Pretassa

Uma das vozes mais importantes da literatura africana, Chimamanda completa 43 anos

Militante feminista, palestrante e uma das mais conhecidas autoras da literatura africana, a nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie já teve suas obras traduzidas para mais de 30 idiomas e conquistou diversos prêmios. Nesta terça-feira, 15, ela completa 43 anos, com uma carreira brilhante, figurando duas vezes, em 2010 e 2014, na lista de escritores anglófonos mais importantes com idade inferior a 40 anos. Além de ter recebido diversos prêmios por suas obras. Todos os seus livros já foram traduzidos e publicados no Brasil pela editora Companhia das Letras.

Trajetória

Nascida no dia 15 de setembro de 1977, em Enugo, Nigéria, um país situado na região Ocidente da África, ela é filha de James Nwoye Adichie, que foi professor de Estatística na Universidade da Nigéria, e de Grace Ifeoma, que foi a primeira mulher a trabalhar como administradora na mesma universidade. Chimamanda cresceu na cidade universitária de Nsukka e, juntamente com os cinco irmãos, frequentou a escola dessa universidade, na qual iniciou o curso de Medicina e Farmácia. Nele, permaneceu por um ano e meio.

Aos 19 anos, ela deixou a Nigéria para estudar Comunicação e Ciências Políticas na Universidade de Drexel, na Filadélfia (EUA), transferindo-se, posteriormente, para a Eastern Connecticut State University. Essa experiência de imigração, marcada por pessoas que se surpreenderam com seu inglês fluente — embora essa seja uma das línguas oficiais da Nigéria — com sua inteligência e dedicação e com o fato de Chimamanda ter vindo de uma família de classe média, resultou no seu romance Americanah (2013). No escrito, ela aborda as dificuldades e os preconceitos que os africanos enfrentam, além de falar sobre a visão negativa que as pessoas têm sobre a África. Em entrevista para o programa Milênio, da Globo News, ela conta que foi a sua vivência nos Estados Unidos que a fez se identificar como negra e perceber que ser negro, fora de seu país, era visto como algo negativo.

A preocupação da escritora em dar visibilidade ao continente africano, sobretudo ao seu país, a Nigéria está presente em todas as suas obras de ficção, nas quais ela também busca dar visibilidade para mulheres negras e africanas.

Essas preocupações vieram do fato de que, por muitos anos de sua vida, Chimamanda ter lidos livros que, embora gostasse, não se via neles, pois eram todos estrangeiros. Em sua palestra, O perigo da história única (2009), ela conta como tudo mudou ao conhecer escritores africanos, afirmando que essa descoberta a salvou “de ter uma história única daquilo que os livros são”. E ela, que aos sete anos escrevia histórias ilustradas a lápis de cor, nas quais os personagens eram sempre brancos de olhos azuis e brincavam na neves, percebeu que era possível escrever a partir de suas vivências. E assim, o fez. Suas histórias são importantes tanto na questão da representatividade quanto para romper com a visão colonialista e estereotipada do continente africano.

Chimamanda fez um mestrado em Escrita Criativa na Universidade Johns Hopkins, em Baltimore (EUA). Também tem os títulos de mestre em Artes em Estudos Africanos pela Universidade de Yale, em Connecticut (EUA), além de ainda ser doutora em Humanidades pelas universidades Johns Hopkins, Haverford College, na Pennsylvania (EUA), em Edimburgo (Reino Unido) e de Amherst, em Massachusetts (EUA). Além de escritora, ela ministra oficinas de escrita criativa na Nigéria e realiza diversas palestras em diversos países. As mais conhecidas são: The danger of a single story (2009), Beauty does not solve problems (2014), Hair is political (2013)  e We Should be all feminists (2012), sendo parte desta última, utilizada pela cantora Beyoncé, 39, na sua música Flawless (2014).

Obras

Foto: Divulgação.

Hibisco Roxo (2011) – Protagonista e narradora de Hibisco roxo, a adolescente Kambili mostra como a religiosidade extremamente “branca” e católica de seu pai, Eugene, famoso industrial nigeriano, inferniza e destrói lentamente a vida de toda a família. O pavor de Eugene às tradições primitivas do povo nigeriano é tamanho que ele chega a rejeitar o pai, contador de histórias encantador, e a irmã, professora universitária esclarecida, temendo o inferno. Mas, apesar de sua clara violência e opressão, Eugene é benfeitor dos pobres e, estranhamente, apoia o jornal mais progressista do país. Durante uma temporada na casa de sua tia, Kambili acaba se apaixonando por um padre que é obrigado a deixar a Nigéria, por falta de segurança e de perspectiva de futuro. Enquanto narra as aventuras e desventuras de Kambili e de sua família, o romance também apresenta um retrato contundente e original da Nigéria atual, mostrando os remanescentes invasivos da colonização tanto no próprio país, como, certamente, também no resto do continente.

Foto: Divulgação.

Americanah (2014) – Lagos, anos 1990. Enquanto Ifemelu e Obinze vivem o idílio do primeiro amor, a Nigéria enfrenta tempos sombrios sob um governo militar. Em busca de alternativas às universidades nacionais, paralisadas por sucessivas greves, a jovem Ifemelu muda-se para os Estados Unidos. Ao mesmo tempo que se destaca no meio acadêmico, ela depara pela primeira vez com a questão racial e com as agruras da vida de imigrante, mulher e negra. Quinze anos mais tarde, Ifemelu é uma blogueira aclamada nos Estados Unidos, mas o tempo e o sucesso não atenuaram o apego à sua terra natal, tampouco anularam sua ligação com Obinze. Quando ela volta para a Nigéria, terá de encontrar seu lugar num país muito diferente do que deixou e na vida de seu companheiro de adolescência.

Foto: Divulgação.

Sejamos todos feministas (2015) – Neste ensaio preciso e revelador, Adichie parte de sua experiência pessoal de mulher e nigeriana para mostrar que muito ainda precisa ser feito até que alcancemos a igualdade de gênero. Segundo ela, tal igualdade diz respeito a todos, homens e mulheres, pois será libertadora para todos: meninas poderão assumir sua identidade, ignorando a expectativa alheia, mas também os meninos poderão crescer livres, sem ter que se enquadrar em estereótipos de masculinidade. Sejamos todos feministas é uma adaptação do discurso feito pela autora no TEDx Euston, que conta com mais de 1,5 milhão de visualizações, no qual Adichie parte de sua experiência pessoal de mulher e nigeriana para mostrar que muito ainda precisa ser feito até que alcancemos a igualdade de gênero.

Foto: Divulgação.

Para educar crianças feministas (2017) – Após o enorme sucesso de Sejamos todos feministas, Chimamanda Ngozi Adichie retoma o tema da igualdade de gêneros neste manifesto com quinze sugestões de como criar filhos dentro de uma perspectiva feminista. Escrito no formato de uma carta da autora a uma amiga que acaba de se tornar mãe de uma menina, Para educar crianças feministas traz conselhos simples e precisos de como oferecer uma formação igualitária a todas as crianças, o que se inicia pela justa distribuição de tarefas entre pais e mães. E é por isso que este breve manifesto pode ser lido igualmente por homens e mulheres, pais de meninas e meninos. Partindo de sua experiência pessoal para mostrar o longo caminho que ainda temos a percorrer, Adichie oferece uma leitura essencial para quem deseja preparar seus filhos para o mundo contemporâneo e contribuir para uma sociedade mais justa.

Foto: Divulgação.

Meio sol amarelo (2017) – Em meio à guerra fratricida que dividiu a Nigéria com a malograda tentativa de fundação do estado independente de Biafra, um grupo de pessoas busca provar a si mesmas e ao mundo que é capaz não só de sobreviver, mas também de resguardar seus sonhos e sua integridade moral. Garoto de aldeia, Ugwu procura se ajustar a uma realidade em rápida transformação. Olanna é uma moça da alta sociedade que se torna professora universitária e vive com Odenigbo, que abraça a causa revolucionária. Jornalista com ambição de se tornar escritor, Richard se apaixona pela irmã de Olanna, Kainene, figura esquiva, que reage com pragmatismo ao desmoronamento da nação.  

Foto: Divulgação.

No seu pescoço (2017) – Publicado em inglês em 2009, No seu pescoço contém todos os elementos que fazem de Adichie uma das principais escritoras contemporâneas. Nos doze contos que compõem o volume, encontramos a sensibilidade da autora voltada para a temática da imigração, da desigualdade racial, dos conflitos religiosos e das relações familiares. Combinando técnicas da narrativa convencional com experimentalismo, como no conto que dá nome ao livro, Adichie parte da perspectiva do indivíduo para atingir o universal que há em cada um de nós e, com isso, proporciona a seus leitores a experiência da empatia, bem escassa em nossos tempos.

Foto: Divulgação.

O perigo de uma história única (2019) – O que sabemos sobre outras pessoas? Como criamos a imagem que temos de cada povo? Nosso conhecimento é construído pelas histórias que escutamos, e quanto maior for o número de narrativas diversas, mais completa será nossa compreensão sobre determinado assunto. É propondo essa ideia, de diversificarmos as fontes do conhecimento e sermos cautelosos ao ouvir somente uma versão da história, que Chimamanda Ngozi Adichie constrói a palestra que foi adaptada para livro. O perigo de uma história única é uma versão da primeira fala feita por Chimamanda no programa TED Talk, em 2009.

Foto de capa: Oliver Contreras.

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