O Ceará possui cerca de 23,9 mil pessoas autodeclaradas quilombolas, em 113 comunidades de 68 municípios. Dentre eles, Quixadá e Morrinhos se destacaram na 3ª Mostra de Experiências Exitosas em Vigilância Socioassistencial, promovida pela Secretaria da Proteção Social (SPS), com projetos voltados à valorização cultural, inclusão social e proteção da Primeira Infância em territórios tradicionais.
Inclusão na serra de Dom Maurício
Em Quixadá, foi criada uma plataforma digital voltada à Primeira Infância no SUAS, desenvolvida para apoiar as ações do Programa Criança Feliz. A ferramenta facilita o trabalho de visitadores e supervisores, promovendo o acompanhamento individualizado das famílias e incentivando a troca de experiências entre os profissionais da assistência.
A iniciativa é utilizada no território quilombola do Sítio Veiga, na serra do distrito de Dom Maurício, onde vivem 55 famílias. A supervisora do programa, Tais Ferreira, que também é liderança comunitária, acompanha o território desde 2019. “Foi um marco levar o Criança Feliz para a nossa comunidade. As famílias passaram a conhecer seus direitos e acessar outros serviços oferecidos pelo Cras. A gente trabalha o brincar, a cultura quilombola e a valorização da nossa identidade”, afirma.
O Sítio Veiga também é casa do mestre da cultura Joaquim Roseno, 86 anos, guardião da tradição da Roda de São Gonçalo. “Aprendi a dançar com meu pai e hoje ensino aos mais jovens. É assim que a gente agradece, pede por melhorias e mantém nossa fé viva”, disse.
As ações de assistência no local são conduzidas pelo Cras Rachel de Queiroz, que atua diretamente na comunidade, facilitando o acesso ao CadÚnico, aos benefícios sociais e à atualização cadastral.
Mulheres do quilombo
Moradora do Sítio Veiga, Maria Milene, 29, é beneficiária do BPC (Benefício de Prestação Continuada). Mãe de duas filhas, uma delas com deficiência intelectual, ela relata como o acesso facilitado ao Cras transformou sua realidade. “Antes, a gente precisava descer a serra para ser atendido. Agora, as técnicas vêm até a nossa casa. É mais fácil para nós que precisamos tanto desses serviços”, conta.
Vizinha de Maria, Eliete de Oliveira, 37, completa a renda familiar com faxinas e conta com o Bolsa Família para garantir a alimentação dos três filhos. “Fiquei animada ao saber que o Cras vai trazer cursos de capacitação. Quero aprender mais para melhorar nossa vida”, destaca.
A secretária de Assistência Social de Quixadá, Izaura Oliveira, afirma que os encontros promovidos pela SPS fortaleceram a equipe técnica local. “As capacitações ampliaram nosso olhar sobre os povos tradicionais e nos motivaram a estreitar ainda mais o vínculo com essas comunidades”, avalia.
Proteção da infância quilombola em Morrinhos
Em Morrinhos, a atenção às comunidades quilombolas também foi reconhecida na Mostra da SPS, com o trabalho de mapeamento e qualificação das informações territoriais, priorizando a Primeira Infância quilombola.
A secretária municipal Marília Soares destaca que a integração entre programas como Bolsa Família, Ceará Sem Fome e Cartão Mais Infância foi essencial para os resultados positivos. “Fizemos o cruzamento de dados das áreas de educação e assistência social para identificar as famílias quilombolas e suas necessidades”, explica.
No Quilombo Junco Manso, por exemplo, o programa Ceará Sem Fome distribui diariamente 100 refeições, beneficiando 36 famílias. O levantamento identificou 103 crianças de 0 a 6 anos nos três agrupamentos quilombolas de Morrinhos: Alto Alegre, Junco Manso e Curralinho.
Marília destaca que a autodeclaração quilombola ainda é um desafio, por isso, considera essencial a formação dos profissionais do SUAS. “Aprendemos que a abordagem deve ser cuidadosa e baseada em informações de especialistas e dados oficiais. A capacitação dos técnicos foi fundamental nesse processo”, conclui.
Foto de capa: Mariana Parente.
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