Você já deve ter ouvido falar na palavra renascer, mas você já pensou sobre o peso dessa palavra dentro das nossas vidas? Renascer não é exatamente uma coisa que cobre uma reencarnação ou até mesmo um retorno à vida. Renascer nos arremete a ressignificar. A ir além de quem nós fomos, ir além das gerações anteriores com os aprendizados ancestrais e recursos ancestrais que podemos utilizar.
Honrar é uma forma de renascer. Crescer é uma forma de renascer. Podemos considerar toda evolução como uma forma de renascer. Porque nós saímos de um estado de ignorância e avançamos para um estado de compreensão que é novo. Um estado este que pode nos levar a crescer de formas diferentes. Não falo apenas financeiramente, mas também de forma a amadurecer. Ter mais sabedoria ao invés de apenas recolher informações de uma maneira ignorante.
E é nesse lugar onde a gente amadurece; nesse lugar onde nós crescemos, nesse lugar aonde nos transformamos é que está a nossa “Sião”. Longe de mim fazer um texto sobre pró-aborto ou contra-aborto, mas vou utilizar dois pontos completamente diferentes para poder ressaltar às vezes o sofrimento que existe dentro das comunidades negras.
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Possibilidades
Porque, ao mesmo tempo em que a gente consegue ver dentro da história de Lauryn Hill, ela poder olhar para si e dizer não; a sua ascensão meteórica na época, saindo de uma banda chamada Fogui e criando o seu primeiro álbum solo… que, até hoje, é respeitado por qualquer artista; a gente vê ela escolher a vida de Sião ou Zion… melhor dizendo, que é o nome do seu filho.
E ela, olhando para todas as possibilidades de crescimento; ouvindo todas as possibilidades de crescimento que ela poderia ter como marca de sucesso dentro de um acúmulo de dinheiro, dentro de recompensas ilustres, dentro de um status social, ela olha para dentro e diz: “Esse é o meu filho!”. E as portas da minha vida hoje se abrem para Sião, que é esse filho. Ao mesmo tempo em que a gente tem essa história ensolarada da Lauryn Hill, a gente tem do outro lado o documentário “Aborto: Histórias contadas por mulheres” (2016), que está disponível na HBO Max.
Eu achei muito interessante porque, nesse documentário, nós vemos os mais diversos tipos de pessoas; tomando escolhas às vezes por suas carreiras ou até mesmo amaldiçoando suas escolhas por terem tomado decisões que não foram fáceis, mas decisões que não não saíram de dentro para fora.
Acho muito interessante ver como as nossas escolhas têm peso! E esse peso só pode ser reduzido quando nós somos o impulso desse peso, quando nós somos os donos das nossas escolhas.
Tesouros
Achei muito interessante pensar sobre essa questão de Sião e me foi muito dolorosa também; porque hoje, como pai, eu percebo como é interessante, como é legal, como é regogizante você ter um filho. Mas, ao mesmo tempo, como pode se tornar pesado você gerir a sua carreira e querer ser um pai presente, diferenciando-se muitas vezes daquele contexto que é dito e repetido nas mais diferentes famílias negras que a gente pode conviver. Hoje, eu percebo como é difícil fazer uma escolha entre o que fazer da minha carreira e o que fazer da minha família. Mas o maior aprendizado que eu pude aprender em meio a tudo isso foi: “Sião é o tesouro que você mais investe”.
Não falo aqui que a pobreza é uma coisa que pode ser valorizada. Não, todos nós devemos ter no mínimo a dignidade de poder administrar as nossas finanças, devemos ter a dignidade, de poder tomar as nossas próprias decisões.
Mas, ao mesmo tempo em que eu reconheço isso, eu valorizo os tesouros que existem na vida. E o Sião, que, pra mim não se chama Zion, mas o Sião que, pra mim se chama “Akais”, Sião e que para mim se chama “Sarabe”, Sião para mim que se chama “clínica”, Sião para mim que se chama “família”, Sião para mim que se chama “Beatriz” e os mais diversos Siões que ocupam o meu coração.

E agora eu pergunto a você: Onde está o seu Sião? Onde se encontra o seu tesouro? Para onde vão as suas escolhas?
Referências
Lauryn Hill. To Zion ou Para Sião. The Miseducation of Lauryn Hill. Intérprete: Lauryn Hill. Jamaica: Ruffhouse Records, 1998.
Abortion: Stories Women Tell ou Aborto: Histórias Contadas por Mulheres. Direção: Tracy Droz Tragos. Produção: Tracy Droz Tragos. Estados Unidos: HBO Documentary Films e Dinky Pictures, 2016. Disponível: Amazon Prime Video e HBO Max.
Foto de capa: Imagem gerada por Inteligência Artificial (IA) no Canva.
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Psicólogo (CRP: 11/11607) e Palestrante. Um criolo cearense buscando ascensão social em massa para o povo preto. Graduado em Psicologia pela Universidade de Fortaleza (Unifor). Especialista em Psicologia Positiva pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS). É Fundador e CEO do projeto “Por Mais Simples que Seja”. Gosta de pensar sobre a vida e conversar com pessoas sobre perspectivas de ascensão e crescimento pessoal.