Eu queria hoje falar com vocês sobre uma coisa muito importante que eu reparei na minha vida e comecei a questionar sobre o amor, né? Que é bem dicotômico, mas, ao mesmo tempo, é muito real dentro das crenças que a branquitude construiu durante todos esses anos.
Você já repararam que os exemplos de amor que permeiam, normalmente, a nossa forma de pensar, eles estão em dois pontos completamente distantes. De um lado religioso, a gente acredita que o amor está nas coisas simples, pequenas atitudes, tudo isso vale como amor. De um outro lado, nos é ensinado que o amor um jogo. O amor é aquilo que a gente tem que criar um equilíbrio, né? Balancear de uma forma a mentir e enganar. Até mesmo, ser traiçoeiro de alguma forma para que o amor possa ser jogado e vivido para acender a chama desse amor.
Mesmo que a gente tenha essas grandes diferenças entre um lado e outro, você já reparou como é interessante que, mesmo esses dois tipos diferentes de amor; o que existe jogado pela sedução e o que existe entregue pelas coisas simples, eles confluem em um único ponto: a morte.
Em um, você promete dar vida pela pessoa pessoa, mas não sustenta viver com aquela pessoa. No outro, você vive uma doação onde a morte vale a pena para que o outro seja cresça, sinta-se amado. E eu me perguntei: “Mas é esse amor que eu quero? Porque eu não sinto esse amor quando eu perco uma pessoa que eu amo”. Eu sinto dor.

Eu não sinto esse amor quando eu vejo uma pessoa sofrendo, uma pessoa que eu amo sofrendo. E é tão interessante que a gente, por meio de um padrão de branquitude, vive esse amor sem se questionar. O amor que pode ser uma coisa simples construída no dia a dia, quando entra no formato de jogo, pode se tornar difícil. Porque se os dois forem jogadores, ou então até mesmo, se for um jogador experiente e outro jogador inexperiente; a dor que pode ser sentida é justificada pela adrenalina, pela sensação de controle.
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Ao mesmo tempo, a gente consegue ouvir promessas de amor que são incríveis e duras também. E querer exatamente o contrário, mas não ter a força para ir contra. Alguma vez na vida, você pode ter ouvido: “Eu daria a minha vida por você”. Mas você já pensou em responder a essa pessoa: “Mas eu quero que você viva comigo!”. Essa é a diferença cultural que existe entre o amor que a branquitude nos ensina e o amor que a gente pode aprender em outras comunidades.

Comunidades afrodescendentes, elas podem trazer esse amor dentro do contexto de: a gente pode viver esse amor de forma plena e transbordar esse amor para as comunidades. A gente pode viver o amor como forma de cura daquilo que a nossa ancestralidade nos ensinou de maneira pejorativa. A gente pode viver esse amor não apenas entre dois lados que são antagônicos, mas conversam na morte. A gente pode viver esse amor no regozijo, no sorriso do nosso parceiro, parceira, parceire*. A gente pode de viver dentro desse momento com os nossos filhos.
A gente pode viver, sim, esse amor de maneira clara; dentro daquilo que a gente começa a construir em meio a tudo o que a gente vive. Pequenas construções de amor edificam não apenas valores financeiros, mas a alma e o coração daqueles que se sentem amados. Porque o amor, ele não é uma coisa que se compra, mas uma experiência que se vive, cura e revitaliza. Muito obrigado!
*Uso da linguagem inclusiva: o Negrê opta por usar o “e” para neutralizar o gênero da palavra e incluir àqueles que não se identificam com feminino ou masculino.
Foto de capa: Imagem gerada por Inteligência Artificial (IA) no Canva.
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Psicólogo (CRP: 11/11607) e Palestrante. Um criolo cearense buscando ascensão social em massa para o povo preto. Graduado em Psicologia pela Universidade de Fortaleza (Unifor). Especialista em Psicologia Positiva pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS). É Fundador e CEO do projeto “Por Mais Simples que Seja”. Gosta de pensar sobre a vida e conversar com pessoas sobre perspectivas de ascensão e crescimento pessoal.