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Dia da Mulher Negra e Tereza de Benguela: saiba mais sobre o 25 de julho

O Brasil é o país da diáspora, o solo onde habita a maior quantidade de pessoas negras fora do Continente Africano. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mais da metade da população brasileira é negra. Na América Latina e no Caribe, cerca de 200 milhões de pessoas se identificam como pessoas afrodescendentes, segundo a Associação de Mujeres Afro.

Apesar disso, a população negra é a que mais sofre e também a que mais integra os piores indicadores socioeconômicos por toda a extensão do Continente. Pior do que isso: tanto no Brasil quanto fora dele, as mulheres negras se encontram nas posições sociais de maior vulnerabilidade. São as que mais sofrem com a violência; são as principais vítimas de feminicídio e também se encontram na base da pirâmide socioeconômica, ou seja, são as principais vítimas do empobrecimento causado pelo sistema.

Foto: Engin Akyurt/Pexels.

Dados como esses não surgem do acaso. Pelo contrário, são resultantes de uma longa história de séculos e séculos de africanos sendo sequestrados de sua terra para serem escravizados no empreendimento colonial das Américas. Mais do que isso, revelam a manutenção e perpetuação de uma lógica racista que estruturou o sistema colonial e que continua sendo elemento fundamental do sistema capitalista – ao reservar os cenários mais dramáticos para a mulher negra.

Foto: Tony James Andersson/Pexels.

Foi diante desse cenário que um grupo de mulheres concluiu que era necessário lutar para reverter esses dados cruéis; a união e organização de mulheres negras era fundamental para construir esse caminho de mudança. Assim surgiu o 1º Encontro de Mulheres Afro-Latino-Americanas e Afro-Caribenhas, em Santo Domingo (República Dominicana), no dia 25 de julho de 1992.

A partir do evento, que contou com discussões sobre os diversos problemas enfrentados pelas mulheres negras do Continente Americano, fundou-se a Rede de Mulheres Afro-latino-americanas e Afro-caribenhas. Ainda durante o encontro, por meio da luta da Rede, a Organização das Nações Unidas (ONU) instituiu a data do 25 de julho como o Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha. O objetivo é lembrar e honrar a luta e resistência dessas mulheres ao racismo, ao machismo, à violência e aos outros obstáculos que se colocam entre esse grupo e uma vida plena de direitos.

Foto: Adrienne Andersen/Pexels.

Ainda hoje, 32 anos após o Encontro, as mulheres negras continuam constituindo uma espécie de grupo invisível às políticas públicas. Ainda são o grupo racial que mais sofre com a pobreza, ainda enfrentam os piores graus de sub-representação dos seus interesses nas esferas decisórias e ainda são obrigadas a ver seu direito de uma vida livre de violência ser vilipendiado (tratado com menos importância do que se merece) continuamente.

Mesmo alcançando o mesmo nível de educação que outros indivíduos, mulheres negras ainda obtém salários mais baixos do que homens negros, além de mulheres e homens brancos. Ou seja, a lacuna salarial é ainda maior para a mulher negra, como resultado da interseção entre o racismo e machismo.

Foto: Jopwell/Pexels.

Desse modo, a instituição de uma data como o 25 de julho possibilita a criação, todo ano, de uma janela de oportunidade para colocar na agenda política os debates sobre os problemas que afetam as mulheres pretas, aumentando sua visibilidade. Ao saber da triste realidade enfrentada por essas mulheres em todo o Continente, não surpreende que essa seja, portanto, uma data tão importante para mulheres negras da América Latina e do Caribe.

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Dia de Tereza de Benguela

Desde 2014, no Brasil, o dia 25 de julho marca também o Dia Nacional de Tereza de Benguela. A data foi instituída por meio da Lei nº 12.987/2014 e relembra a líder quilombola Tereza de Benguela (1700-1770), importante símbolo de resistência à escravidão e da luta contra o racismo na história do País.

Tereza de Benguela viveu no século XVIII. Ela foi esposa de José Piolho, líder do quilombo do Quariterê (Mato Grosso). Quando o marido morreu, sua capacidade de liderança e o respeito que tinha da comunidade fizeram dela a sucessora natural no comando, tornando-a rainha da comunidade negra e indígena.

Imagem da líder quilombola Tereza de Benguela (1700-1770). Foto: Arquivo Nacional.

Os registros indicam que ela criou um parlamento local, organizou a produção de armas, a colheita e o plantio de alimentos, além de chefiar a produção de tecidos. Sob a liderança de Tereza, o quilombo resistiu por mais duas décadas. A venda de produtos excedentes em vilas próximas e a organização de um aparato de defesa com armas trocadas e roubadas dos brancos foram cruciais para essa resistência. Há indícios de que a comunidade dominava a forja e produzia as próprias ferramentas de trabalho com os instrumentos de ferro que eram utilizados contra ela e que ela conseguia capturar.

A morte de Tereza é incerta. Alguns indícios apontam que ela tenha tirado a própria vida após ter sido capturada por bandeirantes, a mando da capitania do Mato Grosso, em 1770. Outra versão diz que ela foi assassinada e teve a cabeça exposta no centro do Quilombo.

A data relembra a história de força e luta dessa líder negra e nos convoca a permanecer firmes, lutando pela erradicação do racismo, pela violência de gênero contra mulheres pretas e pelo fim de uma lógica que vulnerabiliza a população negra no Brasil.

Foto de capa: Bash Mutumba/Pexels.

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