O Google homenageou o acadêmico ganense-alemão Anton Wilhelm Amo (1703-1758 ou 1759) no Doodle, exibido na página inicial do site, neste sábado, 10. Ele é considerado o primeiro estudioso da filosofia moderna, nascido no Continente Africano. Ele é visto como um dos mais famosos filósofos negros do século XVIII.
A ilustração foi feita pela artista nigeriana-italiana Diana Ejaita, 35, residente em Berlim (Alemanha). A homenagem está disponível em computadores acessados no Brasil e também parte da Europa e África. Questionada sobre o que a inspirou, ao fazer a ilustração, a designer disse que a história de Anton e o desejo de homenageá-lo. “Queria que a história (dele) fosse contada com respeito”, revelou Diana, em um texto de divulgação feita pela Google.
Em publicação no Instagram, Diana escreve que “Amo foi deportado da Companhia Holandesa das Índias Ocidentais de Gana para a Europa, vendido como escravizado, um “Rara Avis”, para chegar à família alemã. Foi então o primeiro africano a estudar filosofia em uma universidade alemã, contribuiu consistentemente para a história da filosofia de hoje”.
A data simboliza o dia que o intelectual defendeu sua tese “O Tratado Sobre a Arte de Filosofias com a Sobriedade e Precisão” quando recebeu um título equivalente ao doutorado em Filosofia, na Alemanha, no dia 10 de outubro de 1730. Há quase 300 anos.
Biografia
Anton Wilhelm Amo nasceu no ano de 1703, em Nzema, pertencente à etnia Akan, em uma pequena aldeia de Axim, onde hoje fica localizado Gana, segundo registros. O país está na região Ocidental da África. A região era conhecida como Costa do Ouro ou Guiné.
Por volta dos três anos de idade, foi traficado pela Companhia Holandesa das Índias Ocidentais e oferecido como presente aos nobres europeus. Há relatos de que tenha sido levado para Amsterdã (Holanda) e outros que tenha ido direto para a Alemanha. Não há registros confirmados, pois muitos arquivos da história de Anton foram perdidos.
Retirado de seu país natal, Amo foi entregue ao Duque de Brunswick Wolfenbüttel, Anton Ulrich, que o criou como serviçal em sua casa. No entanto, também forneceu acesso à educação de qualidade ao menino.
O filósofo estudou na Universidade Helmstedt, na Alemanha, centro conservador do protestantismo, porém não conseguiu defender sua tese em Direito por dificuldade imposta pelos professores. Já que não o aceitavam por ser um homem negro dentro do universo da academia.
Foi na Universidade Halle-Wittenberg, em 1727, com o professor Christian Wolff, que Anton conseguiu um espaço com maior tolerância intelectual e pôde fazer a defesa de seu trabalho “Sobre o Direito dos Negros (Mouros) na Europa”, registrado no jornal universitário. Em 10 de outubro de 1730, recebeu o título de doutor em Filosofia na mesma instituição.
O professor da Universidade Federal Fluminense (UFF), na área de Filosofia da Educação e Epistemologia das Ciências da Educação, Fernando de Sá Moreira, enfatizou, no podcast Filosofia Pop, a importância de Anton como africano e intelectual da área. Segundo ele, o ganense também foi um dos primeiros abolicionistas na Alemanha.
“O Amo bebeu da fonte do Iluminismo, mas também alimentou essa fonte, sendo um dos pensadores que mais produziram”, evidenciou o professor.
Com domínio no alemão, holandês, francês, latino, grego e hebraico, Anton Wilhelm Amo se tornou professor de universidades na Europa Iluminista.
Não há relatos conclusos de como e em que data o intelectual tenha morrido. Ele voltou para sua terra natal, Gana. E especula-se que, por volta dos 40 anos, ele tenha falecido entre 1758 e 1759.
Estudos e obras
É possível destacar no mínimo três obras feitas por Anton: “Sobre Os Direitos dos Negros (Mouros) na Europa”; “O Tratado Sobre a Arte de Filosofias com a Sobriedade e Precisão”; e “A impassividade da Mente Humana”.
Ainda de acordo com Fernando de Sá Moreira, alguns argumentam que Anton Amo não era africano, pois dialogou com uma linguagem europeia e escreveu em latim. Portanto, teria nascido em Gana, mas com uma filosofia alemã.
Entretanto, de Sá apontou este pensamento como problemático, já que o intelectual não teria sido aceito na Alemanha como um igual. Além disso, assinava seu nome como africano de Guiné. “Anton parece ter levado para a filosofia alemã aspectos de uma africanidade que jamais rejeitou”, ressaltou.
Homenagens
A Universidade Martin Luther de Halle-Wittenberg, na Alemanha, ergueu uma estátua para ele em 1965. Em agosto deste ano, autoridades de Berlim, anunciaram que irão mudar o nome da rua Mohrenstrasse (em inglês, “Moor Street”) para Anton-Wilhelm-Amo-Strasse (“Anton Wilhelm Amo Street”).
A alteração também foi movida pela série de protestos antirracistas que eclodiram no mundo todo, o Black Lives Matters (Vidas Negras Importam). O assassinato de George Floyd, 47, por um policial branco, em Minneapolis (Estados Unidos), foi o estopim.
Foto de capa: Doodle do Google.
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