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Soteropolitana e viajante: conheça a baiana que já viajou para mais de 18 países

Viajar. Este certamente é um dos desejos mais recorrentes entre os brasileiros. Vivenciar experiências inéditas, saborear a culinária local, capturar selfies nos pontos turísticos mais requisitados e trazer consigo histórias memoráveis na bagagem. Segundo o estudo “2019: Turismo, consumo e aeroporto: o super turista brasileiro“, 94% dos brasileiros possuem interesse em viagens e turismo. Contudo, problemáticas sociais tais como racismo estrutural, instabilidade socioeconômica e afromisoginia, tornam-se barreiras basicamente intransponíveis à concretização deste sonho que persiste nas comunidades negras. No entanto, iniciativas e empresas direcionadas à população afrodescendente, estão a modificar este cenário.

Passaportes da soteropolitana Nina Palma. Foto: Arquivo pessoal/Instagram.

Mas, o que fazer quando o anseio por vivenciar o intercâmbio cultural, torna-se no projeto de partir indeterminadamente e iniciar uma trajetória em outro país? A baiana Nina Palma, uma soteropolitana enamorada da Bahia e da cultura nordestina, entregou-se em 2017 ao mundo das viagens e encontrara um novo país no qual está a firmar raízes. Estudante de Relações Internacionais, a paixão por línguas, intercâmbios e cenários paradisíacos sempre estivera presente. Nina possui um carisma ímpar, e aos 24 anos, coleciona carimbos em seus passaportes. Tendo viajado para mais de 18 países e 99 cidades, partilha em seu Instagram de viagens as aventuras que tem vivido desde então.

Nina Palma em Bruxelas, 2019. Foto: Arquivo pessoal/Instagram.

Quando questionada a respeito de sua trajetória, a soteropolitana raiz — modo como a própria define-se, afirma ter mantido imensa determinação. “Um dos pontos mais marcantes até a minha atualidade foi encarar uma aventura sem a certeza de que daria certo ou não. Eu me joguei com tudo”. Porém, a percepção de que o racismo e a afromisoginia tratam-se de uma constância na vida de mulheres negras afetou a sua experiência enquanto viajante. Contudo, Nina afirma ter sido positivamente surpreendida. “O segundo ponto marcante foi que eu vim com uma ‘armadura’ porque pensava que sofreria muito preconceito. Mas, as pessoas me receberam de braços abertos”.

A vida de uma viajante está repleta de dores e delícias as quais somente quem parte de sua terra natal vivencia. Com Nina, não ocorrera de modo diferente. Apesar de estar a viver em Itália, desafios comuns aos expatriados estiveram presentes em sua trajetória. “É um desafio viver longe de quem se ama, sentir falta da comida (sinto muita falta do meu temperinho baiano e do meu feijão) e se adaptar às pessoas, já que elas não são tão abertas como os brasileiros”. Porém, entre dores e delícias, os prazeres de tornar-se uma cidadã do mundo não são jamais esquecidos por Nina. “Viajar quantas vezes eu quiser, ter uma vida mais fácil, comprar produtos muito mais baratos, oportunidades, dar uma boa vida para minha família no Brasil, poder viver um ‘luxo’ que no Brasil com certeza não poderia. Porque aqui se você recebe um salário, você faz tudo e ainda sobra”.

Nina Palma em Ibiza, Espanha, 2019. Um dos destinos favoritos da baiana. Foto: Arquivo pessoal/Instagram.

Entusiasta da Bahia, Nina afirma sentir imensas saudades de seu estado. Pois, apesar de ter partido, Salvador jamais saíra de seu coração. “Sinto falta da alegria do povo baiano, da comida baiana, do dendê e principalmente do meu terreiro. A alegria dos baianos está sempre comigo, não é à toa que por onde eu passo deixo vários amigos. Nosso carisma é único!”. Mesmo que há um oceano de distância de seu país, a entrevistada jamais deixara a sua fé. Pertencente à religião de matriz africana, Nina lamenta a distância. Porém, encontrara novos métodos para seguir a sua devoção aos Orixás. “Sou de axé e carrego minha religião por onde eu for. Infelizmente, aqui na Itália eu não frequento outra casa. Aqui têm casas de candomblé, porém, cada casa têm sua essência e eu não gosto de misturar as coisas. Mas, mesmo de longe o meu pai de santo me ajuda, fazendo minhas oferendas para os meus orixás”.

Nina Palma em museu na cidade de Amsterdam, 2019. Foto: Arquivo pessoal/Instagram.

Por residir no continente europeu e possuir cidadania ítalo-brasileira, Nina Palma desfruta de inúmeras possibilidades de destinos para os quais viajar. Quando questionada a respeito de suas experiências de viagem, a soteropolitana exibe a paixão pelo país no qual escolhera viver. “Creio que a Itália venha em primeiro lugar, porque não posso escolher uma cidade específica. Até as pequenas vilas por aqui têm histórias fantásticas”. Contudo, não esconde o seu fascínio pela Holanda, país no qual tivera experiências memoráveis. “Amsterdam foi uma das melhores cidades. Desde as bikes aos museus. Imagina você chegar em um lugar no qual as pessoas têm mentes abertas. Sem tabu para falar sobre sexo, sem risadinhas e olhares estranhos quando surge o assunto. Que não se importam se você é gay, lésbica, bissexual, assexual, homem ou mulher. Amsterdam é isso! Uma cidade livre”.

Atualmente, Nina possui uma conta no Instagram (@viajecomanina) direcionada às suas viagens e experiências enquanto brasileira expatriada. Possuindo mais de cinco mil seguidores, a soteropolitana partilha desde fotografias na capital da Eslovénia à dicas para mulheres viajantes. “Tinha o perfil fechado até maio deste ano e tinha 3.217 seguidores. Porém, eles sempre me pediam para abrir e contar mais das minhas viagens e dar dicas. Porque quando eu viajo, encho os stories de várias coisas divertidas do lugar. No dia 13 de junho criei coragem para fazer a primeira publicação com dicas. E do nada começou a surgir novas pessoas, gente entusiasmada e que compartilhava, comentava e salvava o post. Aí eu gostei disso”. 

Nina Palma em frente à Fontana dei Quattro Fiumi, Roma, Itália, 2019. Foto: Arquivo pessoal/Instagram.

Consciente, Nina sabe que tornara-se uma inspiração para demais mulheres brasileiras. “Sou bem espontânea. Fico muito feliz em ver que muitas mulheres se sentem representadas por mim. Recebo sempre mensagem agradecendo por isso. E sim, a maioria do meu público é feminino”. Quando questionada a respeito de qual conselho daria às jovens mulheres negras as quais, assim como ela, desejam conquistar o mundo, Nina afirma: “Eu digo e repito ‘vá’! Não leiam histórias de quem já sofreu racismo ou não sofreu, apenas vá. Sua história é única. Existe o medo, o receio, mas não deixem que isso seja maior do que o sonho de desbravar e conhecer novos lugares. Apenas vá e faça a sua história!”.

Foto de capa: Arquivo pessoal/Instagram.

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