Em 2015, a Netflix lançou, simultaneamente, no streaming e em algumas salas de cinema dos Estados Unidos, o seu primeiro longa metragem com a marca de produção original. Beasts of No Nation (Feras de Nenhum Lugar) é baseado no romance de estreia do autor e médico afro-americano de origem nigeriana, Uzodinma Iweala, 37, e apresenta um cenário de guerra sob a ótica das crianças envolvidas e transformadas em soldados.
As crianças são as mais afetadas por eventos de guerra e desastres, segundo o relatório WorldRiskReport publicado em 2018, pela Universidade do Ruhr, da cidade alemã Bochum e o Bündnis Entwicklung Hilft, aliança de organizações alemãs de desenvolvimento e assistência. Na maioria das vezes, ainda na primeira infância, perdem os pais e qualquer referência de adulto responsável que possa cuidar, apoiar, alimentar ou mesmo criar durante estes conflitos, sendo obrigadas a sobreviver sozinhas.
É nesse cenário de conflito e de perdas da inocência, num país africano não identificado, que conhecemos o pequeno Agu (Abraham Attah). Uma criança cheia de vitalidade e imaginação, que perde os pais e irmãos durante o conflito e é obrigado a amadurecer para sobreviver à guerra.
História
Agu é um jovem inocente, que usa a imaginação para criar suas próprias brincadeiras, como criar uma TV imaginária. O primeiro ato do filme faz um retrato do Agu e família felizes, entre risos e brincadeiras. Ele é o segundo filho de um professor e sua vida é drasticamente alterada quando os conflitos entre governo e civis chega à sua comunidade, e ele vê seu pai e seu irmão serem executados. A partir daí, Agu é integrado pelo Comandante Thor (Idris Elba) a um grupo de rebeldes para lutar numa guerra que ele, ainda inocente, não compreende as motivações.
Idris Elba é um excelente ator com um personagem cheio de nuances. Um rebelde que acredita que será promovido a uma patente maior, e fará de tudo, dos atos mais ilícitos e sanguinários para conseguir alçar seu desejo. Vale ressaltar que o Comandante é um abusador em todos os sentidos. Todo o seu grupo é composto por crianças e adolescentes que são treinados para matar. Muitas delas são abusadas sexualmente.
A entrada de Agu para o grupo de rebeldes é o ritual de passagem que marca a vida e transforma a infância do jovem. Se até este momento o filme já era bastante dramático, nesta passagem, o drama e a emoção só aumentam. É preciso ter estômago para acompanhar os horrores da guerra e como as crianças são transformadas em pequenos soldados. Assassinato e drogas passam a fazer parte da rotina. O diretor não poupa a violência realmente explícita.
Mesmo com toda a violência a que está exposto e praticando, Agu se questiona sempre sobre suas ações, sobre sua infância e o sonho de reencontro com sua mãe, que saiu do país antes do início dos conflitos. Sem entregar o final, mas apenas essa fala do Agu, que traz à tona todo seu histórico e sonho de uma criança: “Sou todas essas coisas. Sou todas essas coisas, mas uma vez já tive uma mãe, e ela me amava”.
Vale ressaltar que, apesar do filme apresentar cenários de guerra muito parecidos com os conhecidos mundialmente, não se trata de uma obra baseada em fatos reais. Os fatos são totalmente fictícios.
Sobre o diretor
A direção do filme é do premiado americano Cary Joji Fukunaga, 43, conhecido pelo trabalho de direção da primeira temporada da série True Detective, pela qual venceu um Emmy em 2014. Também foi premiado no Festival de Sundunce por seu primeiro filme, o espanhol Sem Identidade (2009).
A obra de origem e o autor
Beasts of No Nation (Feras de nenhum lugar) é baseado no romance homônimo de estreia do autor Uzodinma Iweala, afro americano de origem nigeriana formado em Harvard. O livro foi publicado em 2006 e lançado no Brasil pela editora Nova Fronteira.
Abraham Attah
O ator, nascido em Gana – país situado no Golfo da Guiné, região Ocidental na África –, tinha 14 anos quando fez sua estreia em Beasts of No Nation e recebeu indicações e prêmios pelo protagonismo. É considerado um ator promissor e você pode ver isso no filme, tão jovem e tão bom. Ganhou o troféu Marcello Mastroianni de melhor ator pelo Festival Internacional de Cinema de Veneza e o Independent Spirit Award de melhor ator.
Sucesso de crítica e premiações
Beasts Of No Nation teve sucesso com a crítica mundial. Foi considerado inclusive um dos injustiçados do Oscar de 2018, devido a potência do filme. Recebeu indicações ao Globo de Ouro, BAFTA, e SAG awards. E foi premiado em diversas categorias, como o NAACP Image Award de Melhor Filme Independente; Prêmio Independent Spirit de Melhor Ator; Prêmio do Sindicato dos Atores: Melhor Ator Coadjuvante; e Nigeria Entertainment Award for Best Actor, entre outros.
Confira o trailer:
FICHA TÉCNICA
Beasts of No Nation
Ano: 2015
País de Origem: Estados Unidos da América
Formato: Longa Metragem
Duração: 136 minutos
Elenco: Idris Elba, Abraham Attah, Jude Akuwudike, Ama K. Abebrese, Kobina Amissah Sam, Richard Pepple
Direção: Cary Joji Fukunaga
Roteirista: Cary Joji Fukunaga
Autor da obra original: Uzodinema Iweala
Produção Executiva: Daniela Taplin Lundberg, Riva Marker, Cary Joji Fukunaga, Idris Elba, Bill Benenson
Disponível: Netflix
Foto de capa: Divulgação/Netflix.
Formada em Jornalismo e com especialização em mídias digitais, a baiana tem dedicado sua carreira ao mercado audiovisual há oito anos, quando iniciou na área. Já atuou como produtora executiva em obras para a televisão e em diversas funções dentro da produção de uma obra. Apaixonada por filmes e séries, se considera uma viciada que assiste mais de seis obras por semana.