Tela Preta

Pantera Negra e a importância de se ver presente

Imagine ser uma criança fã de super heróis, que leu quadrinhos de vários gêneros, que cresceu lendo sobre a Mulher Maravilha, o Capitão América, o Homem de Ferro. Uma criança que buscou migalhas de representatividade até parar de buscar.

Agora visualize uma criança negra com essa vivência, uma criança negra que sempre se viu como alvo ou vítima, pois assim era representada em todas essas histórias. Pense agora nessa criança se vendo como herói, heroína, guerreira, gênio da tecnologia ao assistir ao filme Pantera Negra (2018).

Desde a estreia no mundo dos quadrinhos em julho de 1966 com a Fantastic Four #52, o Pantera Negra teve essa função de traduzir os movimentos sociais para a linguagem mais popular em cores dentro dos quadrinhos. Mais de 50 anos depois, em 2018, o personagem ganhou o primeiro filme solo e seguiu trazendo essa relevância para dentro das telonas, mostrando a importância do debate dos movimentos sociais e raciais sem medo de colocar o dedo nas feridas dos EUA, antigas ou atuais, ao mesmo tempo em que consegue entregar um filme de herói cheio de empolgação e ancestralidade.

A história

No filme, acompanhamos a história do príncipe T’Challa (Chadwick Boseman) se tornando rei. Ela se passa após os eventos exibidos no filme Capitão América: Guerra Civil (2016), onde, após uma explosão durante a assinatura do tratado de Sokovia, o rei T’Chaka (John Kani) acaba morrendo, deixando o trono vago para o filho assumir.

Durante os minutos do filme, uma explosão de representatividade toma conta da tela: pela primeira vez um super herói negro é o personagem principal da história; é quem dita as regras da competição; é o rei da cena. Em Pantera Negra, nos vimos atentos com sorriso nos rostos, a identificação veio. As cores vibrantes do filme, a direção atenta e ativa de Ryan Coogler (Creed: Nascido para lutar, 2015) abrilhantam ainda mais uma obra que veio para ficar, seja nos corações ou imaginário do que significa ser um herói.

O exército das Dora Milaje, comandado pela brilhante e fiel Okoye (Danai Gurira), é responsável por cenas de ação de encher os olhos. Ao lado da espiã Nakia (Lupita Nyong’o), elas provam que não há coadjuvante descartável e nem representatividade vazia. Ambas lidam com diferentes questionamentos acerca de Wakanda e do que significa sua fidelidade ao mesmo tempo em que não erram em seus posicionamentos, mesmo quando precisam ser opostos.

Shuri (Letitia Wright), a irmã mais nova de T’Challa, e o agente Everett K. Ross (Martin Freeman) são responsáveis por um humor mais explícito, o que poderia ser um problema e destoar do plot central, mas a história é bem construída e amarrada. Os atores entram na ação do terceiro arco e se integram NA mesma batalha dos personagens principais.

As cenas finais do filme, principalmente a luta entre T’Challa e Killmonger, nos lembra que efeitos especiais são igualmente importantes quando se fala de estrutura de filmes de super-herói. Quando o conflito se torna mais próximo, os efeitos especiais ficam de lado e assistimos a um conflito no qual é impossível torcer para alguém, mesmo que a construção do filme te diga que o herói merece vencer.

A construção do vilão

Erik Killmonger (Michael B. Jordan) é pintado como o vilão do filme, mas desde seu primeiro questionamento logo na primeira cena em que aparece (“Onde acha que os seus ancestrais conseguiram isso? Acha que pagaram um preço justo ou tomaram como fazem com tudo?“), somos apresentados a alguém que viveu às margens da sociedade, desenvolveu um senso crítico e entende as dores de seu povo, por ter sido criado longe da boa vida em Wakanda.

Killmonger é a representação de jovens negros que conhecem a marginalidade, a tristeza, o peso de perder parentes e se ver sozinho. Por isso, ao entendermos todo seu ponto principal, é difícil discordar dele enxergá-lo como vilão, quando o próprio herói chega à conclusão de seu arco concordando com aquele que deveria ser seu arqui-inimigo.

Os dados

De acordo com o site agregador de críticas Rotten Tomatoes, o filme possui uma avaliação de 97%, que o coloca como o maior do gênero, após superar O Cavaleiro das Trevas e Homem de ferro de 2008, ambos com 94% de aprovação. Pantera Negra arrecadou mais de US$ 1,3 bilhão mundialmente, se tornando o quinto filme no universo cinematográfico Marvel a passar da barreira do bilhão e a segunda maior bilheteria de 2018, atrás apenas de Vingadores: Guerra Infinita.

A obra conquistou também o feito de ser a maior estreia da história de um diretor afro-americano, bem como a maior de um filme estrelado predominantemente por atores negros. Atualmente, o filme é a décima segunda maior bilheteria de todos os tempos.

Confira o trailer:

FICHA TÉCNICA
Pantera Negra
Ano: 2018
País de origem: Estados Unidos
Duração: 135 minutos
Gênero: Filme de super-herói/Fantasia
Direção: Ryan Coogler
Produção: Kevin Feige, Louis D’Esposito, Victoria Alonso ,Nate Moore, Stan Lee e Jeffrey Chernov
Roteiro: Joe Robert Cole e Ryan Coogler
Elenco: Chadwick Boseman, Michael B. Jordan, Lupita Nyong’o, Letitia Wright, Martin Freeman, Daniel Kaluuya, Angela Bassett, Winston Duke, Danai Gurira, Andy Serkis, Forest Whitaker
Disponível: Telecine

Foto de capa: Divulgação.

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