Escrita Negra

“Cê acha que é mole ser aprisionado?”

“Se estamos sujeitos a errar, também estamos sujeitos a aprender. Condenar pra quê? Afastar pra quê? Excluir pra quê? É desse jeito que vamos “ensinar e aprende”?

É uma sede por punição. Ou seria aniquilação? Se intera que é uma guerra, irmão. Já faz mais de 500 anos que esse projeto tá sendo aplicado, os limites nunca foram respeitado. Vieram com papo de somos amigos, descobridores que vieram de outro lado, mas nós somos civilizados!

Que civilização é essa que só sobrevive se tiver alguém sendo explorado? Enquanto uns ganham muito, outros ganham nada. Roubam tudo nosso e nos fazem de piada. Criam as leis pra manutenção dessa palhaçada. Num tem nem moral pra nada.

Se intera no papo, se intera no papo: Colocam os irmãos no chão, trazem os cacetes!!! O gás de pimenta é espalhado que nem confete. É a festa dos porcos fardados que servem esse maldito Estado. 

Muitos corpos espalhados, algemados, trancafiados. Além da dor física, ainda aguenta a saudade mermo sendo um mano brabo. Muitos surtos psicóticos que sequer são escutados. Se com a quarentena tá todo mundo pilhado. Cê acha que é mole ser aprisionado? Vai lá bater de frente com os presídios amaldiçoados criados pelo Estado. Espaço de tortura autorizado. Nem me vem com esse papo de “ah, mas fez algo de errado”… E cadê então no meio dos presos, os banqueiros, políticos e empresários? Presídio é um lugar pros pretos ficar trancafiados. A maior prova viva de que a escravidão caminha nas medidas do Estado.

As mãezinhas chorando pelo filho que foi espancado, sentimento de impotência caminha lado a lado. Eles nos tratam como querem, somos só vermes encuralados. Mas abaixa a tua voz, seu policial arrombado. Vendido, drogado… A gente sabe que tu só tá disfarçado, faz o trabalho sujo pros engravatados, enquanto isso tu e teus parceiros morrem nessa guerra mesmo de blindado. Muitos de vocês vem da favela, passou por lavagem cerebral e esqueceu dela? A semelhança aqui é igual o tempo da escravidão, os capitão do mato preto mantando seus próprios irmãos.

Abolição pra quem? Só pra nos manter mais aprisionados. Vem com esse papo de Iluminismo, Direito e Estado… Nunca ouvi falar de cidadania, passou batido, parece filme animado. Pergunta lá pros irmãozin que estão encarcerado…. Pergunta pras mães e irmãs que caminham junto lado a lado, levando aqueles malotes pesados. 

Você sabe o que é acordar de madrugada, vestir uma farda fazer o destaque pra uma cidade toda afastada? Tem que se interar que a família também é encarcerada… Violentada igual os irmãos… E a cada macha roxa nos corpos que tão dentro, é um tiro no peito dos que estão fora, segurando o tombo, mesmo com toda a humilhação vivida nessa vida que só nos dá esmola. 

Esse papo de Cidadania não cola! Só serve pra camuflar mais ainda a miséria destilada pelos caras de terno e gravata. Ou derruba esse Estado maldito, levando toda essa farsa, ou vamos continuar entrando nos caixãos e sendo jogados na vala.”

*O texto colaborativo é uma autoria de Lilica Santos.
Poeta, arte-educadora, abolicionista penal, graduanda em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Ceará (UFC) e integrante do Fórum de Negres C.S.

Foto de capa: Pexels.

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