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Lewis Hamilton iguala recorde de mais vitórias na Fórmula 1, mas grandiosidade vai além

O recorde que muitos achavam que não seria batido tão cedo finalmente foi alcançado neste domingo, 11, na Fórmula 1. Lewis Hamilton, 35, um dos maiores e melhores de todos os tempos na categoria, igualou o número de vitórias do até então maior vencedor da F1, Michael Schumacher, justamente na casa do alemão: ocupou o 1º lugar pela 91ª vez no Grande Prêmio de Eifel, no circuito de Nürburg, Alemanha.

Verstappen, Hamilton e Ricciardo no pódio após a prova deste domingo, 11. Foto: Getty Images.

O começo da prova não parecia tão promissor: o companheiro de equipe de Hamilton, Valtteri Bottas, que tinha sido pole no sábado, perdeu a liderança para o britânico logo na largada, mas se recuperou e retomou o primeiro lugar. Algumas voltas mais tarde, Bottas teve problemas de potência e abandonou a prova.

Hamilton aproveitou muito bem a oportunidade e, mesmo com as várias bandeiras amarelas e a entrada do carro de segurança na pista, guiou até 91ª vitória na F1, compondo o pódio ao lado de Max Verstappen, da Red Bull, e Daniel Ricciardo, da Renault.

Mick Schumacher, filho de Michael Schumacher, presenteando Hamilton com capacete especial. Foto: Reprodução/Twitter.

Ao final da prova, durante entrevista que concedia à transmissão da Fórmula 1, Lewis recebeu um capacete especial do heptacampeão Schumacher das mãos do filho do ex-piloto, Mick Schumacher, atualmente na Fórmula 2. A homenagem deixou o inglês visivelmente emocionado.

Trajetória

O pequeno Lewis Carl Davidson Hamilton já se viu como o único negro desde que entrou no kart, aos oito anos. E não só isso: ele também não vinha de uma família rica, como a esmagadora maioria dos outros garotos. “Lembro de um dia meu pai falar: ‘Não tenho dinheiro para você correr e não sei quando teremos de novo. Eu me lembro de ficar arrasado, porque queria competir no fim de semana”, disse no programa Conversa com Bial, em 2019. Anthony Hamilton, pai de Lewis e Nicholas (também piloto), chegou a ter três empregos ao mesmo tempo para manter vivo o sonho do filho.

Família de Lewis Hamilton. Foto: Reprodução/Instagram.

O racismo afetava não apenas ao pequeno piloto, mas se estendia à toda a família. “Me lembro das adversidades sendo a única família negra na pista. Lembro das coisas que gritavam para nós. Naquele meio, havia muito racismo, e nós nem sempre éramos bem-vindos, mas ficávamos na nossa e meu pai dizia: ‘deixe pra falar na pista’. Nós sempre competíamos e silenciávamos os críticos com nosso desempenho”.

Os insultos racistas atingiram Hamilton e família quando ele já estava na Fórmula 1. Em 2008, na Catalunha, Espanha, durante a pré-temporada, um grupo fez blackface, usou perucas de cabelos afro e vestiu camisas com os dizeres “família Hamilton”. Na ocasião, Federação Internacional de Automobilismo (FIA) chegou a dizer que o país corria o risco de perder a oportunidade de sediar os dois Grandes Prêmios que recebia na época, mas tudo isso só ficou na ameaça. A FIA apenas lançou uma nota afirmando que a atitude era “uma clara violação dos princípios consagrados nos estatutos da FIA”.

Números e conquistas

Hamilton estreou na Fórmula 1 em 2007, aos 22 anos de idade. Já no primeiro GP conseguiu um importante 3º lugar. A primeira vitória veio pouco tempo depois, no GP do Canadá. Naquela temporada, não foi campeão por muito pouco, mas no ano seguinte, o título não escapou de suas mãos. No Brasil, no circuito de Interlagos, fez frente ao brasileiro Felipe Massa e conquistou o primeiro mundial de Fórmula 1 da carreira.

A partir daí, o piloto britânico construiu uma história magnífica na categoria. Depois de chegar à Mercedes em 2013, venceu outros cinco campeonatos mundiais (2014, 2015, 2017, 2018 e 2019). No momento, é o líder isolado do mundial de pilotos, com 230 pontos, diferença de 69 pontos para o segundo colocado.

Comissão Hamilton

Foto: Reprodução/Instagram.

Este ano, em meio às discussões acerca do Black Lives Matter (Vidas Negras Importam) e levando em consideração toda a representatividade que traz para a Fórmula 1, Hamilton anunciou a criação da “Comissão Hamilton”, lançada no dia 24 de setembro. Em parceria com a Real Academia Britânica de Engenharia, o projeto tem como objetivo aumentar a quantidade de pessoas negras no esporte a motor britânico.

“Lewis sente fortemente que para entender como realizar mudanças positivas no esporte, é fundamental entender as barreiras da falta de diversidade. Como resultado, ele formou a Comissão Hamilton para identificar as principais barreiras no recrutamento e progressão de pessoas negras no esporte a motor do Reino Unido e oferecer recomendações ativas para superá-las”, diz o site do projeto.

Ao usar a própria imagem enquanto homem negro e personalidade pública e mundialmente conhecida para reivindicar mais diversidade no automobilismo (e para pedir atenção às outras causas que defende), Lewis Hamilton se coloca como uma das figuras mais importantes do esporte. Seis títulos mundiais (em breve sete, quando novamente se igualará a Michael Schumacher), 261 provas disputadas, 96 pole positions, 91 vitórias e um aproveitamento de 34,86% o fazem ser um dos maiores esportistas da atualidade, mas a luta diária por igualdade e por mais oportunidade às pessoas negras o tornam um ser humano gigantesco. E como é bom tê-lo fazendo tanta história diante dos nossos olhos.

Foto de capa: Getty Images.

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