Notícias Radar Negro

Circuito Gourmet da Gastronomia Afro abre inscrições para edição 2023

A primeira edição do Circuito Gourmet da Gastronomia Afro, que acontece no Campus de Nova Iguaçu da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRJ) dos dias 07 a 09 de novembro, já está com processo seletivo aberto.

O concurso, que busca valorizar não apenas a culinária afro-brasileira, mas também a comida com raízes de África ao redor de todo o mundo, contará com sete categorias destinadas a profissionais e entusiastas da profissão. Para se inscrever é preciso ser maior de 18 anos, acessar o regulamento e preencher o formulário que estão no site e na bio do perfil do evento no Instagram até o dia 23 de outubro.

Foto: Divulgação

A seletiva vai priorizar pessoas pretas, pardas, indígenas e/ou que apresentarem receitas afrocentradas – e vai até o dia 04 de novembro. O resultado final dos selecionados sai no dia 05 de novembro nas redes sociais.

O Chef carioca Pedro Alex, Embaixador Oficial da Gastronomia do Rio de Janeiro e vencedor do prêmio Dolmã nas edições de 2018 e 2022, assina a curadoria e é uma das cabeças pensantes responsáveis pelo projeto – que foi contemplado pelo edital da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ) 2023 em parceria com o corpo acadêmico da UFRRJ.

Para ele, que também é presidente da Associação Brasileira de Chefs de Cozinha e Bartenders (ABRACHEFS), a realização de um evento afro gastronômico dentro de uma universidade pública na Baixada Fluminense é de extrema importância por várias razões.

“Além de ser uma região com uma população negra significativa, é um espaço onde se reconhece e celebra a diversidade cultural destacando a influência da cultura africana na identidade local. A meu ver, como verdadeiro celeiro da educação, a universidade possibilita não somente campos distintos de pesquisa no setor acadêmico, mas também o reconhecimento e a divulgação da história, cultura e culinária afro-brasileiras. Isso enriquece a experiência dos estudantes e da comunidade de maneira geral”, destaca Pedro Alex. 

Na percepção do Chef, eventos que protagonizam toda a nossa afro brasilidade, promovem a inclusão social e atentam para a representatividade também estimulam o intercâmbio cultural ao permitir que estudantes de diferentes origens experimentem pratos tradicionais e internacionais.

”A gastronomia é uma forma poderosa de compartilhar culturas e saberes. Além de contar com a presença de profissionais reconhecidos no mercado, alunos e iniciantes também poderão aprender sobre técnicas culinárias ao participarem das oficinas interativas e das aulas show. Eu acredito verdadeiramente que as ações práticas contribuem de forma mais efetiva no combatente ao racismo e à discriminação”, acrescenta Pedro.

O Chef soma mais de 30 anos de experiência no cenário gastronômico, foi o Chef de cozinha dos principais eventos que aconteceram no Brasil ao longo dos anos, como a Copa do Mundo de 2014, as Olimpíadas e Paraolimpíadas de 2016, além de grandes festivais de música como Lollapalooza e o Carnaval do Rio de Janeiro.

O Laboratório de Estudos Afro-Brasileiro e Indígenas – LEAFRO/UFRRJ também participa do encontro levando perspectivas afrocentradas através de suas pesquisas, levantando debates importantes a respeito do protagonismo preto na cultura, na religiosidade e na gastronomia.

Para o Doutor em Ciências Sociais e Professor do Departamento de Educação do Instituto Multidisciplinar da UFRRJ e do Programa de Pós-Graduação em Patrimônio, Cultura e Sociedade (PPGPaCS), Otair Fernandes, o Circuito Gourmet da Gastronomia Afro chega para somar com os objetivos da Instituição apresentando a riqueza e a força da culinária afro-brasileira e matriz africana, a partir dos valores, hábitos e costumes vinculados à identidade cultural dos povos africanos escravizados e seus descendentes no Brasil.

”Ao ser aberto, gratuito e realizado dentro da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, o evento alcança uma dimensão simbólica de grande importância e significado cultural na região da Baixada Fluminense e no estado do Rio de Janeiro. Se soma ao movimento de luta contra o racismo e de reparação histórica contra as desvantagens (econômica, políticas e culturais) oriundas das desigualdades sociais e raciais em que a grande maioria da população negra descendente dos povos africanos escravizados se encontra em nosso país desde os tempos do regime de escravidão”

Os chefs vão mostrar todo seu conhecimento – Fotos: Divulgação

O pesquisador do LEAFRO/UFRRJ destaca que através das várias atividades como workshops de capacitação, fórum sobre cozinhas de terreiros e o próprio concurso, o público terá a oportunidade de ouvir e experienciar pratos com base na culinária da diáspora feitos por Chefs nacionais e internacionais especializados.

”Desta forma é possível ampliar os conhecimentos e compreensão política entre saberes e sabores de matriz africana. Uma oportunidade única de aprendizagens e formação cultural”, afirma o professor líder do Grupo de Estudos Patrimônio, Educação e Cultura Afro-Brasileira – GEPECAfro (CNPq). 

A Universidade conta com um espaço físico bastante amplo para receber não apenas sua comunidade acadêmica, mas também o público em geral, além do Laboratório de Alimentos e Bebidas, que será a ”cozinha do Circuito” ao longo desses três dias, com 65m² e toda a estrutura necessária para receber os Chefs.

De acordo com o diretor acadêmico do Campus, Prof. Paulo Cosme de Oliveira, receber este evento na unidade deixa todos nós ainda mais conectados com a nossa própria identidade enquanto brasileiros. ”As origens e influências africanas estão presentes em diversos deliciosos pratos na nossa alimentação diária. Teremos múltiplas atividades como palestras, oficinas e, é claro, a degustação de todos os sabores que tanto gostamos”, complementa o diretor do Instituto Multidisciplinar da UFRRJ. 

Com a programação extensa e variada, os três dias de evento prometem levar o melhor dos novos talentos do Estado do Rio e nomes já reconhecidos, a exemplo das pratas da casa de Nova Iguaçu, como os Chefs: Rodrigo Barros (MasterChef e Embaixador da Gastronomia do Rio de Janeiro) e Márcia Baiana (Bicampeã do Enchefs RJ e Embaixadora da Gastronomia de Nova Iguaçu).

Outros destaques do Circuito ficam por conta do Chef cubano Fernando Calderón, da Chef Confeiteira Diva Oliveira (Que Seja Doce), do Chef Cadu Freitas (vencedor do prêmio Dolmã 2021) e da mineiríssima Chef Vanessa Vacaro.

Na ocasião, o Circuito também desenvolve uma parceria importante com a Feira da Agricultura Familiar, que acontece todas as terças-feiras no Campus, abrindo espaço para produtores locais comercializarem seus produtos. Além de serem, também, um dos principais fornecedores de insumos frescos do projeto. 

A Professora Doutora Isabela Fogaça, do curso de Turismo da UFRRJ e uma das coordenadoras gerais do projeto contemplado pela FAPERJ, a Edição Baixada Fluminense do Circuito de Gastronomia Afro vem para revelar uma das grandes caraterísticas da nossa região: a influência e a riqueza que a matriz africana tem em nossa cultura.

“Sabemos que não é só em nossa gastronomia, mas, também, em nossa dança, nossa música, nossas crenças e rituais, nosso patrimônio arquitetônico, nossa forma de viver e ver a vida. A afro-gastronomia é mais uma atração para a região turística Baixada Verde e de empoderamento de seu povo, rico em cultura. E esse evento acontecer dentro da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, a Universidade da Baixada, é demostrar a responsabilidade que a Universidade tem para a promoção sociocultural dos grupos socias de seu território”, conclui Isabela.

O encontro promete trazer atrações culturais de dança e música, além da exposição do fotojornalista iguaçuano Paulo Santos. ”Ilustres e Anônimos, Personalidades Negras da Baixada Fluminense” revela nomes, nem sempre conhecidos pelo grande público, mas que são destaques nas mais diversas áreas de atuação na região.

Circuito Gourmet da Gastronomia Afro também traz sua feira cultural com expositores levando o melhor do artesanato, delícias e sabores do projeto. A iniciativa conta com o apoio institucional da Fundação Educacional e Cultural de Nova Iguaçu (Fenig) através da Secretaria Municipal de Cultura de Nova Iguaçu.

Foto de capa: Reprodução/Instagram.

LEIA TAMBÉM: 6 reflexões de Carolina Maria de Jesus sobre a vida, arte e fome

Inscreva-se na newsletter do Negrê aqui!

Compartilhe: