“Um encontro de potências”. É assim que define Alécio Fernandes, ou Pretim Dalest, como é mais conhecido, ao pensar nos encontros dos crias das favelas de Fortaleza (CE) em um point principal: a Barraca Foi Sol, na Praia da Leste. A primeira edição do Festival Hip Hop Fortal aconteceu no último dia 11 de março, na Capital cearense.
Escolhida por John Santos e Vinícius Pires para sediar a comemoração de quatro anos de produção na página Hip Hop Fortal (@hiphopfortal no Instagram). O coletivo, formado até então por John, Vini, Thais Araújo e Ruan Sales, realizou duas lives shows durante a pandemia, o “Festival Nazarea” contou com rappers locais e teve grande repercussão entre seu público, motivando e valorizando a arte presente em seu território.
Desde 2019, os amantes da cultura hip hop incentivam e divulgam artistas de Fortaleza no intuito de driblar a desvalorização do Norte e Nordeste no cenário do rap nacional. Dessa forma, o evento reuniu apenas artistas periféricos que “sempre estiveram presentes e somando com o nosso trabalho”. É o que destaca John.
O primeiro evento presencial aconteceu na tarde ensolarada de 11 de março. O palco de frente ao mar da Praia da Leste não apenas recebeu rappers e DJs de peso, como também foi possível acompanhar o projeto de ateliê ao vivo do artista visual Blecaute, que finalizou uma de suas obras enquanto os artistas sonoros iam e vinham, pulavam e dançavam, animando a galera com a explosão de cultura. Isso no local em que fica a praia mais estigmatizada de Fortaleza.
“É uma realização mas também é a continuação de um sonho, porque nós sabemos quantas pessoas do rap vieram antes e não conseguiram”, exalta Vinicius, afirmando como esses movimentos culturais também têm a ver com memória. Hip hop é uma cultura de base negra e periférica, surgida da necessidade de expressão artística e manifestação política, assim como canta a rapper Má Dame, uma das atrações do festival, na música “Estado Mental Fortal”:
Estado Mental Fortal é correr o risco
levar a vida por um fio
tentando não morrer lisa
escritos indevidos
cristos endividados
os maior envolvido
os menor desavisado
o estado segue crítico
eu criticando o estado
Outro eixo
Sustentabilidade, autoestima, saúde e fomento da economia também estiveram presentes no Festival de Hip Hop. Na feirinha de empreendedorismo periférico, teve o Coletivo Raízes da Periferia e sua marca ecológica EcoRaiz, a Nose Cuff 4town que produz manualmente os famosos piercings de pressão “de negrona” e a loja Pink Head Shop, incentivando a redução de danos.
“Queremos disputar uma narrativa de descentralização de recursos e fortalecimento da nossa galera”. É o que comenta Alécio Fernandes (Pretim Dalest), produtor cultural e um dos administradores da Barraca Foi Sol e do projeto Soulest.
Soulest é um espaço criativo na barraca da família de Dalest, a essência é formativa e promove um impacto social e ambiental, oferecendo à comunidade atividades nos eixos arte e cultura, ecologia e saúde, esporte e lazer e empreendedorismo e tecnologia.
“Não é atoa que é Soul de alma e Lest território, então é a vivência, o cotidiano, a memória”, explica Dalest, que apresenta pautas sobre questões sociais, raciais, de gênero, falando sobre racismo ambiental e situações climáticas, promovendo rodas de conversa, oficinas, aulas de surf e fazendo parcerias com outros projetos, como o Hip Hop Fortal. Juntos, germinam cultura e se estruturam na intenção de “desenvolver os maior e deixar os menor avisado”.
Foto de capa: Sandy Albuquerque.
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Estudante de Jornalismo na Universidade de Fortaleza (Unifor). Vê no fazer jornalístico o poder de tocar e conscientizar as pessoas através de histórias e vivências, principalmente as que não costumam ser o foco da sociedade: vindas da periferia. Sempre fui próxima da escrita, mas para além disso, busco escrever para o meu povo, para quem quer ler sobre afro referências, cultura da favela, manifestos raciais. Por isso, o jornalismo negro é o caminho que busco percorrer em minha carreira.