Duas amigas com personalidades totalmente diferentes quando se trata de relacionamento afetivo, vivem as maiores loucuras da vida de solteira. Parece a sinopse de mais uma comédia romântica norte-americana, mas estamos falando do filme Solteiramente (2020), a nova produção sul-africana lançada pela Netflix.
No filme, acompanhamos as melhores amigas Dineo (Fulu Mugovhani) e Noni (Tumi Morake), personagens um tanto clichês, mas fáceis de se identificar e criar torcida. Dineo é a amiga obcecada por estar apaixonada, entrando e saindo de romances que ela acredita que são para sempre. Por outro lado, Noni é aquela que não quer envolvimento. Para ela, mais de uma noite com um mesmo parceiro significa relacionamento e ela evita o tempo inteiro.
As duas personagens são levadas a mudar seus conceitos, como uma espécie de aprendizado ou moral da história, pretendida pelo filme. A narrativa direciona Dineo ao entendimento que nem sempre precisa estar com um parceiro romântico para estar bem e que, muitas vezes, ela se colocou em relacionamentos baseados em mentiras e anulação, apenas para estar com alguém. Enquanto Noni, engata um relacionamento com o dono de um bar que ela sempre frequenta, descobrindo que pode estar apaixonada e continuar sendo independente e feliz.
Apesar de repetir a fórmula dos clichês em comédias românticas norte-americanas, o que chama atenção em Solteiramente é que o ponto chave não é o romance, mas a amizade e o amor próprio. E a diferença de visão das amigas é que faz o filme ser interessante e engraçado. Ainda assim, o filme tem falhas no discurso do empoderamento, como apresentar uma mulher independente apenas como baladeira e que possui muitos parceiros.
Solteiramente não é uma super comédia, especialmente por se prender demais ao formato dos filmes de Hollywood. O longa tenta ser global e, por isso, vemos pouco das referências africanas. São poucos os cenários e em nenhum deles, temos externas que identifiquem a África do Sul, e não estamos falando em mostrar a pobreza, mas de um reconhecimento que não é possível, devido a necessidade de internacionalização pretendida pelo filme. Mas é compreensível, uma vez que a maioria das plataformas e canais de exibição, geralmente esperam que a produções tenham o mínimo de identificação regional, para torná-lo universal e mais fácil de agradar a todos os públicos.
Mas vale a pena assistir?
Apesar do clichê, vale a pena assistir ao filme e dar boas gargalhadas com as personagens, especialmente Noni. Aliás, as duas atrizes Fulu Mugovhani e Tumi Morake seguram o filme, seja pelo talento ou pela beleza.
É importante também refletir sobre a personalidade dessas duas mulheres negras. Uma mulher que a todo custo busca um relacionamento afetivo e a outra que canaliza as energias em ter vários relacionamentos instantâneos.
O fato de mulheres negras terem que se esforçar mais que as outras em todas as esferas da vida. Nos relacionamentos amorosos, mulheres negras estão acostumadas a serem preteridas em razão de mulheres brancas ou de pele clara, ou mesmo a serem vistas como mulheres “fogosas”, “boas de cama”, figurando na lista de “mulheres para uma noite só”. É o fato da hipersexualização da mulher negra.
Dineo e Noni tem um pouco do reflexo dessas mulheres, da insegurança que as mulheres negras tem em um relacionamento e no medo de talvez nunca ter um relacionamento.
Produções africanas ganhando espaço da Netflix
Em junho, a Netflix lançou um vídeo de pouco mais de dois minutos, falando sobre as produções no continente africano. Com o título Da África Para o Mundo, a peça publicitária traz alguns dos principais representantes da produção audiovisual de países, como Nigéria, Quênia, África do Sul, falando sobre contar a história e cultura da África para se verem representados na tela. São atores, diretores e roteiristas das principais obras do catálogo da Netflix.
O streaming também contratou a queniana Doroty Ghettuba como chefe de Programação Original Africana e adquiriu dezenas de filmes para o catálogo, além do lançamento dos originais. Segundo entrevista de Ghettuba para a CNN, “os africanos estão realmente empolgados com o conteúdo local – e não apenas com o conteúdo local, mas com o melhor da classe. Há uma sensação de orgulho e emoção na África. E quando eu digo África, eu realmente quero dizer isso em todo o continente”.
Ficamos contentes com o interesse e a real representação dos países do continente africano no streaming. Como os representantes do audiovisual africano dizem no vídeo publicitário: “Alguma vez alguém já contou a sua história, usou a sua voz, e substituiu seu rosto até que ninguém mais pudesse ver e ouvir você? Dizem que se você não gosta da história de alguém, deve escrever a sua.”
Que mais produções do continente africano cheguem à Netflix nos próximos anos. Estaremos aqui, acompanhando de perto.
Confira o trailer de Solteiramente (2020):
Ficha técnica
Solteiramente
Ano: 2020
País de origem: África do Sul
Formato: Longa-metragem
Gênero: Comédia
Duração: 107 min
Direção: Katleho Ramaphakela, Rethabile Ramaphakela
Produção: Katleho Ramaphakela,Rethabile Ramaphakela, Tshepo Ramaphakela
Roteiro: Lwazi Mvusi
Elenco: Fulu Mugovhani, Tumi Morake, Bohang Moeko, Yonda Thomas, Mpho Osei Tutu, Tiffany Barbuzano
Disponível: Netflix
Foto de capa: Divulgação/Netflix.
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Formada em Jornalismo e com especialização em mídias digitais, a baiana tem dedicado sua carreira ao mercado audiovisual há oito anos, quando iniciou na área. Já atuou como produtora executiva em obras para a televisão e em diversas funções dentro da produção de uma obra. Apaixonada por filmes e séries, se considera uma viciada que assiste mais de seis obras por semana.