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Uma Cinderela negra interpretada por Monike Cristina na Joburg Ballet da África do Sul

A bailarina brasileira Monike Cristina, 31, interpreta o papel principal no ballet de Cinderela na nova temporada da Joburg Ballet, uma companhia profissional de dança situada em Joanesburgo (África do Sul). A sequência de performances terão início nesta sexta-feira, 30, com o Opening night no Joburg Theatre, e vão até o próximo dia 9 de outubro.

Os bailarinos Monike Cristina, 31, e Ruan Galdino, 26, como bailarinos principais no espetáculo de Cinderela da Jobur Ballet. Foto: Lauge Lorensen.

Nascida em Piracicaba (SP), Monike Cristina começou a dançar aos seis anos de idade no Criação Ballet. E ainda na sua terra natal, passou pelo Portal Sports, Coronel Barbosa, Carina Castro Ballet e Clube de Campo Piracicaba. Aos 14 anos, mudou-se para São Paulo (SP) no desejo de dar continuidade aos seus estudos no ballet, participando da Malosa Studio de Dança e depois Ilusão & Vida.

A bailarina profissional Monike Cristina, 31. Foto: Ivan Domiciano.

Em sua trajetória no universo do ballet clássico, profissionalizando-se a partir de seus 18 anos, a paulista passou pela Companhia Estável de Dança de Piracicaba (CEDAN) sob direção de Camilla Pupa, Clélia Serrano Dança e Arte (CESDA), Cia Jovem Bolshoi Brasil (Joinville), São Paulo Companhia de Dança (SPCD) e, atualmente, está na Joburg Ballet (África do Sul), desde 2016. Companhia através da qual já participou de 16 temporadas, com cargos de solista, solista sênior e principal.

Bailarina negra construindo uma história de 25 anos na dança, ela soma diversas experiências, pois já participou de competições e galas mundo afora, como o Youth American Grand Prix (YAGP) em Nova Iorque (Estados Unidos), Tanzolymp em Berlim (Alemanha), Black Swan Gala e Virtuose em 32 cidades da Rússia, Ucrânia e Moldávia, Gala New York Star’s na Cidade do Cabo (África do Sul), além de ter passado pelo Paraguai e pela Suíça.

A bailarina paulista Monike Cristina, 31. Foto: Lauge Sorensen.

No desejo de conhecer um pouco mais sobre Monike Cristina e sua caminhada inspiradora, a reportagem do Negrê realizou entrevista exclusiva com a bailarina profissional. Confira a conversa a seguir:

Negrê – Como e quando começou sua vontade por se dedicar ao ballet clássico? E como percebeu que poderia se dedicar a uma carreira profissional?

Monike Cristina Foi quando minha mãe me levou ao teatro em uma apresentação de final de ano de uma academia na minha cidade e me deixou livre para escolher qual estilo de dança que eu me identificava mais. Neste dia, eu vi o Ballet clássico. Como sempre tive o hábito de ouvir música clássica com meus avós maternos, acabou se tornando minha paixão a primeira vista. Eu acredito que foi aos meus 14 anos que eu realmente percebi que não conseguiria ficar sem o ballet na minha vida e falei com a minha mãe que era isso que eu queria fazer como profissão na minha vida.

N – Como bailarina negra, qual a importância de ser a bailarina principal em uma companhia sul-africana?

M.C. – Acredito que como toda bailarina principal de sua empresa é algo lindo, uma grande conquista e é maravilhoso. Mas ao mesmo tempo, é uma grande responsabilidade por estar representando toda uma empresa e, no meu caso, por ser negra não só a empresa mas estar além disso: sendo referência para as próximas gerações negras e inspirar novos talentos. E eles verem que os sonhos deles é sim possível de se tornarem realidade.

Monike Cristina dançando o ballet de Paquita pela Joburg Ballet. Foto: Lauge Sorensen.

N – Quais as suas dificuldades e os seus desafios enquanto bailarina negra e brasileira na África do Sul?

M.C. – Eu sempre falo que aqui na África do Sul eu sou muito bem acolhida. Desde quando eu cheguei aqui no ano de 2016, eu me senti bem, me adaptei rápido. Acho que talvez o maior desafio será e sempre serão cada temporada a dedicação e empenho no trabalho para obter um resultado satisfatório. Notei que muitas crianças negras passaram a se identificar mais com o mundo dos contos de fadas pelo simples fato de ver no palco alguém semelhante, de ver meu tom de pele, ver o tom de meia calça que uso, cor da sapatilha que eu uso. Para alguns, isso pode não parecer nada mas para outros isso é tudo pelo simples fato do respeito.

Monike Cristina no ballet de Raymonda pela Joburg Ballet. Foto: Lauge Sorensen.

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N – Você já interpretou a Cinderela antes? Como está sendo o processo de preparação para o espetáculo?

M.C. – Sim, eu já tive a oportunidade de interpretar Cinderela. E agora estou adorando o processo da remontagem, como sempre desafiador. Mas desta vez, como já é a segunda vez você acaba tendo mais tempo de explorar os passos e o personagem, está sendo bem legal.

Os bailarinos Monike Cristina, 31, e Ruan Galdino, 26. Foto: Lauge Lorensen.

N – O que você diria para incentivar outras jovens negras que desejam seguir carreira como bailarina profissional?

M.C. – O que eu posso dizer é que para qualquer sonho se tornar realidade é necessário muito trabalho e muita dedicação, mas não é impossível sempre procure ser e fazer o seu melhor.

Os bailarinos Monike Cristina, 31, e Ruan Galdino, 26. Foto: Lauge Lorensen.

*Correspondente internacional do Negrê para países da África

Foto de capa: Lauge Sorensen.

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