O ceramista José Edvaldo Batista, 65, o mestre Zuza, artesão e santeiro negro da cidade de Tracunhaém (PE), na Zona da Mata Norte do Estado, celebra 50 anos de carreira. Na ocasião, o artista pernambucano abre a exposição “Mestre Zuza 50 anos: do artesanato figurativo ao ultilitário” nesta quarta-feira, 5. A ação ocorre na Alameda dos Mestres dentro da programação da 23ª Feira Nacional de Negócios do Artesanato (Fenearte), realizada no Pavilhão do Centro de Convenções, em Olinda (PE). A mostra ficará em cartaz até o próximo dia 16 de julho.
Mestre Zuza é considerado um dos maiores artistas populares do Brasil e é um ícone da cultura nordestina e sua obra é apreciada mundo afora. Ele é historiador, patrimônio vivo de Tracunhaém e reconhecido por onde passa pelo seu trabalho artístico com manuseio do barro. Sua paixão pela arte do barro iniciou em casa. Os avós, José Batista e Joana Batista, trabalhavam com cerâmica utilitária na década de 1920. O pai, João Batista, e a tia, Severina Batista, também tiveram forte atuação com a cerâmica.
Mestre Zuza vem de uma família de 11 irmãos, tendo a maioria deles trilhado o ofício da arte da cerâmica: Maria do Carmo Batista, Estelita Batista, João Batista, Severino Batista, Maria José da Silva, Jadiete Batista e Armando Batista. Juntos, eles foram pioneiros na formação da primeira associação dos artesãos de Tracunhaém.
Um pouco mais sobre sua arte
A iconografia da cerâmica do Mestre Zuza de Tracunhaém é rica e variada. Ao reunir tudo o que aprendeu com a família, além dos ceramistas da região e convivendo com a tradição do barro, o artista começou a perceber uma certa singularidade na confecção das peças. Não demorou muito e ele desenvolveu um estilo próprio, com criatividade e estética diferenciada.
Mestre Zuza se tornou santeiro, aqueles que produzem santos de barro. Suas peças não se assemelhavam com o padrão religioso europeu. Os santos têm características indígenas, fisionomia negra, traços e vestimentas pernambucanos. As peças chegam perto de figuras santas, até então angelicais, porém inspiradas na realidade do povo nordestino. A ousadia de sua arte chama atenção e seu trabalho começa a ser aclamado por preservar a arte primitiva dos antigos mestres do barro e, ao mesmo tempo, uma releitura do barroco. Mestre Zuza gosta de classificar seu trabalho como “barroco contemporâneo”.
Além da cerâmica figurativa, Mestre Zuza começou sua carreira de artesão produzindo cerâmica utilitária, como potes, panelas e pratos, entre outros. Peças essas que são feitas com a mesma técnica e habilidade que as figurativas, só que com uma função prática no cotidiano das pessoas. Sua cerâmica utilitária é um exemplo de sua capacidade em unir beleza e funcionalidade em suas criações. Inclusive, em sua infância, trazia, por algumas vezes, as peças de Tracunhaém para serem comercializadas nos mercados públicos do Recife (PE). Uma maneira de gerar renda e incentivar sua vida dentro do artesanato do barro.
A obra de Mestre Zuza é um legado para a cultura popular do região Nordeste do Brasil e para o artesanato brasileiro como um todo. Suas peças trazem não só um valor estético, como também cultural e histórico. Elas representam a riqueza e a diversidade da cultura nordestina e são um testemunho da habilidade e da criatividade dos artesãos da região. Seus trabalhos podem ser encontrados em vários locais fora de Pernambuco e do Brasil.
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Mestre Zuza em movimento
O artesão pernambucano foi diretor de cultura e secretário de turismo de Tracunhaém. Em 2012, foi reconhecido como Patrimônio Vivo de Tracunhaém. Em 2017, foi contemplado pela Academia Palmarense de Letras (APLE), com a Comenda Comandante Severiano Primo da Fonseca Lins, pelo mérito da cultura, cidadania e solidariedade. Ele é o autor da escultura/busto do comandante que dá nome à comenda e que ocupa lugar de honra no Museu do II COMAR, em Recife. Há 21 anos, faz parte da Alameda dos Mestres na Feira Nacional de Negócios do Artesanato (Fenearte), a maior feira do ramo na América Latina. Sua arte está espalhada pelo Brasil e exterior.
Com a finalidade de manter viva a cultura de artesãos de sua família, Mestre Zuza está trabalhando na revelação de novos talentos dos herdeiros da arte do barro figurativo. Trata-se de seu neto, Pablo Mayckon de Melo Batista, 23. Como terceiro integrante da geração de artesãos, Mayckon já cultiva habilidade de criar suas próprias peças inspiradas nas obras de Mestre Zuza. Em 2022, estreou na Fenearte ao lado de seu avô. Na ocasião, conseguiu comercializar mais de 100 peças de sua autoria. E, para este ano, seu neto levando várias obras feitas à mão para compor a galeria de artes da Fenearte.
Confira detalhes
Exposição “Mestre Zuza 50 anos: do artesanato figurativo ao ultilitário”
Quando: 05/07/2023, quarta-feira, até 15/07/2023, sábado
Horários: segunda a sexta-feira, das 14h às 22h; e nos sábados e domingos, das 10h às 22h
Onde: Pavilhão do Centro de Convenções
Endereço: Avenida Professor Andrade Bezerra, s/n – bairro Salgadinho, Olinda (PE)
Entrada gratuita
Foto de capa: Salatiel Cicero.
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