O Festival Mada 2025 (Música – Alimento da Alma) aconteceu nos últimos dias 17 e 18, em Natal (RN). E como em todas as edições, fez o público vibrar com muita energia, música e representatividade. Em comemoração aos 27 anos do evento, o Site Negrê marcou presença para acompanhar de perto as potências negras do cenário musical regional e nacional que passaram pelo palco.
Abrindo a programação do evento; Dani Cruz, mulher negra potiguar, cantora de voz marcante e filha da casa, se apresentou pela primeira vez no palco principal, contagiando o público com sua energia e emoção. Para Dani, estar no Mada foi uma realização especial. “Já estive no festival como público por seis anos. Antes eu ia só pra curtir, ver artistas que admiro. Então, subir naquele palco agora é muito simbólico. É um lugar afetivo pra mim e fazer meu show ali, ver o público se conectando foi uma sensação de sonho realizado”, contou.

O show marcou também a segunda apresentação do álbum Canto de Sol, o primeiro da artista potiguar. “O Mada foi um momento muito importante porque o disco ainda está se estruturando, amadurecendo. Fizemos o lançamento em julho e estar ali de novo com a banda Super Redondinha foi um reencontro com o público e com esse processo que ainda está vivo”, disse.
Entre um refrão e outro, Dani não escondia a emoção de cantar em casa. A cada música, o público respondia com aplausos. “Eu sou cantora muito por essa magia da conexão. É isso que me move. Em meio aos obstáculos, sentir essa troca recarrega minhas energias. Minhas composições nascem muito das minhas vivências, das minhas histórias e do lugar de onde venho. Cantar aqui é como continuar enraizando esse solo”, afirmou.

Com uma trajetória marcada pela resistência e pela potência feminina, Dani Cruz também destacou a importância da representatividade negra em espaços como o Festival Mada. “É muito importante que artistas negros consigam chegar a festivais grandes como esse, que é uma referência no Nordeste. Que o público veja nossas referências, que se inspire. Quando a gente está ali, outras artistas podem acreditar que também podem estar”, refletiu.
Durante a conversa, Dani comentou sobre os desafios que ainda cercam o acesso de mulheres negras a espaços de visibilidade na cena musical. Ela destacou que chegar aos produtores e às pessoas que ocupam posições de decisão ainda é algo difícil e, muitas vezes, raro. Para ela, abrir esses caminhos é um processo lento, mas necessário, que se constrói a partir da relevância e da constância artística. A potiguar acredita que quem não carrega um sobrenome de peso precisa criar o próprio legado, sustentado na ancestralidade, que fortalece e guia cada passo de quem insiste em permanecer e resistir.

Ao final da conversa, Dani deixou uma mensagem de incentivo às novas gerações: “Espero que outras mulheres, artistas negras, vejam na minha trajetória a possibilidade de também chegarem longe. Que acreditem que esse lugar de destaque pode ser nosso. Mesmo com percalços, a gente está aqui firme, cantando, acreditando e abrindo caminho para que mais de nós possam brilhar”.
E foi exatamente isso que ela fez. Brilhou abrindo o Festival Mada com a força, a voz e a verdade de quem canta com o coração.
*Com colaboração de Sávio Moura
Foto de capa: Brunno Martins/Arquivo pessoal.
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É natural de Lajes, interior do Rio Grande do Norte, mas atualmente reside em Natal, Capital potiguar. Tem 30 anos, com formação em Design de Moda pela Universidade Potiguar (UnP). É também graduada em Jornalismo pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e especialista em Design de Produtos de Moda pelo Senai Cetiqt.