“Pinto o que vi, vivi e senti, por isso minha arte é viva”, declara o artista plástico nordestino Eduardo Lima, 45, que expôs recentemente suas obras em Londres (Inglaterra). Nascido na cidade de Capim Grosso (BA) do sertão do Nordeste, Eduardo trabalhava como frentista em sua cidade quando decidiu que seguiria seu grande amor, as artes plásticas. Suas obras de arte são vivas e marcadas por cores vibrantes, exalam originalidade e transferem sentimento e história em seus traços, que representam tão bem a cultura e o povo nordestino.
Eduardo, ainda criança, se apaixonou pela arte de criar com as próprias mãos ao ver seu pai trabalhar. “A arte entrou na minha vida muito cedo, meu primeiro contato com arte foi aos oito anos de idade, meu pai trabalhava em uma olaria, fazendo telhas, tijolos, potes, e observando o manuseio do barro, fiquei encarando e ali fiz minha primeira escultura de barro ou argila”. É o que conta o artista em uma entrevista ao Site Negrê.
Sua curiosidade e entusiasmo pela arte não pararam por aí; conforme foi crescendo, aprendeu a criar com outros materiais que tinha a sua disposição na escola, como giz de cera e lápis. “Eu também gostava muito desenhar em casa e em sala de aula. Eu desenhava em tudo o que encontrava, panfletos, embalagens vazia de cimento, restos de madeira que eu encontrava tudo virava arte”. Sua primeira pintura em tela veio a ser realizada aos 18 anos.
Eduardo Lima deu seu depoimento ao Negrê a respeito do vínculo com a sua arte, contando em detalhes o nascer desse amor, e sua longa trajetória pra viver daquilo que ama. Contou também suas pretensões futuras e sua visão a respeito da realidade de artistas brasileiros e nordestinos.
Negrê – Qual foi a sua primeira pintura ou a que mais te marcou pra você se perceber um artista?
Eduardo Lima – A primeira pintura que fiz foi a Igreja Matriz de minha cidade, pintei em um pedaço de madeira. Mas, a primeira pintura em tela foi muito especial, eu pintava de tudo um pouco; casario, paisagens, mas eu percebi que aquilo não me satisfazia. Eu queria algo que me identificasse, que tivesse minha identidade. Então, criei meu estilo próprio, minha técnica, personagens com características únicas. Eu queria retratar minhas raízes, o Sertão Nordestino, pintei duas crianças no sertão, essa tela mostra um pouco da dificuldade, mas eles tinham uma esperança, me emociono quando falo dessa obra, pois foi meu primeiro trabalho retratando o Sertão. É isso que me identifica como artista, esse é meu diferencial. Eu pinto o Sertão Nordestino do meu jeito simples e verdadeiro. Retrato a cultura e o cotidiano nordestino. Eu digo sempre que: “Pinto o que vi vivi e senti. Por isso, minha arte é viva”.
N – Você acredita que existe pouca visibilidade e incentivo aos artistas nordestinos? Por quê?
E.L. – A nossa cultura é rica, é linda e forte. Mas, sim é preciso um olhar especial para arte e o artista nordestino, porque o artista cria seu trabalho por amor ao que faz, mas nem todos conseguem viver de sua arte. É muito difícil viver de arte; por isso, é importante que se tenha mais incentivo, apoio para os artistas não só do Nordeste, mas, de todas as partes do país.
N – Pra você, o que significa representar a cultura nordestina para outros estados e países?
E.L. – Representar a cultura nordestina para mim significa resistência. Força é um sentimento muito especial, poder levar nossa cultura para outros lugares e conseguir tocar o coração e resgatar memórias, é quase inexplicável, ver as pessoas se emocionando e valorizando nosso povo, nossa força é um privilégio ímpar.
N – Tendo em vista que você expôs a sua arte em Londres e se torna cada vez mais reconhecido pelo seu belo trabalho, você possui alguma outra meta a ser alcançada por meio da sua arte?
E.L. – Eu amo o que faço, e acredito no poder transformador da arte. Com esse pensamento positivo, quero mostrar meu trabalho, minha arte para o maior número de pessoas possível, quero inspirar pessoas, motivar os jovens a não desistirem de seus sonhos. Minha jornada continua e vou levar o projeto Raízes do Sertão Nordestino para outros estados do Brasil e para outros países. Com fé em Deus e coragem.
N – Se você pudesse descrever suas obras em três palavras, como as definiria?
E.L. – Personalidade, verdade e amor. Personalidade, porque tenho minha identidade própria na minha arte, quem ver uma obra minha sabe que foi eu que criei, tem meu DNA. Verdade, porque minhas obras contam histórias de gente simples, verdadeiras, retratos, memórias, vivências e lembranças. Amor, porque amo o que faço, amo minhas raízes nordestinas, amo a arte.
Tela e tinta, nas mãos talentosas do artista, tem o poder de desmistificar pré-conceitos e visões simplistas a respeito do Nordeste. O artista atualmente tem suas obras espalhadas em mais de 20 países, expondo ao mundo uma outra perspectiva do sertão, uma perspectiva bela e realista, de uma cultura rica e de um povo forte.
Foto de capa: Arquivo pessoal.
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Durante toda a minha formação, o ler, o escrever e o dialogar sempre me causaram entusiasmo; logo percebi que comunicar e trocar vivências me faz crescer, e por que não profissionalmente? Desde que aproximei meus laços com minhas origens, sou interessada principalmente em questões étnico-raciais e anseio colaborar com um Jornalismo que traga voz às narrativas pretas. Graduanda em Jornalismo pela Universidade Anhembi Morumbi (UAM), estagiei em uma agência de comunicação, produzindo e revisando textos publicitários.