O Projeto Dandara, liderado pela empresa de cosméticos Natura, surgiu com a intenção de realizar um mapeamento sobre o bem-estar da mulher negra através de uma abordagem psicossocial para gerar indicadores e insights de conceito/marca e de intervenções de bem-estar. Para alcançar os resultados, o projeto foi conduzido em três fases.
Na primeira fase, foi realizado uma oficina sobre o bem-estar da mulher negra. A área de Ciências do Bem-estar da Natura promoveu uma série de palestras ministradas por seis líderes acadêmicos e especialistas em letramento racial para mais de 300 participantes da Natura em julho de 2022.
Os principais temas abordados foram:
● O eurocentrismo e sua influência na formação da sociedade brasileira;
● Mulheres negras e suas contribuições, por vezes historicamente apagadas;
● O lugar do corpo para as mulheres negras;
● Aspectos culturais e sociais e suas influências nas vivências de uma mulher negra;
● O feminismo para a mulher preta;
● Os estereótipos sobre a mulher preta.
A segunda fase prosseguiu com uma pesquisa qualitativa com Consultoras de Beleza Natura negras em Salvador (BA), em novembro de 2022, com o objetivo de investigar os hábitos e o bem-estar da mulher negra. Foram realizadas entrevistas individuais e um evento de 2 dias com dinâmicas e rodas de conversa. Foram identificados aspectos importantes sobre a autoimagem, a dor gerada pela estética do embranquecimento e o processo de aceitação e ressignificação de suas identidades.
Na terceira e última fase, foi conduzida uma pesquisa quantitativa com mais de 1.000 mulheres, com questionários sobre 11 dimensões do bem-estar da mulher negra e insights para o desenvolvimento de produtos. Foram feitas perguntas para as entrevistadas sobre saúde mental, qualidade de vida, valores humanos, autoestima, resiliência, gratidão, otimismo, satisfação com a vida, garra, forças pessoais, emoções positivas e negativas e hábitos de uso de cosméticos.
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Abaixo estão alguns dos principais aprendizados da terceira fase:
● As mulheres do Sudeste apresentam melhor qualidade de vida em relação ao ambiente em que vivem e maior satisfação com a vida do que as mulheres residentes do Nordeste;
● As mulheres com pele mais retinta apresentam maiores níveis de bem-estar psicológico e de autoestima do que as com pele mais clara;
● As mulheres com pele mais retinta apresentam menos emoções negativas do que mulheres com pele mais clara;
● As mulheres com pele mais retinta apresentam maior autoestima do que mulheres com pele mais clara;
● As mulheres com pele mais retinta são mais resilientes do que mulheres com pele mais clara;
● As mulheres com pele mais retinta são mais otimistas do que mulheres com pele mais clara;
● As mulheres com pele mais retinta apresentam mais gratidão do que mulheres de pele mais clara.
A partir dos dados acima, é possível estabelecer as seguintes hipóteses:
● O racismo estrutural da sociedade incentiva o não-reconhecimento da própria negritude e, assim, pessoas autodeclaradas pardas, muitas vezes, passam por um processo de se descobrirem negras; o que difere totalmente da vivência de pessoas retintas.
● A sensação de “não-lugar” é relatada por muitas pessoas que se autodeclaram pardas: por um lado, pessoas negras de pele clara têm mais vantagens sociais do que pessoas negras retintas, por outro, elas não são vistas pela sociedade como brancas. Apesar de ter uma pele clara, essas pessoas não são lidas como uma “pessoa padrão” porque a maioria delas têm traços majoritariamente negroides.
● A resiliência é explicada por ela automaticamente reconhecer seu lugar – ela não tem mobilidade social: a mulher se torna forte, guerreira e precisa utilizar a “máscara” de otimista, como um mecanismo de sobrevivência à sociedade.
Confira a campanha do Negrê:
Foto de capa: Divulgação.
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