Artigos Escrita Negra

O (des)amor do negro.

Eu queria hoje falar com vocês sobre uma coisa muito importante que eu reparei na minha vida e comecei a questionar sobre o amor, né? Que é bem dicotômico, mas, ao mesmo tempo, é muito real dentro das crenças que a branquitude construiu durante todos esses anos.

Você já repararam que os exemplos de amor que permeiam, normalmente, a nossa forma de pensar, eles estão em dois pontos completamente distantes. De um lado religioso, a gente acredita que o amor está nas coisas simples, pequenas atitudes, tudo isso vale como amor. De um outro lado, nos é ensinado que o amor um jogo. O amor é aquilo que a gente tem que criar um equilíbrio, né? Balancear de uma forma a mentir e enganar. Até mesmo, ser traiçoeiro de alguma forma para que o amor possa ser jogado e vivido para acender a chama desse amor.

Mesmo que a gente tenha essas grandes diferenças entre um lado e outro, você já reparou como é interessante que, mesmo esses dois tipos diferentes de amor; o que existe jogado pela sedução e o que existe entregue pelas coisas simples, eles confluem em um único ponto: a morte.

Em um, você promete dar vida pela pessoa pessoa, mas não sustenta viver com aquela pessoa. No outro, você vive uma doação onde a morte vale a pena para que o outro seja cresça, sinta-se amado. E eu me perguntei: “Mas é esse amor que eu quero? Porque eu não sinto esse amor quando eu perco uma pessoa que eu amo”. Eu sinto dor.

Foto: Imagem gerada por Inteligência Artificial (IA) no Canva.

Eu não sinto esse amor quando eu vejo uma pessoa sofrendo, uma pessoa que eu amo sofrendo. E é tão interessante que a gente, por meio de um padrão de branquitude, vive esse amor sem se questionar. O amor que pode ser uma coisa simples construída no dia a dia, quando entra no formato de jogo, pode se tornar difícil. Porque se os dois forem jogadores, ou então até mesmo, se for um jogador experiente e outro jogador inexperiente; a dor que pode ser sentida é justificada pela adrenalina, pela sensação de controle.

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Ao mesmo tempo, a gente consegue ouvir promessas de amor que são incríveis e duras também. E querer exatamente o contrário, mas não ter a força para ir contra. Alguma vez na vida, você pode ter ouvido: “Eu daria a minha vida por você”. Mas você já pensou em responder a essa pessoa: “Mas eu quero que você viva comigo!”. Essa é a diferença cultural que existe entre o amor que a branquitude nos ensina e o amor que a gente pode aprender em outras comunidades.

Foto: Imagem gerada por Inteligência Artificial (IA) no Canva.

Comunidades afrodescendentes, elas podem trazer esse amor dentro do contexto de: a gente pode viver esse amor de forma plena e transbordar esse amor para as comunidades. A gente pode viver o amor como forma de cura daquilo que a nossa ancestralidade nos ensinou de maneira pejorativa. A gente pode viver esse amor não apenas entre dois lados que são antagônicos, mas conversam na morte. A gente pode viver esse amor no regozijo, no sorriso do nosso parceiro, parceira, parceire*. A gente pode de viver dentro desse momento com os nossos filhos.

A gente pode viver, sim, esse amor de maneira clara; dentro daquilo que a gente começa a construir em meio a tudo o que a gente vive. Pequenas construções de amor edificam não apenas valores financeiros, mas a alma e o coração daqueles que se sentem amados. Porque o amor, ele não é uma coisa que se compra, mas uma experiência que se vive, cura e revitaliza. Muito obrigado!

*Uso da linguagem inclusiva: o Negrê opta por usar o “e” para neutralizar o gênero da palavra e incluir àqueles que não se identificam com feminino ou masculino.

Foto de capa: Imagem gerada por Inteligência Artificial (IA) no Canva.

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