Jessika Oliveira, escritora, graduada em Letras e mestra em Relações Étnicas, ambas formações pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), é uma voz potente no cenário literário brasileiro. Mulher negra e nordestina, nascida no município de Baixa Grande (Bahia); Jessika transformou sua história em inspiração e sua escrita em ferramenta de conexão e transformação. Em sua trajetória, destaca a importância das experiências pessoais e acadêmicas; o impacto dos projetos que idealizou e a forma como sua visão da literatura transcende barreiras.
“Costumo dizer que a minha escrita não é algo fixo; ela se molda com as experiências”, reflete Jessika Oliveira. Sua jornada inclui vivências em espaços acadêmicos, como o Órgão de Educação e Relações Étnicas (ODEERE), onde desenvolve seu mestrado, até iniciativas práticas que dialogam com a comunidade. “Escrevo para além dos muros da academia. Meu propósito é alargar as discussões, fazendo caber mais gente”, completou.
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Desde cedo, a baiana encontrou na literatura uma maneira de expressar e compartilhar suas vivências. “A literatura tem sido uma ponte importante para construir relações humanas. Minha formação acadêmica tem me ajudado a entender como escrever também pode dialogar com o ensino, a pesquisa e a extensão”. No mestrado, ela trabalha com um tripé fundamental: levar conhecimento para além da teoria, alcançando a prática social.
“O que mais me inspira é saber que minha escrita pode ajudar a construir um mundo menos desigual. É importante reconhecer que a literatura, muitas vezes, excluiu vozes negras e periféricas. Eu trabalho com a literatura negra não apenas como uma reparação histórica, mas também como uma celebração de sua qualidade, inclusão e representatividade”, afirma a escritora baiana.
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Além do escrever
A nordestina Jessika Oliveira é mais do que uma escritora; ela é uma ponte entre mundos. Sua escrita conecta histórias, pessoas e culturas, sempre com o objetivo de incluir, questionar e transformar. Seja nas páginas de um livro, em uma sala de aula ou em eventos internacionais. Jessika continua a expandir os horizontes da literatura brasileira, levando consigo a força e riqueza de suas origens.
Ela deu um passo importante em sua carreira ano passado ao apresentar seu livro “Festa de Aniversário“ na Feira do Livro de Maputo (Moçambique). A oportunidade veio através do edital de Mobilidade Cultural do Governo da Bahia. “Foi uma experiência única. Para uma menina negra do interior da Bahia, atravessar o mundo foi muito enriquecedor. Mais uma vez, a literatura mostrou o quanto podemos ir juntas bem longe”.
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Além de Maputo, Jessika também visitou Joanesburgo (África do Sul), onde teve a chance de aprofundar seus estudos sobre etnicidades. “Essas experiências reforçaram o quanto precisamos parar de pensar na África como um lugar resumido a misérias. África é um continente diverso, com culturas riquíssimas. É fundamental desconstruir a visão limitada apresentada em muitos livros de história”, disse em entrevista ao Negrê.
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Durante suas palestras na Feira de Maputo, Jessika abordou temas, como literatura negra e projetos de leitura, além da importância de incluir mais vozes na literatura e de como ela pode ser uma ferramenta para criar um projeto de mundo mais igualitário. “É preciso questionar essa ideia de que existe uma literatura maior e outra menor”.
Uma de suas marcas é a conexão com as comunidades onde atua diretamente. Em Baixa Grande, ministrou oficinas de escrita criativa na escola pública onde estudou, incentivando jovens a explorarem seu potencial literário, o que considera um momento único em sua trajetória. “Foi muito emocionante voltar às minhas origens como escritora e poder compartilhar o que aprendi. Quero ser uma referência para a juventude de lá”.
Outra iniciativa de destaque é o Clube da Leitura Preta, projeto criado por ela em Jequié (BA). Voltado para adolescentes quilombolas, o clube promove a leitura de obras de autores negros. “O clube é o meu espaço de pesquisa no mestrado, mas também é muito mais que isso. Ele já tem mais de dois anos e é conhecido mundialmente. Trabalhamos literatura negra como forma de valorizar a identidade, fortalecer a herança africana e construir relações de respeito às diferenças”, explicou.
Um conselho para jovens escritores
Jessika deixou uma palavra para motivar novos escritores que enfrentam as barreiras do mercado editorial, que costuma valorizar menos escritores negros e mulheres:
“Eu diria para nossos jovens escritores que ainda não conseguiram publicar um livro, por exemplo, que não desanimem. Vocês não serão escritores apenas se publicarem. Precisamos entender que o mercado editorial ainda é machista, racista, patriarcal e excludente. Então, está tudo bem se você escreve, mas ainda não conseguiu publicar. Mas use a estratégia de mostrar aos seus amigos, às pessoas próximas de você. Faça com que a sua literatura circule sempre que possível, não desanime, e, sempre que as horas de “bloqueio de escrita” chegarem, tentem entender que tudo passa, apesar de parecer clichê. Não existe uma receita de bolo para ser escritor. Cada um vai lidar com as palavras com as suas técnicas e também inspirações. Deixo para vocês a mensagem de que ninguém pode realizar o seu sonho no seu lugar. Então, vamos juntos!“.
Foto de capa: Taramins Gil.
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