Som de Preto

Conheça Slipmami e seu flow de “bad bitch energy”

A cantora Slipmami, 20, lança sucessos desde suas primeiras aparições. O single “Acha que a vida é um morango” viralizou no TikTok e seu primeiro EP  “Gostosa Posturada” com o hit “Potranca” reproduziram bem a mensagem e a estética que a carioca quer passar.

Natural de Vila Urussai, em Duque de Caxias (RJ), e com vários vulgos, podendo ser chamada de Malvadeza e Trem balinha da VU, foi primeiro reconhecida como “Slipknstot”, por gostar da banda de rock Slipknot e seu trabalho com shit-rap (literalmente um tipo de rap que fala bobagens) no Soundcloud e no YouTube.

Afro-gótica romântica

O estilo de Slipmami une referências de afropunk, sendo uma gótica suave que investe na sensualidade e cria um mix de death rock – como as botas plataforma, os acessórios como a gargantilha com spikes e os piercings – e romântico – quando combina o rosa e estampas girlie e resgata tendências dos anos 2000, com o corset e saia cintura baixa.

Hoje, a cantora assina com o selo Heavy Baile Sounds, e suas influências partem dos hits de flashback internacional dos anos 80 e 90 que cresceu ouvindo. Depois, conheceu o emocore, cujas temáticas e estéticas tipo “nerd gostosa sentimental” ainda se entrelaçam com as vivências de mulher negra.

Apresentando uma personalidade empoderada e muito autoconfiante, suas letras causam essa “bad bitch energy”, como Tasha e Tracie, N.I.N.A e Ebony, que estão tomando conta do rap e trap nacional em 2022. Essa cena promove autoestima e sentimento de pertencimento e capacidade para meninas, principalmente as negras, sendo referência de autenticidade e postura.

Foto: Fernando Schlaepfer.

“Tu é preta que nem eu, beleza rara que nem eu, trança o cabelo que nem eu, sofre racismo que nem eu, é gostosa que nem eu, mas a melhor sou eu” 

Empoderamento sexual

Também chama atenção a forma com que Slipmami defende sua liberdade sexual e se impõe perante aos homens. É interessante como ela enfrenta o machismo muito presente no meio do rap quando declara “gosto de transar tanto quanto um homem, talvez até mais o tesão me consome” no single Me dá dinheiro ou me faz gozar, e ainda desafia “estuda anatomia se for sujeito homem”. 

Ela fala explicitamente sobre sexo e desejo, coisas que são encontradas na grande maioria das músicas, objetificando o corpo da mulher e exaltando apenas o prazer masculino. Slipmami vem mostrando que muheres também gostam de gozar e podem falar sobre sexo, sem perder a postura ou ter seu trabalho desmerecido por isso.

Foto: Fernando Schlaepfer.

“Palmiteira”?

Aka Malvadeza também vira alvo de críticas por namorar o modelo branco Alan Gabriel. Acusam a artista de palmitagem, preferência de pessoas negras em se relacionarem com pessoas brancas. Na verdade, a palmitagem é uma consequência do ódio a si mesmo promovido pelo racismo estrutural. Não que esse seja o caso de Slipmami, pois em suas letras ela mostra a valorização da negritude. Ainda que não mostrasse, não cabe a ninguém criticar ou condenar uma mulher negra que encontrou afeto nos braços de quem quer que seja.

O namorado da cantora já participou de alguns clipes, como “Novinho” e o trecho “ele rendeu pra mim e eu vi que ele é branco, não gosto de apartheid, esse branquinho eu tanko” é visto como o “hino da palmitagem”. A rapper também leva com leveza o assunto, usando expressões como “meu pequeno deuso africano” em posts com Alan no Instagram.

Foto: Reprodução/Twitter.

De qualquer forma, a Trem Balinha da VU sabe que com ela não tem essa de disputa, e cada vez mais está sendo reconhecida por seu trabalho acima de todas as polêmicas. É interessante pensar que se fosse um homem agindo como ela age, falando sobre sexo, se relacionando com quem quer e assumindo uma postura autoritária, seria levado com tanta naturalidade que passaria despercebido. Mas ela não, ela sabe que a vida não é um morango.

O último lançamento de Slipmami foi o single e clipe “Oompa Loompa”, com participação de Leo Justi e LARINHX, que já soma mais de 1,6 milhões de visualizações no YouTube e mais de 1,9 milhões de streams no Spotify.

Atualmente, Slipmami prepara os slipbabies – como chama seus fãs – para o lançamento do primeiro álbum de estúdio, que estará disponível em outubro.

Foto de capa: Fernando Schlaepfer.

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