Que representatividade e protagonismo negro são importantes em todos os âmbitos da sociedade, nós já sabemos. Sabemos também que consumir arte feita por pessoas negras é necessário para o processo de descolonização do olhar. Por isso, hoje estou aqui para falar de literatura e, independente de qual seja a sua frequência de leitura, queria te convidar a uma reflexão: quantos livros de autores negros você já leu? E de mulheres negras? Olhando para sua estante — física ou virtual — qual é a cor da pele da maioria dos autores desses livros?
Se sua resposta é “Ah! Mas eu não compro livro pela cor do autor, eu compro pela história/qualidade e afins”, você automaticamente está consumindo, em grande parte, literatura feita por pessoas brancas. Te explico o porquê: a nós, negros, sempre foram — e ainda são — negados espaços e oportunidades e na literatura não é diferente. A maioria esmagadora dos autores best-sellers, não só no Brasil, são brancos, em grande parte europeus e estadunidenses. Se você só consome o que aparece como aclamados pelas críticas ou o que está em destaque nas vitrines, você está, sim, lendo em grande parte — se não totalmente — autores brancos.
É fato que nos últimos anos alguns autores negros têm conquistado visibilidade e contribuído com mais diversidade no mercado editorial. Contudo, é preciso que suas obras sejam consumidas e que haja demanda para que exista mais espaço para escritores negros. Por isso, recomendo hoje quatro escritoras africanas que já têm livros traduzidos e publicados aqui no Brasil.
1. Chimamanda Ngozi Adichie
Com suas obras traduzidas para mais de 30 línguas, a escritora nigeriana teve sua coletânea de contos, No seu pescoço (2009) e seus romances Meio sol amarelo (2008), Hibisco roxo (2011) e Americanah (2014) publicados no Brasil pela Companhia das letras. Além desses, duas palestras TED, disponíveis no Youtube, também se tornaram livros: O perigo de uma história única e Sejamos todos feministas (com e-book grátis na Amazon). Também é da autora Para educar crianças feministas, que surgiu de uma carta escrita por ela para uma amiga que pediu ajuda para ensinar valores feministas a sua filha.
2. Scholastique Mukasonga
Ruandesa, nascida em 1956, a autora sobreviveu ao genocídio dos Tutsis, sua etnia, na década de 1990 e, em 1992, migrou para a França. Os traumas vividos por ela, que viu muitos membros da família serem assassinados, permeiam a escrita. No Brasil, os livros de Mukasonga, publicados pela Editora Nós, são: A Mulher de Pés Descalços (2017), Nossa Senhora do Nilo (2017) e Baratas (2018) e pela Editora Archipelago, Igifu (2020).
3. Djaimilia Pereira de Almeida
Nascida em Angola e criada em Portugal, ela é autora dos livros Esse cabelo: a tragicomédia de um cabelo crespo que cruza fronteiras (2017), publicado pela Editora Leya, que fala sobre racismo, feminismo e identidade e Luanda, Lisboa, Paraíso (2019), publicado pela Companhia das Letras.
4. Ayobami Adebayo
A escritora nigeriana, que foi aluna de Chimamanda Ngozi Adichie e Margaret Atwood, fez sucesso com seu romance de estreia, Fique comigo (2018), publicado no Brasil pela Harper Collins. Com uma escrita visceral, a autora nos apresenta uma Nigéria permeada de conflitos, enquanto narra o drama do casal protagonista, nos fazendo mergulhar nas questões culturais e familiares do país.
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Apaixonada por livros, filmes, séries e podcasts. É formada em Letras – Licenciatura em português e inglês pela Universidade Católica de Pernambuco (Unicap), especialista em Literatura brasileira pela Faculdade Frassinetti do Recife (FAFIRE), assistente editorial e autora do livro “O céu não é azul” (2020).