O Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) lançou em parceria com Instituto Promundo, uma campanha de capacitações para profissionais de Educação, Saúde e Assistência Social para o enfrentamento do racismo na infância, chamada Primeira Infância Antirracista (PIA), na última terça-feira, 23. A formação ocorreu tanto online quanto presencial em oficinas, palestras e rodas de conversa em quatro cidades do Nordeste do Brasil: São Luís (MA) – 12/05, Salvador (BA) – 31/05, Recife (PE) – 02/06 e Fortaleza (CE) – 26/06. Todo o material online está disponível no site do UNICEF e pode ser adquirido de forma gratuita.
O racismo estrutural prejudica de forma diária a história das crianças negras e indígenas, desde seus primeiros anos de vida. Sendo assim, o propósito da ação é chamar a atenção sobre os impactos do racismo no desenvolvimento infantil e promover práticas antirracistas nos diferentes serviços de atendimento ao público principalmente às gestantes, crianças negras e indígenas entre 0 e 6 anos e suas famílias.
“Como adultos, temos a responsabilidade de rever as nossas práticas e garantir a proteção integral das crianças contra o racismo e a discriminação. Em especial, profissionais de Educação, Saúde e Assistência Social têm a oportunidade de assumir uma postura antirracista no seu trabalho com as crianças e suas famílias e garantir o desenvolvimento integral da primeira infância”. É o que diz Maíra Souza, oficial de Primeira Infância do UNICEF.
Em áreas distintas, indicadores confirmam a desigualdade racial na garantia de direitos nos primeiros anos de vida. A proporção de bebês pretos e pardos que nascem de mães que não tiveram pelo menos sete consultas de pré-natal é de 30%; para bebês brancos, 18%. Em relação às crianças indígenas, por sua vez, a taxa de mortalidade infantil (até 1 ano) é o dobro da taxa de mortalidade infantil média brasileira – 23,4 por 1 mil e 11,9 por 1 mil, respectivamente. Esses são dados do SIM/Datasus, de 2021.
As desigualdades são recorrentes no acesso à Educação também. Em 2019, mais de 330 mil crianças entre 4 e 5 anos de idade estavam fora da escola, conforme a pesquisa “Desigualdades na garantia do direito à pré-escola”, lançado pela Fundação Maria Cecília Souto Vidigal, com apoio do UNICEF e da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime). Em 2022, e a probabilidade de crianças pretas, pardas e indígenas estarem nesse grupo era 25% maior do que crianças brancas.
O desafio de um atendimento que considere o perfil étnico e racial se evidencia também no setor do Serviço Social. Quase 70% das crianças de até 4 anos que estão cadastradas no CadÚnico são negras. Os números são da Secretaria de Avaliação e Gestão da Informação/MDS e IBGE, uma estimativa referente a março de 2023.
Dentro desse contexto, o fortalecimento de práticas antirracistas nos serviços públicos passa a ser essencial. “O PIA é um conjunto de materiais e ferramentas que ajudarão, de forma prática e efetiva, os profissionais que atuam nas diferentes áreas da política pública para ações antirracistas nos seus cotidianos”. É o que explica o diretor adjunto do Promundo, Luciano Ramos. “Crianças na primeira infância e suas famílias poderão contar com profissionais sensibilizados e atuando com práticas simples e eficazes, baseadas no antirracismo”, acrescenta.
Material online
A campanha digital conta com uma websérie com sete vídeos sobre parentalidade antirracista com influenciadores – entre eles Lázaro Ramos e Bruno Gagliasso – e especialistas. Como parte da iniciativa, está disponível também uma coleção de materiais formativos direcionados aos profissionais sobre educação infantil, assistência social e saúde no contexto de infâncias negras, como também sobre atendimento qualificado às crianças indígenas.
Capacitação
A estratégia conta, também, com oficinas em cinco cidades do Nordeste. Em todas as capitais, o PIA integra a iniciativa #AgendaCidadeUNICEF, realizada em parceria com as prefeituras municipais para promover oportunidades e contribuir com a prevenção de violências contra crianças e adolescentes em territórios vulneráveis dos centros urbanos.
Sobre o Fundo
O Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) trabalha em alguns dos lugares mais difíceis do planeta, para alcançar as crianças mais desfavorecidas do mundo. Em 190 países e territórios, o UNICEF trabalha para cada criança, em todos os lugares, para construir um mundo melhor para todos.
Foto de capa: Ribamar Nascimento.
LEIA TAMBÉM: África Fashion Week Brasil 2023 chega em solo brasileiro pela primeira vez
Apoie a mídia negra nordestina: Financie o Negrê aqui!
Quando criança, sonhava em ser escritora. Hoje, é graduada em Letras e Jornalismo pela Universidade Católica de Pernambuco (UNICAP). Prêmio Neusa Maria de Jornalismo. Produtora cultural, simpática, TCC nota 10 e faz tudo.