Escrita Negra Pernambuco

Transativista Maria Clara Araújo lança seu primeiro livro 

A educadora e transativista Maria Clara Araújo, 24, está de volta à Recife (PE) para divulgar o lançamento de seu primeiro livro, Pedagogias das Travestilidades (2022). O evento, exclusivo para convidados, acontece nesta quinta-feira, 13, a partir das 18 horas, na sede da Amotrans, localizada no bairro da Boa Vista. Na ocasião, ela participa de uma roda de conversa sobre a luta histórica de travestis e mulheres trans e sessão de autógrafos. O livro está disponível em todos os sites.

Na obra, a pedagoga documentou a produção de conhecimento do coletivo Associação de Travestis e Liberados (Astral) desde 1979 até hoje. O livro é um registro da luta do Movimento de Travestis e Mulheres Transexuais no Brasil, no qual Maria Clara relata a trajetória de seis travestis negras (Jovanna Cardoso, Elza Lobão, Josy Silva, Beatriz Senegal, Monique du Bavieur e Claudia Pierre France) até a chegada delas no espaço privilegiado da academia. A edição tem ainda a apresentação da multiartista Linn da Quebrada, 32, o prefácio feito pela professora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) Carla Cristina Garcia.

Em Pedagogias das travestilidades, a autora não apenas estabelece diálogos entre diferentes disciplinas como também constrói seu pensamento conjuntamente com teóricas do feminismo e pesquisadoras/es da história do Movimento de Travestis e Mulheres Transexuais. Essa chave de coalizões torna seu texto potente e apto a questionar os limites e a refletir sobre a educação transgressora que as pedagogias das travestilidades propõem. As múltiplas conexões entre esses dois elementos têm sido demonstradas por teóricas, de diferentes áreas do conhecimento, que procuram se posicionar para além da cis-heteronormatividade e da normalidade como elementos de estabilidade pedagógica. É o que diz em trecho do prefácio de Carla Cristina Garcia.

Em entrevista à Gênero e Número, Maria Clara contextualiza seu livro: “Para mim, a publicação de Pedagogias, a vitória de Duda Salabert e de Érika Hilton para a Câmara Federal, a ocupação das mídias digitais, a presença cada vez mais representativa de pessoas trans na TV aberta, se inscrevem em um momento histórico que é muito único, em que a contribuição de travestis, transexuais e pessoas trans, de modo geral no Brasil, se torna inquestionável, não dá para escamotear mais. Então é isso: Pedagogias é um tributo, uma homenagem. Até agora muito bem recebido pelas mais velhas”.

A autora finalmente chega a sua cidade natal depois de ter feito uma temporada de divulgação do lançamento em: São Paulo (SP), Rio de Janeiro (RJ), Fortaleza (CE) e Brasília (DF). Infelizmente, sabe-se que o Brasil lidera o ranking de assassinatos da população LGBTQIAPN+, a publicação deste livro é de suma importância educacional para um país como o nosso, pois além de resgatar o passado, afirma que a existência dessas pessoas não apenas é possível, mas essencial para que a cidadania seja exercida de forma plena. 

Sobre a autora

Natural de Recife (PE), Maria Clara Araújo dos Passos, 24, reside atualmente em São Paulo. Ficou conhecida em 2015 quando publicou numa rede social o manifesto: “Meu manifesto pela igualdade: sobre ser travesti e ter sido aprovada em uma Universidade Federal”, no qual exigiu da instituição de ensino em que estudava uma política pública de nome social para pessoas trans, o que ainda não existia na época e alcançando êxito. É bacharel em Pedagogia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e mestranda em Educação (Sociologia da Educação) pela Universidade de São Paulo (FE/USP).

Além disso, é especialista em Estudos Afro-Latino-Americanos e Caribenhos pela Clacso/Flacso, tem certificação em Estudos Afro-Latino-Americanos pelo Instituto de Pesquisas Afro-Latino-Americanas do Hutchins Center, na Universidade de Harvard, dos Estados Unidos. Tem abordado temáticas, como intersecções entre (identidade de) gênero e raça, currículos decoloniais, movimentos sociais progressistas na América Latina, transfeminismos e, mais recentemente, movimentos transnacionais de extrema direita e suas agendas educacionais antigênero. Maria Clara é, também, uma das mais influentes jovens transfeministas da atualidade.

Foto de capa: Divulgação.

LEIA TAMBÉM: Artista pernambucana faz campanha para estudar na Europa 

Inscreva-se na newsletter do Negrê aqui!

Compartilhe: