Artigos Escrita Negra

A superestrela que não sabem quem é…

É muito interessante a gente poder perceber como a vida da pessoa negra está em evidência ultimamente, e como esse movimento agora está começando a se transformar para um lugar de valorização. Mas ainda temos grandes desafios. É muito simples; às vezes, nós vemos uma artista chegando em algum lugar global e valorizar esse artista. Mas ao mesmo tempo, podemos ter outros artistas que estão estourando de forma mais universal e eles são criticados por ressignificarem quem eles são e as problemáticas que eles passam. Eis aí um grande limbo.

Um limbo onde a pessoa negra tem que se recriar, se remoer, se refazer para poder compreender quem ela verdadeiramente é. Porque no caminho de ser uma pessoa negra em ascensão social; existem desafios que nos colocam nos lugares que nós saímos do nosso passado e, ao mesmo tempo, existem as pessoas privilegiadas querendo manter seus privilégios, existem as pessoas que são preconceituosas, racistas, querendo manter-nos no nosso “devido local”.

Foto: Imagem gerada por Inteligência Artificial (IA) no Gemini.

E, nesse ponto, eu me dividi em dois lugares enquanto eu ouvia a música da Lauren Hill. Eu achei muito legal poder definir esses dois lugares com muita clareza, que é de onde eu estou: esse primeiro lugar é muito interessante porque pessoas negras regularmente estão localizadas na classe média, em algum lugar da classe média ou classes mais baixas. E a limitação que esses lugares trazem para gente, muitas vezes, elas são repetidas geracionalmente.

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Quando esse tipo de comportamento é quebrado, existe toda uma série de críticas envolvendo esse movimento. Como por exemplo, pessoas que acendem academicamente pela primeira vez dentro de uma família. Ao comprar um carro ou até mesmo comprar algum objeto que seja mais caro do que o convencional, ela pode ser criticada porque ela está sendo “borçal” de alguma forma. Por frequentar novos lugares ou até mesmo por ter melhores gostos, ela pode ser criticada e isolada por conta disso.

Por um outro lado, essa pessoa que está em ascensão, ela tem que se deparar com os olhares. Ela tem que se afirmar agora dentro dos lugares que ela ocupa. Ela tem que se afirmar, recebendo os diferentes olhares de preconceito que dizem: “Você não deveria estar aqui”. Ela tem que se afirmar diante daquelas pessoas que nunca tiveram acesso à literaturas afrocentradas ou, até mesmo, ignoram autores negros para escrever de maneira politizada e ao mesmo tempo academicamente coerente e tentar não se passar diante de qualquer situação. E é muito complexo você ser essa pessoa por porque é como uma luta constante.

Foto: Imagem gerada por Inteligência Artificial (IA) no Gemini.

São cobranças de que vocês têm uma ‘falsa humildade’ de se colocar sempre abaixo dos outros e ao mesmo tempo são cobranças, exigências de que você seja autêntico apesar das dificuldades. Eu sempre considero uma grande arma para toda e qualquer pessoa a agressividade, a bravura. E a Lauren Hill não deixa isso fugir; ela constrói todo um sofrimento, toda uma dor dessa identidade que está sendo cobrada pelo seu passado, dessa identidade que as pessoas não compreendem, nem o seu lugar de paz é compreendido mais. Até que ela fala de forma mais efusiva que aquilo dali é uma construção que ela já chegou e ela já é.

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Então, não cabe ninguém julgar mais quem ela é, pois ela já se provou! E cabe a nós, pessoas negras que estão lendo esse artigo agora, e estão em ascensão também, compreender que diferente das mais quedas que você pode tomar ou levar ou até mesmo empurrões que lhe façam cair, independente de tudo isso, você está ascendendo!

Esmurecer é uma opção dura, áspera, ácida, mas, ao mesmo tempo, para ascender é trazer à tona uma escolha que vai mudar não apenas a sua vida; mas alterar o orgulho do seu passado, pois os seus ancestrais estarão olhando, enaltecer a sua vida e construir também uma vida que seja digna àqueles que estão além de você, aqueles que vão ler você, aqueles que vão assistir você, aqueles que vão ouvir você.

Então, acenda sem perder você de si mesmo pelas mais diferentes expressões que existem. Muito obrigado.

Foto de capa: Imagem gerada por Inteligência Artificial (IA) no Gemini.

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