Som de Preto

Nego Gallo une arte visual e rap no videoclipe do single ‘Sintera’

Concretizando o fim de um hiato de pouco mais de cinco anos desde o lançamento de ‘Veterano’ em 2018, o rapper brasileiro Nego Gallo lança o clipe do single ‘Sintera’ nas plataformas digitais de vídeo. Unindo artes visuais e rap, o videoarte de um único take expressa a preocupação do artista com sua imagem e adianta a potente identidade visual do novo álbum ‘Yopo’. O lançamento oficial foi realizado na última segunda-feira (26).

“Eu tenho, de certa forma, uma preocupação com a questão da imagem. Eu não sou um negro retinto. Eu não sou um homem de pele escura no sentido dessa negritude. Eu sou muito mais parecido com um indígena: meus traços, meu rosto, meus olhos. E quando a gente vai falar dessa imagem, historicamente, é uma imagem que é deturpada”, afirma Gallo.

Foto: Clara Campelo

Mesmo inseguro com fotografias por conta disso, ele mergulhou no ensaio fotográfico para divulgar o novo álbum. Gostou do resultado alcançado com a fotógrafa Clara Capelo e decidiu levá-lo para ‘Yopo’. Se em ‘Veterano’, álbum que fez sucesso em todo o país, o rapper focava na realidade da favela e na guerra que tomava as ruas de Fortaleza no período, agora em ‘Yopo’ ele lança o mesmo olhar crítico ao país, mas está preocupado também em olhar para dentro de si após o choque e a longa reflexão que vivenciou durante a pandemia.

Embora sua produção tenha se iniciado despretensiosamente, o resultado é um videoarte com estudo de cores e contrastes. A concepção visual é de Kambô, artista visual que mistura a cultura tradicional com a tecnologia, trabalhando com desenhos e pinturas que abraçam das cores vivas da Amazônia à arte digital.

O videoarte também conta com imagens de Luan Rodrigues, câmera de Clara Capelo e direção de arte de Wellington Gadelha. “Esse videoclipe assina a identidade visual que está vindo aí em ‘Yopo'”, resume Gadelha. Ele está disponível no canal do artista no Youtube e no Instagram.

Aos 49 anos, cantando rap e vindo do Nordeste, Gallo enfrentou alguns hiatos na música, seja pela necessidade de reinventar-se após o fim do grupo Costa a Costa ou pelas imposições da pandemia, que adiaram seus projetos. O novo clipe e o álbum que está sendo finalizado mostram que o rapper criado na periferia de Fortaleza, crescido em uma das maiores favelas da América Latina, segue jovem e potente. 

“Eu nasci dentro do hip hop, e o hip hop me permitiu manter o coração jovem. Eu perdoo o que eu vivi no sentido de entender que tudo isso me trouxe até aqui, saca? Isso me faz jovem, forte e me faz parte desse novo momento da música e da arte”, diz. O novo disco promete uma visão fora das normas e das caixas. “Não só da minha cidade, mas deste país fora do eixo”, explica.

Em ‘Yopo’, Nego Gallo busca um novo caminho. É um convite do artista para que o público conheça assuntos que ele julga merecerem destaque, direcionando o foco para as questões sociais, culturais e políticas que são importantes para ele, sem tirar o pé da rua e das comunidades.

A produção do novo álbum – do qual faz parte ‘Sintera’- foi viabilizada graças à participação de Gallo na Semana Internacional de Música de São Paulo (SIM) em 2023. O rapper venceu o Pitch de Novos Artistas: UnitedMasters e firmou parceria com a distribuidora norte-americana. 

Sobre o artista

O rapper criado em uma comunidade da costa oeste de Fortaleza, o Pirambu vez por outra desce o país para influenciar o rapper nacional a partir do Sudeste. No grupo Costa a Costa, ganhou projeção nacional por volta de 2007, com o amigo Don L. Alguns anos depois, em 2019, Gallo volta a ganhar espaço no país com o álbum Veterano, onde falava da cidade de Fortaleza e das relações que culminaram numa guerra que se desdobrava naquele momento. 

Agora, Gallo olha para si e para o Brasil fora do eixo. Seu retorno é marcado por uma mensagem poderosa e musicalmente envolvente, que se recusa a ignorar a forte polarização do país. Ele reflete sobre as complexidades do Brasil (e do Nordeste) evidenciadas desde a pandemia. 

Foto de capa: Clara Campelo

LEIA TAMBÉM: São Luís, a “Jamaica brasileira”, é agora a Capital Nacional do Reggae

Inscreva-se na newsletter do Negrê aqui!

Compartilhe: