O estilista piauiense Bruno Olly esteve presente em mais uma edição do DFB Festival. Dessa vez, na edição comemorativa de 25 anos. No DFB Festival 2024, Bruno Olly é autor da coleção “Sufoco Sombrio” e trouxe um desfile impactante na última sexta-feira, 26, com a maioria de modelos negros no casting, retratando transtornos psicológicos presentes no cotidiano e na vida, como a ansiedade e depressão. Como diz o artista: “Testemunhe a união da moda e emoção. É o poder da moda em tempos difíceis”.
Confira momentos do desfile:
Negrê – O que mais te inspirou no conceito desse grande desfile?
Bruno Olly – Eu sempre olho tudo o que acontece ao meu redor e gosto também de falar sobre aquilo que eu tenho propriedade, né? Então a gente sabe que a ansiedade é um problema geral, né? Ele não é tão abordado como a gente queria que fosse até pra torná-lo mais leve e, pra mim, foi fascinante trazer um assunto tão delicado, aliado à moda, né? Através das roupas, das pinturas, do crochê e trazer um lúdico pra tornar esse assunto que é um assunto tão delicado, mais bonito de se falar no processo se posso dizer assim, entendeu? Ser conversado! E mostrar pras pessoas que elas não estão sozinhas numa situação como essa né de ansiedade ou depressão ou crise de pânico. Porque assim, ali eu tentei mostrar vários sintomas da ansiedade. A primeira família, ela lá falava sobre falta de ar. A segunda família, ela falava sobre palpitação no coração. A terceira família, ela falava sobre a questão de se isolar socialmente. E tem também a dependência emocional, a galera que acha que a solução está nos remédios, é hipocondríaco… Então teve várias coisinhas ali dentro inseridas que fazem parte desse universo, da ansiedade e depressão e etc, né? E a gente falou também da depressão propriamente dita no final que a gente trouxe um universo mais dark e é isso que me fascina! Trazer uma coisa que não é da passarela, da vida, do nosso dia a dia, e discutir de uma forma lúdica e bonita pra que as pessoas entendam a mensagem.
Negrê – A gente observou que maioria dos modelos no seu desfile são negros. Tem outros desfiles que tem muitos modelos negros, mas percebemos que o seu a maioria eram… então, qual a importância dessa escolha pra um estilista como você?
Bruno Olly – A gente sabe que a luta pro negro é muito pesada e você se provar todo dia cansa, né? Então, é trazer essa causa e viver com ela ao meu lado é uma obrigação minha por respeito a minha história mesmo, né? Porque, na minha infância, eu repeti a terceira série pra fugir de um grupo de meninos brancos, porque eu sofria bullying direto por ser preto e pobre. Então isso é sobre a minha história, entendeu? E falar sobre isso torna as minhas vivências mais leves, entende? Então, a passarela pra mim também é um local que eu venero muito. Pra mim, é como se fosse um templo onde eu posso me expor, me expressar, ser vulnerável ou ser um poderoso como foi no desfile do ano passado, né? E ser eu mesmo, sabe?
Negrê – Você fala muito desses processos que a gente passa na questão do psicológico, né? Isso também influenciou no processo de escolha das cores, dos cortes dos looks e da maquiagem?
Bruno Olly – Sim! Inclusive tem conexão com a coleção do ano passado. Ano passado eu falei de um homem poderoso e, esse ano, eu tô falando da vulnerabilidade desse homem poderoso pra você, entende? Porque eu digo assim… Ah, pra ti, eu tô mostrando poder, mas, por dentro, eu tô remoído, eu tô quebrado… e é uma forma de se blindar, né? Então, eu acho que foi o que o que me fez falar da ansiedade foi essa questão da dualidade, do cara poderoso que esconde a fragilidade dele, as problemáticas da vida dele, as experiências que deixam ele frustrado, né?
Negrê – E isso você queria também mostrar nos rostos dos modelos, né? As maquiagens estavam bem pesadas…
Bruno Olly – Sim, a atitude e a maquiagem. Cada bloco tem um significado. Porque assim, eu também tenho a questão do TDAH [Transtorno do déficit de atenção com hiperatividade] na minha vida e, pra mim, lidar com criação junto desse problema, eu tenho que organizar algumas coisas, sabe? Tem que ser tudo muito blocado pra eu entender. Se você trazer uma planilha pra mim, eu não consigo entender do teu jeito, eu tenho um processo até entender ela. Então, é um jeito diferente até na hora da pesquisa da moda mesmo assim pra montar um projeto.
Negrê – E como você está se sentindo com esse resultado final do desfile?
Bruno Olly – Eu tô muito realizado, tô muito feliz porque… é o resultado de uma luta muito grande! Eu tô há 36 horas sem dormir, tentando finalizar… eu finalizei hoje, 2 horas da tarde. Aí cheguei atrasado porque ainda fui cortar meu cabelo (risos). Então, eu tô muito feliz, muito feliz com o resultado, com tudo. Grato, grato, grato mesmo.
*Com colaboração de Dhara Amorim
Foto de capa: Romulo Cesar.
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Jornalista profissional (nº 4270/CE) preocupada com questões raciais, graduada pela Universidade de Fortaleza (Unifor). É Gestora de mídia e pessoas; Fundadora, Diretora Executiva (CEO) e Editora-chefe do Negrê, o primeiro portal de mídia negra nordestina do Brasil. É autora do livro-reportagem “Mutuê: relatos e vivências de racismo em Fortaleza” (2021). Em 2021, foi Coordenadora de Jornalismo da TV Unifor. Em 2022, foi indicada ao 16º Troféu Mulher Imprensa na categoria “Jornalista revelação – início de carreira”. Em 2023, foi indicada ao 17º Troféu Mulher Imprensa na categoria “Região Nordeste” e finalista no Prêmio + Admirados Jornalistas Negros e Negras da Imprensa Brasileira em 2023 e 2024. Soma experiências internacionais na África do Sul, Angola, Argentina e Estados Unidos.