O espetáculo “O Pregador – Teatro-Fórum Antirracista”, da Cia de Teatro da UFBA, tem estreia marcada para os próximos dias 25 e 26 de julho no Teatro Martim Gonçalves, em Salvador, integrando o Melanina Acentuada Festival, com ingressos a valores acessíveis. A peça, mesmo após a participação na programação do festival, continua em cartaz gratuitamente de 30 de julho a 18 de agosto – de terça a domingo.
A montagem – dirigida por Licko Turle, que divide o processo coletivo de dramaturgia ao lado da carioca Helen Sarapeck – traz a personagem Clara do Anjos, heroína negra que tenta fugir do destino trágico, impingido aos corpos negros pela sociedade racista. A personagem, que acaba de se formar em direito, participa de uma entrevista de emprego para advogada e acaba sofrendo racismo, tendo que aceitar uma vaga de auxiliar jurídico da Padrão Global Sociedade Anônima, de propriedade do Dr. Jones!
Com co-realização da Pele Negra – Escola de Teatros Pretos, da Cooperativa Baiana de Teatro e da Cia Estupor de Teatro, “O Pregador” utiliza a técnica do Teatro-Fórum de Augusto Boal para quebrar a quarta parede e convocar o espectador a interferir na história da personagem a partir de suas próprias vivências.
“Ao propor essa poética, Boal nos faz perceber que as opressões vivenciadas por Clara dos Anjos não são pessoais, são de todo o povo preto”, declara Licko Turle.
A encenação, nada realista, magnifica as relações Opressor X Oprimido, de forma a demonstrar a imensa violência estrutural produzida pela sociedade racista. O público é parte fundamental na construção do discurso e desenvolvimento da obra, dividida em três etapas.
Na primeira, os espectadores são estimulados pelo elenco por meio de jogos e exercícios teatrais. Em seguida, conforme característica do Teatro-Fórum, é apresentado o “antimodelo”, ou seja, “a realidade social que não queremos”. A terceira e última, o espectador se transforma em “espect-ator” e entra em cena para transformá-la.
Juventude
Durante a temporada, as apresentações de terça a quinta, às 15h, serão voltadas aos jovens e adolescentes da rede secundária e estadual de ensino. Segundo o produtor executivo do espetáculo, Luiz Antônio Sena Jr., esta ação tem por objetivo fortalecer a Lei 10.639, que estabelece as diretrizes de obrigatoriedade do ensino da “História e Cultura Afro-Brasileira”.
“Para isso, antes das apresentações e através de um trabalho de mediação cultural, estamos a percorrer as instituições de ensino com a realização de oficinas sobre o Teatro do Oprimido e Negritude. Desta forma, ao chegarem as sessões, esses estudantes estarão preenchidos de discursos que podem vir a transformar o contexto dramatúrgico e social”, ressalta Luiz Antônio, ao acrescentar que a mediação cultural é desenvolvida pela artivista Silara Aguiar.
Arte Preta
O PREGADOR – Teatro-Fórum Antirracista é o quarto espetáculo da Cia de Teatro da UFBA com tema, direção, elenco e equipe de criação de pessoas negras. Selecionados por meio de audição pública realizada em maio na programação do seminário “Meu Caro Amigo … Augusto Boal”, o elenco é composto Taiana Lemos, Leo Moreira, Dinah Pereira e Licko Turle como Curingas e os atuantes Anna Pires, Emille Barbosa, Kayk Souza, Ludimila Agostinho, Luisa Rodrigues, Matheus Zola, RAIO, Taíse Paimn, Thaísa Nascimento e Thalia Anatália.
Integram a equipe de criação a preparadora vocal Manuela Rodrigues, o diretor musical Luciano Salvador Bahia, a diretora de movimento e coreógrafa Edileuza Santos, a consultora em ancestralidade e preparadora de elenco Onisajé. Na parte técnica, a iluminação é assinada por Nando Zâmbia, a visualidade é de Cachalote Matos, e a direção de produção de Luiz Antônio Sena Jr. “O Pregador” conta ainda com a assistência de dramaturgia de Júlia Batista e a consultoria psicológica e de negritude de Cassia Maciel.
A montagem é a sexagésima obra da Cia de Teatro da UFBA e primeira a utilizar as técnicas do Teatro do Oprimido e do Teatro-Fórum. “É importante que a Cia de Teatro da UFBA continue a se colocar como um grande laboratório cênico onde o fundamental é pesquisar outras formas do fazer teatral, não ortodoxas e eurocêntricas. A Cia sempre exerceu um papel pedagógico e vanguardista, queremos potencializar isso com ‘O Pregador’”, reforça o diretor e dramaturgo.
Licko Turle destaca que, o Teatro do Oprimido configura-se como um amplo campo de investigação que se estende para além da esfera propriamente artística e alcança o patamar educacional, de formação não somente de atores, mas, também, de não atores ‘com vontade de dizer algo através do teatro’.
A obra tem em seu subtítulo o descritivo “Teatro-Fórum Antirracista”, escolhido propositalmente pelo diretor e curinga do espetáculo, Licko Turle, para debater o racismo e marcar os 15 anos da morte de Augusto Boal (2009) – com quem trabalhou e criou o Centro de Teatro do Oprimido no Rio de Janeiro em 1986. Além desta homenagem a Boal, a obra é uma grande homenagem às mulheres pretas, “que lutam todos os dias contra o racismo e o machismo”, e ao Bloco Ilê Ayé, pelos seus 50 anos de luta antirracista.
Serviço
O quê – “O Pregagor – Teatro-Fórum Antirracista”, espetáculo da Cia de Teatro da UFBA, em Salvador
Quando – 25 de julho a 18 de agosto (terça a quinta, 15h; sexta e sábado, 19h; e domingo, 18h)
Onde – Teatro Martim Gonçalves (Canela – Escola de Teatro da UFBA)
Entrada – Gratuita
Foto de capa: Leonardo Moreira
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