos acostumados com essas situações na vida real.
Segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2020, 8 em cada 10 pessoas mortas pela polícia em 2019 eram negras. 99% delas eram homens. 23% tinham menos de 19 anos, 31% tinham menos de 24 anos e 19% tinham menos de 29 anos.
Além da angústia da desinformação, os pais de Jamal discutem a relação familiar, a violência policial e o racismo. O filme apresenta apenas quatro atores em apenas um cenário, repetindo a métrica utilizada no teatro. Os atores também são os mesmos que interpretaram os personagens na peça da Broadway.
Confira o trailer:
Ficha técnica
American Son
País de origem: Estados Unidos
Ano: 2019
Duração: 90 minutos
Direção: Kenny Leon
Produção: Kenny Leon, Kristin Bernstein, Christopher Demos-Brown
Roteiro: Christopher Demos-Brown
Elenco: Kerry Washington, Steven Pasquale, Jeremy Jordan, Eugene Lee
Disponível: Netflix
Foto de capa: Divulgação.
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Formada em Jornalismo e com especialização em mídias digitais, a baiana tem dedicado sua carreira ao mercado audiovisual há oito anos, quando iniciou na área. Já atuou como produtora executiva em obras para a televisão e em diversas funções dentro da produção de uma obra. Apaixonada por filmes e séries, se considera uma viciada que assiste mais de seis obras por semana.