Ceará Pretarte

Artistas negres LGBTQIA+ lançam obra que reflete sobre padrões cis e transgeneridade

“O Vazio, O Vestido, O Veado” é uma obra desenvolvida pelo Coletivo Ponto. O trabalho aborda questões de gênero, sexualidade, solidão e raça. A obra lança o olhar sobre as experiências da descoberta da sexualidade durante a infância e adolescência, e do momento da ruptura com os padrões cisgêneros.

O Coletivo Ponto, composto por Carlota (Carlos Freitas), Júnior Meireles, Juan Monteiro (Monna) e Matheus Dias, surge a partir de um encontro de artistes pretes LGBTQIA+ em um projeto de criação “Feixo”, em teatro/dança contemplado pela SECULT ARTE da Universidade Federal do Ceará (UFC), em 2017. A experiência foi adaptada e deu vida a dois curtas-metragem: Ponto e Acumulô.

Os criadores do curta-metragem trazem uma representação de sentimentos, angústias, dúvidas e descobertas de corpos dissidentes no processo de autoconhecimento e afirmação. “A obra é um resgate de narrativas pessoais de bixas pretes que se percebem estranhes no processo confuso de autoconhecimento e socialização diante da padronização cisgênera”, explica Mateus Dias, colaborador do curta-metragem e integrante do Coletivo o Ponto. 

Foto: Mateus Dias.

Construções

Materializar, ilustrar, ou traduzir o sentimento desse atravessar dos mundos em busca de si, não foi algo que o coletivo realizou com efemeridade. Embora todos os integrantes do coletivo enquanto nordestinos, pretes, gays e afeminades, o que dá uma carga empírica e identitária ao projeto, o processo também foi literal, transcendental e  alicerçado com referências da obra “Afrografia da memória”, livro de Leda Maria Martins. 

As vestes usadas são o instrumento de ligação com esse ser que questiona o gênero, um dispositivo de imagem que liberta um corpo vestido por ele, de acordo com os criadores da obra. E é aí que o ser bixa é convidada a ser percebida como um outro caminho, ser um elemento de construção para um outro eu, que brinca com essa vontade de ser um pequeno/grande oceano de possibilidades.

Foto: Mateus Dias.

“Nessas investigações de si’s em cena, o acontecimento envolve o reconhecer de comportamentos cisgêneros e transgêneros que nos acompanham em nossa trajetória de vida. Conferindo-lhe força como “corpa” pulsante em nossa dança, questionando o corpo homem que existe fora dos padrões a ele impostos, onde o mesmo busca superar realidades engessadas, ensaiando respostas conflitantes entre os gêneros e suas performatividades, dando-lhe outras vidas ao repensar o fazer transformista, o fazer drag, o ser travesti, a dublagem, os modos de se montar, as roupas e seus usos”, conta Juan. 

Foto: Mateus Dias.

Confira O Vazio, O Vestido, O Veado:

Ficha técnica 

Direção: Júnior Meireles
Captação e Edição de imagens: Mateus Dias
Direção de arte: Juan Monteiro
Produção geral: Caroline Sousa
Elenco: Juan Monteiro, Carlota e Júnior Meireles
Coreografia: Carlota, Juan Monteiro e Júnior Meireles
Sonoplastia: Viúva Negra
Designer gráfico: Lívia Costa 
Social mídia: Nerice Rachell

Foto de capa: Mateus Dias.

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