Atlântico Pernambuco

Artistas pernambucanos participam de intercâmbio na África do Sul e Moçambique

Um grupo de artistas negros, formados por cantores, músicos, pesquisadores e produtores culturais da periferia do Recife (PE), participam de intercâmbio cultural na África do Sul e Moçambique. O projeto, que é uma turnê com nome “Afonjah e Isaar na África”, teve início no último dia 25 de outubro e segue até quinta-feira, 10.

O projeto Afonjah e Isaar na África traz aos dois países, África do Sul e Moçambique, dois artistas negros pernambucanos que, com sua conexão ancestral, representam possibilidades sonoras. Ao todo, a viagem dura aproximadamente 20 dias. 

Inédita, a iniciativa é encabeçada pelo cantor e compositor, Valdi Afonjah, 58, do bairro da Mustardinha, e pela cantora, compositora e instrumentista, Isaar, 49, moradora de Jardim São Paulo, regiões situadas na zona oeste da capital pernambucana.

Além disso, houve gravações de músicas inéditas, realização de pesquisas voltadas à temática negra, oficinas de percussão para artistas africanos, e participação no 13º Festival Mafalala, projeto que conta com apoio da União Europeia. 

Foto: Pedro Raiz.

Jornada do grupo

Na programação, entre os dias 27 e 30 de outubro, houve gravação de clipe em Soweto, localidade da África do Sul. A direção ficou por conta da cineasta Erlânia Nascimento juntamente com o diretor Afonso Oliveira.

Os artistas pernambucanos Isaar e Afonjah. Foto: Jessica Zarina.

No dia 31 de outubro, a equipe foi para Maputo, capital de Moçambique. Lá, foram realizadas atividades no Museu Mafalala, local dedicado à memória e cultura local. Na ocasião, o percussionista, Felipe França, ministrou a oficina Batá Kossô – Tambores de Rei, com ensinamentos sobre maracatu e samba. A formação teve como público cerca de 25 artistas musicais africanos. Já o grupo local, Ngalanga Machaka, também participou, facilitando um intercâmbio entre ritmos pernambucanos e moçambicanos.

Os artistas Afonjah e Isaar se reuniram também no Museu Mafalala para gravação de um documentário, visando troca de saberes e aproximação cultural. Houve participação especial das mulheres do Tufo da Mafalala e da artista Rodhalia Silvestre, cantora de ritmos urbanos contemporâneos, transitando entre jazz, neo soul, reggae e pop, mantendo uma forte identidade e influência africana. Aconteceu ainda o encontro com Rapper Kloro, que usa do estilo hip hop como forma de expressão.

No último fim de semana, 5 e 6 de novembro, Afonjah e Isaar participaram do 13º Festival Mafalala, evento global negro, que acontece há 13 anos. Com apoio da União Europeia, a iniciativa é realizada pela ONG Iverca, no Museu Mafalala. Já nessa terça-feira, 8, aconteceu gravação dos shows de Kloro e do Tufo da Mafalala, para a edição híbrida do Festival Canavial 2022, marcada para acontecer em novembro, na região da Mata Norte de Pernambuco

Impressões

Animada com o projeto todo, a artista pernambucana Isaar comenta sobre as expectativas com a experiência internacional. “Ver com meus olhos a África em minha frente. É muito mais do que a força ancestral de minha linhagem familiar. Imagino rever a linhagem de uma sociedade inteira”. 

Quem esteve cheio de expectativas também foi o músico e compostiro Afonjah. “Ir para África é uma reconexão com a minha essência. E poder estar em Maputo e Moçambique é um sonho que eu queria poder transformar em realidade. Encontrar e tocar com minhas irmãs e irmãos, como do Tufo da Mafalala, Rhodália Silvestre, Ngalanga Machaka e Kloro, será muito marcante”.

A produtora cultural e coordenadora executiva Andréa Lima afirma que o projeto “Afonjah e Isaar na África” é um trabalho importante para a nossa história. “Está sendo muito importante contribuir para essa experiência. É uma ação para ressignificar nosso passado, construir um presente e um futuro alinhado às novas ideias, lutas e conquistas de novas gerações”, declarou. 

Para o co-autor do projeto Afonso Oliveira, a ideia da turnê nasceu de forma muito genuína, mas com vistas à união de propósitos e talentos. “Era uma sexta-feira à tarde de 2019, mais precisamente no estúdio de Buguinha Dub, no Carmo, em Olinda. Eu cheguei com Afonjah e passados alguns minutos a campainha tocou. De repente, entra Isaar com seu jeito simples, forte e de imensa ancestralidade. Escutamos um trecho da música “Oxumarévocê”. Quando os dois começaram a esquentar as vozes, a imagem daqueles dois artistas negros incríveis, com trajetórias de muitas lutas para serem reconhecidos, me remeteu imediatamente à África. Mais precisamente na favela de Mafalala, Maputo, capital de Moçambique. Aquele estúdio poderia ser lá. Assim começou a nossa viagem para chegar na África em 2022”, lembra ele. 

Para além de toda a jornada da turnê, toda a trajetória do projeto foi registrada em vídeos e fotografias, para um documentário a ser lançado. Trechos da turnê serão disponibilizados via Youtube e nas redes sociais. A realização da turnê conta com incentivo do Funcultura, Fundarpe, Secretaria de Cultura e Governo de Pernambuco

Sobre Isaar

A compositora, percussionista e cantora Isaar é natural de Recife (PE). Sua história com a música teve início se aventurando pelas ruas da capital pernambucana, envolvida nos ritmos do coco, afoxé e frevo. Em 1997, sua trajetória pelos nos palcos começou com a banda Comadre Fulozinha. E foi onde frequentou várias rodas de música tradicional, e cantou ao lado de artistas consagrados da música popular, como Antônio Carlos Nóbrega, Dj Dolores, Zé Celso Martinez, Ariano Suassuna, entre outros.

A artista pernambucana Issar. Foto: Pedro Raiz.

Sobre Afonjah

Além de cantor, o pernambucano Afonjah é compositor e diretor musical. Sua carreira em Recife (PE) começou no final da década de 70, com o Grupo Raíze. Em 1988, gravou o LP Negra Magia e, no ano seguinte, foi para França. Logo depois, seguiu pra Suíça, país onde morou por alguns anos. Em suas experiências no exterior, participou de várias turnês, conhecendo várias personalidades, como Aston “Familyman” Barrett (baixista da banda de Bob Marley (1945-1981), The Wailers), o que resultou em uma temporada na Jamaica, incluindo gravações e meses de trabalho por lá.

O artista pernambucano Afonjah. Foto: Pedro Raiz.

*Correspondente internacional do Negrê para países da África

Foto de capa: Pedro Raiz.

LEIA TAMBÉM: Seleção feminina da África do Sul é campeã da Copa Africana das Nações 2022

Apoie a mídia negra nordestina: Financie o Negrê aqui!

Compartilhe: