A carioca Vera Baroni é conhecida por ser ativista do movimento negro há mais de 50 anos. Justamente, por ser uma referência na luta por direitos humanos em Pernambuco, que o vereador Ivan Moraes (PSOL) concedeu à ela o título de cidadã recifense e a vereadora Liana Cirne (PT) lhe premiou com a medalha de mérito Olegária Mariano, honraria concedida à mulheres que tenham prestado serviços à humanidade e à paz universal. A cerimônia ocorreu na última quinta-feira, 25, na Câmara Municipal do Recife (PE).
O decreto que beneficia Vera com o título de cidadã recifense é de 2020. A medalha foi concedida em 2021. Por causa da pandemia de Covid-19, os parlamentares decidiram aguardar para que a solenidade pudesse ser realizada presencialmente. Presentes na ocasião além de Ivan e Liana estavam (presidenciando a sessão) Elaine Cristina co-vereadora (Pretas Juntas), a deputada estadual Dani Portela (PSOL), vereador de Olinda Vinicius Castelo (PT) também representantes do sindicato da empregadas domésticas, dos professores, dos enfermeiros.
Na tribuna, Ivan relata sua indignação ao perceber a injustiça que era o fato de Vera ainda não ter recebido nenhuma honraria na Câmara: “Estou muito feliz hoje! Quando a gente, finalmente, viu que ela não tinha recebido ainda a medalha, corremos para protocolar o projeto de decreto legislativo e aprovamos… aí veio a pandemia de Covid e a gente não pode fazer esta celebração”, lamentou. “O que deu a Vera um outro record. Acredito que nunca na história desta casa alguém recebeu a medalha e o título num período de menos de um mês”.
Após a entrega das honrarias, Vera pediu agô e discursou: “Hoje é sem dúvida mais um dia especial e a primeira palavra que eu preciso dizer é gratidão!”. Fez uma breve retrospectiva da sua vida e compartilhou os motivos que a trouxeram à Recife. “Diz um ditado africano: ‘As pegadas das pessoas que andaram juntas nunca se apagam’. Agradeço a todos que caminham comigo, a cidade do Recife e ao seu povo, por me acolher e permitir que a escolha que fiz há mais de meio século, de aqui construir minha vida, minha família, produzir e aqui morrer se concretizassem”. Finalizou reafirmando o princípio civilizatório Ubuntu: “Eu só sou porque nós somos!”. Então foi aplaudida de pé, se permitindo cair na emoção.
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Sobre a ativista
Filha de um polítical mineiro com uma lavadeira baiana, Vera mudou-se para o Recife em 1968 como ativista do movimento da juventude operária cristã, na época até foi presa por estar reunida na praia lendo a bíblia.
Trabalhou como professora, estudou Enfermagem, é advogada sanitarista, foi sindicalista e a primeira presidente do sindicato dos trabalhadores Públicos Federais em Saúde e Previdência social no estado de Pernambuco (Sindsprev).
Também se candidatou a vereadora do Recife em 1988 e, em 2002, foi candidata a deputada estadual. Além disso, ela é uma referência na religiosidade de matriz africana. Vera é Yabassé no Ilê Obá Aganjú Okoloyá, Terreiro de Mãe Amara.
No movimento de mulheres negras no estado, foi uma das fundadoras do grupo Fórum de Mulheres, fundadora do Uiala Mukaji – sociedade de mulheres negras de Pernambuco (primeira organização feminina negra do estado) e coordenadora na Rede de Mulheres Negras de Terreiro.
Foto de capa: Beto Figueiro.
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Quando criança, sonhava em ser escritora. Hoje, é graduada em Letras e Jornalismo pela Universidade Católica de Pernambuco (UNICAP). Prêmio Neusa Maria de Jornalismo. Produtora cultural, simpática, TCC nota 10 e faz tudo.