Artigos Escrita Negra

Aganjú, sendo terra e vulcão.

“Te esperei na lua crescer
Vi cadeira boa sentei
Espirrei na tua gripei
Por ficar ao léo resfriei

Você me agradou me acertou
Me miseravou, me aqueceu
Me rasgou a roupa e valeu
E jurou conversas de deus

(…)

Quem sabe a labuta quitar
Sabe o trabalho que dá
Batalhar o pão e trazer
Para a casa o sobreviver

Encontrei na rua a questão
Cem por cento a falta de chão
Vou rezar prá nunca perder
Essa estrutura que é você

Aganjú”

Música Aganjú, interpretada por Bebel Gilberto e criada por Carlinhos Brown. Na mitologia africana, que cada vez mais se desvela em beleza, me deparei com essa canção sobre Aganju. Fui então buscar mais sobre essa figura e, em seu conto “Xangô é reconhecido por Aganjú como seu filho”, algo bateu diferente daquilo que a internet mostra apenas como destruição e afins. Aganjú ali se mostra como um homem que sua “instabilidade” o fazia temeroso, mas ao mesmo tempo ele era um homem zeloso do que era seu.

Foto: Imagem gerada por Inteligência Artificial (IA) no site Canva.

Em sua história com Xangô, Aganjú é dono dos rios, das terras e das savanas! Cuidar de tudo isso é uma demonstração de poder e respeito diante de terceiros. Apesar de sua coragem e bravura, o tornarem imprevisível como um vulcão, ele ainda tem em seu elemento terra um solo firme e acolhedor, características essas as quais o fazem receber Oxum em sua casa. Aganju, por meio de uma música e dois contos, nos destaca a importância de sermos terra segura e vulcão em chamas. No fogo, somos ação!

Foto: Imagem gerada por Inteligência Artificial (IA) no site Canva.

Somos a chama antirracista que enfrenta os obstáculos de nosso futuro. Na terra, somos acolhimento! Somos a casa abundante que serve aos convidados. Essa combinação entre seguro e explosivo, pode parecer imprevisível mas tem sua importância. A pessoa negra, o senso comunitário é muito importante e isso permite nossas vulnerabilidades estarem mais à tona. Agora, ao receber alguma ofensa ou para ganhar nossas lutas, é importante sermos como o fogo de um vulcão que ganha espaço por meio de suas erupções.

Foto: Imagem gerada por Inteligência Artificial (IA) no site Canva.

Nossas erupções não precisam ser destrutivas, elas precisam ser disruptivas! Práticas e costumes que sejam decoloniais em sua forma de construir futuros. Movimentos que tragam mudança para a desconstruir um status quo que se equilibra no desequilíbrio de quem o sustenta. Em nossas lutas, é preciso reconhecer o foco e a canalização dessa energia reparadora (justiça) que existe em cada pessoa negra que sofre e sofreu com o preconceito.

Foto: Imagem gerada por Inteligência Artificial (IA) no site Canva.



Utilizar nossa bravura e nossa integridade é mobilizar nossos ideais e desejos em prol do nosso terreno e da nossa comunidade. Ao fazer valer nossa voz mesmo diante da derrota, nosso querer mesmo diante das adversidades e nossa liberdade; pois não podem prender nossa alma. Vulcão sem fogo é bravata. Vulcão em pleno descontrole é autodestruição. Vulcão em equilíbrio é defesa e ataque.

Foto de capa: Imagem gerada por Inteligência Artificial (IA) no site Canva.

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