Arquivo Negrê Atlântico

Hoje, 18 de julho, comemora-se o Dia Internacional de Nelson Mandela

Conheça a trajetória de um dos líderes da luta anti apartheid na África do Sul

Um dia para lembrar a história de Nelson Mandela (1918-2013). Estabelecido pela Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) em novembro de 2009, 18 de julho é tido como Dia Internacional de Nelson Mandela (Mandela Day). Ex-presidente e primeiro presidente negro da África do Sul, Mandela também foi líder do movimento contra o Apartheid (1948-1994), considerado terrorista, condenado à prisão perpétua e libertado em 1990, graças à pressão internacional. Mandela também recebeu, em 1993, o Prêmio Nobel da Paz, em reconhecimento à sua luta contra o regime de segregação racial.

Infância, juventude e formação

Nelson Mandela nasceu em Mvezo, na África do Sul, em 18 de julho de 1918. Parte de uma família de nobreza tribal, da etnia Xhosa, quando nasceu recebeu o nome de Rolihiahia Dalibhunga Mandela. Foi quando ingressou na escola primária, em 1925, que recebeu da professora o nome de Nelson, em homenagem ao Almirante Horatio Nelson (1758-1805), um antigo oficial da Marinha Real Britânica, famoso por ganhar diversas batalhas nas Guerras Napoleônicas (1803-1815). Essa renomeação, por parte da professora, seguiu um costume de dar nomes ingleses às crianças escolarizadas na África do Sul.

O pai de Mandela morreu muito cedo, quando Nelson tinha apenas nove anos de idade. Após a morte do pai, ele foi levado para a vila real, onde ficou aos cuidados do regente do povo Tambu. Nelson, mais tarde, entrou na escola preparatória de Clarkebury Boarding Institute, um colégio exclusivo para negros. Lá, ele estudou a cultura ocidental até que fosse ser interno no Colégio Healdtown.

Mandela estudou Direito na Universidade de Fort Hare, primeira instituição acadêmica da África do Sul a ofertar cursos para estudantes negros, onde ingressou no ano de 1939. Envolvido com protestos no movimento estudantil, Mandela acabou sendo perseguido dentro da Universidade e foi obrigado a abandonar a graduação. Após esse episódio, mudou-se para Joanesburgo (Joburg), onde se deparou com uma forte segregação racial. Concluiu, em 1943, o bacharelado em Artes pela Universidade da África do Sul, em Pretória, a 69 quilômetros de Joburg. Também continuou, por correspondência, os estudos de Direito pela Universidade de Fort Hare, onde, anos mais tarde, receberia o título de Doutor Honoris Causa, em um esforço de compensar a sua expulsão.

A luta contra o Apartheid

Fundamentados em uma leitura equivocada da teoria darwinista de evolução das espécies, do naturalista britânico Charles Darwin (1809-1882), os europeus produziram, durante o período neocolonial do século XIX, um discurso pseudocientífico que estabelecia graus hierarquizados de evolução e civilidade dentro da espécie humana. Dentro desse discurso, o homem branco europeu representava o mais alto grau de evolução, enquanto os negros africanos estavam na base dessa hierarquia.

Esse modo de pensar o mundo e pensar o próprio grau de humanidade entre os diferentes povos foi o que fundamentou teoricamente os diversos tipos de violência praticadas com base em critérios raciais. Na esteira dessas ideologias, os europeus executaram leis que sustentaram o regime de segregação racial (Apartheid) durante 46 longos anos. Esse conjunto legal proibia o casamento interracial, obrigava o registro da raça em alguns documentos oficiais, estabelecia regras rigorosas de separação entre negros e brancos em diversos sentidos — moravam em áreas distintas e o acesso às escolas, aos hospitais,  às praças e aos outros serviços era, deliberadamente, diferenciado pela cor.

O regime de Apartheid e de precarização dos serviços direcionados aos negros gerou uma série de mortes e massacres da população negra na África do Sul. Como todo regime de opressão, houve também forte resistência. Homens negros e mulheres negras lutaram pelo fim da segregação racial. Mandela foi um dos mais notáveis líderes da luta contra o Apartheid. Junto a Walter Sisulo (1912-2003) e Oliver Tambo (1917-1993), Mandela fundou, em 1944, a Liga Jovem do Congresso Nacional Africano, que veio a ser o principal espaço de representação política dos negros sul-africanos.

A prisão

No curso da década de 1960, durante a ebulição de diversos movimentos pela descolonização do Continente Africano, várias lideranças negras foram perseguidas, presas, torturadas, condenadas ou assassinadas, sob a acusação de ameaça à ordem e à segurança do país. Nesse contexto, estigmatizado como um terrorista, Mandela foi preso, tendo sido condenado à prisão perpétua em junho de 1964. Com o avanço dos movimentos por liberdade, independência e descolonização, a pressão internacional se intensificou e cresceu sob a forma de condenação do regime do Apartheid. Em 11 de fevereiro de 1990, o presidente da África do Sul, Frederik de Klerk, libertou Mandela, após 26 anos de cárcere.

Na saída da prisão, Mandela proferiu um discurso dirigido ao país, clamando por reconciliação. Foi durante esse discurso que ele disse as seguintes palavras: “Eu lutei contra a dominação branca e lutei contra a dominação negra. Eu tenho prezado pelo ideal de uma sociedade democrática e livre, na qual todas as pessoas possam viver juntas em  harmonia e com iguais oportunidades. É um ideal pelo qual eu espero viver e que eu espero alcançar. Mas caso seja necessário, é um ideal pelo qual eu estou pronto para morrer”.

Mandela presidente!

Após a saída da prisão, Mandela e o presidente começaram a trabalhar em uma nova Constituição Sul-Africana, assinada em 1993. Esse documento pôs o fim institucional aos mais de 300 anos de dominação política de uma elite minoritária branca, abrindo caminho para uma tentativa de implementar um regime democrático multirracial na África do Sul. Esse documento também rendeu, no mesmo ano, um Prêmio Nobel da Paz aos dois, pela luta por direitos civis e humanos no país.

Com os caminhos constitucionalmente abertos e depois de extensas negociações, Mandela ajudou a organizar a realização das primeiras eleições multirraciais em abril de 1944. Seu partido venceu e Nelson Mandela se tornou presidente da África do Sul. Com maioria no parlamento, o seu governo aprovou uma série de leis em busca de reparação aos negros após o longo período de opressão. Mandela governou até 1999 e conseguiu eleger seu sucessor. Em 2006, recebeu um prêmio da Anistia Internacional por sua luta pelos direitos humanos.

Vida familiar e morte

Mandela se casou com a enfermeira Evelyn Ntoko Mase (1922-2004), em 1944, com quem teve duas filhas e dois filhos. O casal se separou em 1958 e, no mesmo ano, casou-se com a militante anti Apartheid e companheira de luta, Winnie Madikizela (1936-2018), com quem teve mais duas filhas. O casal se separou em 1995. Em 1998, casou-se com Graça Machel, com quem se mudou para o pequeno vilarejo de Qunu, em 1999, ao fim do mandato de Mandela como presidente. Lá, juntos, criaram uma fundação em defesa dos direitos humanos.

Nelson Mandela faleceu em Joanesburgo, na África do Sul, em cinco de dezembro de 2013, vítima de uma infecção respiratória. Na ocasião de sua morte, a África do Sul decretou estado de luto e realizou uma cerimônia com a presença de importantes líderes mundiais.

Foto de capa: Reprodução.

LEIA TAMBÉM: Mais de 70 anos da instauração de uma ditadura de segregação racial

Compartilhe: