“O Ceará é uma invenção afro-indígena, muito mais do que europeia. Foi no ventre das nossas avós que o povo cearense foi gerado”, diz nota divulgada nessa quinta-feira, 30
A Federação dos Povos e Organizações Indígenas do Ceará (Fepoince) classificou como racista e colonialista a pesquisa “GPS-DNA Origins Ceará”. A análise afirma que a formação do povo cearense se deve, principalmente, aos portugueses e vikings. A Federação se diz indignada pelo fato da pesquisa afirmar ter recolhido material genético de membros dos povos indígenas e quilombolas no Ceará, mas sequer ter pedido autorização às organizações.
O texto acusa ainda a pesquisa de antiética e biopirataria. Cita que está registrada apenas na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) sem que outros órgãos de regulação científica, como o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) ou de proteção aos direitos indígenas, como a Fundação Nacional do Índio (Funai) e o Ministério Público Federal (MPF), tenham sequer sido informados. Isso constitui prática completamente antiética e de biopirataria. Sendo, portanto, uma violação colonial dos direitos e dos corpos indígenas.
“O que querem mostrar tais senhores com esse tipo de pesquisa? Que seus antepassados foram campeões em estupros sucessivos? Que gerações de mulheres indígenas e negras foram objeto de toda sorte de exploração e violência para garantir a mestiçagem dominada pelos brancos? Querem mostrar que são tão vitoriosos que até dentro de nossos corpos carregamos a marca de “ferro em brasa” da colonização? Querem que sejamos para sempre Moacir, “o filho da dor de Iracema”, como inventou o escritor José de Alencar (1829-1877) em 1865 para dizer que os povos indígenas deveriam morrer para que o Ceará nascesse?”, questiona.
A Fepoince, que representa 15 povos indígenas no Estado cearense, lembra que o Ceará é uma invenção afro-indígena muito mais do que europeia. “Foi no ventre das nossas avós que o povo cearense foi gerado. Foi a força física das nossas avós e avôs que produziu a farinha que todos comiam, a cera, o algodão, os couros e o açúcar que fizeram a riqueza de muitos senhores brancos”, cita.
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Foto de capa: Reserva Pitaguary por Thiara Montefusco/Governo do Ceará em 16 de abril de 2019.
Quase jornalista pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Além do Negrê, é repórter de Cidades do Grupo de Comunicação O POVO, cobre mobilidade, saúde, meio ambiente e outros, mas tem carinho pela Educação. Entre 2013 e 2015, cursou matemática na Universidade Estadual do Ceará (UECE). Nesse período, fez parte do projeto O Círculo da Matemática, programa de ensino para crianças da rede pública, iniciativa da Universidade de Harvard em parceria com o Instituto TIM. Também deu aulas de inglês para crianças durante intercâmbio na Colômbia.