Pernambuco

Livro de doméstica recifense conta histórias de 50 anos de trabalho invisível

Vera Lúcia da Silva, mulher negra e moradora da periferia do Recife, está lançando o primeiro livro, “Espanador não tira poeira: memórias e aprendizados de uma empregada doméstica”, sobre as próprias vivências em 50 anos de trabalho invisível. A publicação está disponível para pré-venda ao preço de R$ 55,00 e pode ser adquirida via PIX.

Vera nasceu no Engenho Palma, em Sirinhaém, na Zona da Mata Sul, a 75 km de Recife (PE), e começou a trabalhar como empregada doméstica aos 12 anos. Dois anos depois, mudou-se para a capital pernambucana.

Ao longo dos anos, enfrentou humilhações, falta de direitos, acusações injustas e preconceito por ser mulher e de origem humilde. Situações como ser forçada a comer sobras de comida estragada ou ser impedida de usar os banheiros da casa em que trabalhava — sendo direcionada a instalações precárias — estão entre alguns relatos presentes na publicação.

Mãe solo aos 19 anos de três filhos — uma delas doutora em Medicina Veterinária, e outra formada em Química e técnica de enfermagem —, Vera dedicou a vida a proporcionar um futuro melhor para as filhas. “Sempre disse a elas: ‘Meu trabalho é digno, mas vocês precisam estudar para não passarem pelas dificuldades que eu enfrentei'”, afirma.

Nos anos 1990, Vera trabalhou na Biblioteca do Centro de Filosofia e Ciências Humanas – CFCH, no campus da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), no bairro Cidade Universitária, limpando os livros. Nesse ambiente, ela conheceu a professora Silke Weber, que a convidou para limpar sua sala de trabalho, no 12º andar, onde aconteciam as atividades do Programa de Pós-graduação em Sociologia. Ali, os caminhos se cruzaram pela primeira vez com Wedna Galindo, docente do Departamento de Psicologia da UFPE, que se tornaria parceira e coautora no projeto do livro.

“A cada conversa, percebia que, mesmo sem ser plenamente consciente, Vera estava refletindo criticamente sobre sua própria trajetória e as condições de trabalho que vivenciava”, explicou Wedna. “A produção do livro foi, de fato, uma proposta que surgiu dela mesma. O meu papel foi sempre o de respeitar o desejo de Vera. Eu enxerguei naquele desejo uma grande potência, um potencial transformador, que, se bem conduzido, poderia ganhar vida própria”, concluiu.

Doutora em Psicologia pela Universidade Católica de Pernambuco, Wedna Galindo tem um extenso histórico de trabalhos com movimentos sociais e projetos voltados para a valorização da memória de grupos invisibilizados. A sensibilidade e habilidade de ouvir foram fundamentais para que Vera transformasse as memórias em um relato reflexivo. “Wedna me deu coragem de acreditar que minha história poderia inspirar outras pessoas. Ela sempre dizia: ‘Sua voz importa, Vera'”, conta.

A obra, com 96 páginas, está dividida em cinco partes, que abordam desde sua infância até reflexões sobre dignidade e respeito no trabalho doméstico. O título do livro foi inspirado em sua primeira experiência de trabalho, quando foi injustamente acusada de não limpar os móveis, sem saber que o espanador apenas espalhava a poeira. “Esse título é mais que uma lembrança, é uma metáfora para como sempre fomos tratadas: invisíveis e desvalorizadas“, reflete Vera.

Sobre a UFPE

A UFPE, onde Vera e Wedna se conheceram, é um símbolo de excelência acadêmica no Brasil. Reconhecida como a universidade do Norte/Nordeste mais bem colocada no QS World University Rankings: Latin America & The Caribbean 2025, a instituição ocupa a 49ª posição entre 437 universidades avaliadas na América Latina e no Caribe. Entre as 96 universidades brasileiras presentes no ranking, a UFPE figura na 13ª colocação. Esses resultados destacam seu papel como um centro de referência em pesquisa e educação de qualidade.

Confira detalhes

Livro de empregada doméstica recifense conta histórias de 50 anos de trabalho invisível

Como comprar: chave PIX espanador2024@gmail.com
Valor de pré-venda: R$ 55,00

Foto de capa: Salatiel Cícero.

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