A Galeria da Liberdade foi inaugurada com a exposição sob o nome “Negro é um rio que navego em sonhos” (2025) no último dia 18 de junho, em Fortaleza (CE). A proposta ambienta um local com símbolos africanos adinkras, fotos de mulheres negras e obras de diversos artistas negros cearenses. Isso como forma de experimentação artística onde se narram, coletivamente, outros futuros. O espaço (com funcionamento na quarta e quinta-feira, das 10h às 18h, e na sexta e no sábado, das 13h às 20h) será administrado pelo Museu da Imagem e do Som do Ceará (MIS) e integrante do conjunto arquitetônico do Palácio da Abolição.
Com a finalidade de reiterar a defesa e garantia dos direitos humanos na construção de uma sociedade decolonial e democrática, o espaço nasce a partir da ressignificação do espaço que antes sediava o antigo Mausoléu Castello Branco, construído para receber restos mortais do presidente nascido no Ceará, Humberto Castelo Branco, articulador do golpe militar de 1964.
“Nós estamos muito alegres de poder estar entregando ao povo cearense, ao povo de Fortaleza, a Galeria da Liberdade, que vai servir para o nosso povo ver exposições, participar de rodas de conversa, de debates, discussões em um espaço que é de unidade do povo cearense. Aqui é a sede do poder político cearense, aqui é o Palácio da Abolição e teremos agora a Galeria da Liberdade. É um espaço para superarmos o racismo, superarmos preconceitos e garantir que tenhamos sempre a manifestação em favor da democracia, dos direitos humanos e da liberdade do nosso povo”, discursou o governador Elmano de Freitas durante a abertura.
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“Negro é um rio que navego em sonhos“
Ao propor abrir o espaço a céu aberto para repensar a presença negra e indígena no Estado, a exposição tem curadoria de Ana Aline Furtado, mulher negra e artista visual multidisciplinar. “A proposta curatorial parte da memória coletiva e dos modos de viver, de resistir, de sonhar, de produzir, de cuidar, de cantar, de escutar, de observar o céu, de rezar, de realizar e de construir novas memórias para a geografia da cidade”, afirma a curadora, que também é advogada.
As obras que integram a exposição são de Alexia Ferreira, Blecaute, Cecília Calaça, Clébson Francisco, Darwin Marinho, Roberto Silva, kulumyn-açu, Luli Pinheiro, Suellem Cosme, Trojany e Wellington Gadelha.
A Galeria da Liberdade transmite a mensagem de “pensar a convivialidade que pode ser gerada com a ocupação, restaurando novos regimes de produção de memória a partir do mesmo espaço, instaurando presenças capazes de reorganizar os significados simbólicos dessa monumentalidade na paisagem urbana e mobilidade dos indivíduos. Para quais espaços curar quais obras? Que obras possuem o poder de curar a ferida que a colonização criou? Ser conhecido nominalmente é uma afirmação de presença. Não repetir o nome. Falar os nomes que nunca são ditos”. É o que destaca a curadora Ana Aline Furtado.
O espaço é adornado com adinkras (símbolos ideográficos da cultura do povo Akran, na África Ocidental) e retratos de mulheres negras que são e foram pilares para o movimento negro no Ceará. Entre elas estão: Ana Souza, Balbina, Cris Faustino, Cristina Nascimento, Dediane Souza, Elissânia Oliveira, Joelma Gentil do Nascimento, Joseli N. Cordeiro, Laura Gomes, Lourdes Vieira, Preta Tia Simôa, Sandra Petit, Teresa Soares, Veronizia Sales e Wanessa Brandão.
“Você as escuta, mas não sabe de onde elas vêm. Você nunca as viu. A lida com a ausência é física. Você sente no corpo. O corpo que é o nosso lugar de existir, de reinventar, é também, neste momento, o lugar do fazer, o lugar do contar e do cantar as vozes que nos lembram de pedir por justiça. As mulheres negras são o fundamento da história do nosso povo. [Uma após outra]. É por essa razão que repetimos o nome umas das outras, para assentar nosso corpo no mundo e na história que agora nós mesmas escrevemos!”, ressalta a curadora.
Confira detalhes
Exposição “Negro é um rio que navego em sonhos”
Visitação: quarta e quinta-feira (das 10h às 18h), sexta e sábado (das 13h às 20h)
Local: Galeria da Liberdade
Endereço: Avenida Barão de Studart, 505, em Aldeota – Fortaleza (CE) – CEP: 60120-000
Acesso gratuito
Foto de capa: Hiane Braun.
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Estudante de Jornalismo pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Com uma paixão por contar histórias ignoradas pela mídia tradicional, dedica-se ao jornalismo de denúncia e celebração, principalmente ao jornalismo negro. Busco potencializar as vozes não ouvidas e trazer à tona narrativas raciais e sociais que importam: a celebração e resistência negra. Acredito no poder transformador da informação e no papel do jornalista como agente de mudança, comprometida com a justiça social e promoção da diversidade.