Atlântico Bahia

Baiana de Ilhéus palestra sobre crise ambiental e povos tradicionais na África do Sul

Baiana da cidade de Ilhéus e ativista dos direitos humanos, Jade Alcântara Lôbo, 28, participa do World Anthropological Union Congress (Congresso da União Antropológica Mundial) 2024, entre os dias 11 e 15 de novembro, em Joanesburgo (África do Sul). Com o tema central “Reimaginando o Conhecimento Antropológico: Perspectivas, Práticas e Poder”, o congresso reúne pesquisadores de diversas partes do mundo para discutir questões urgentes relacionadas à antropologia e suas intersecções com crises ambientais e reivindicações territoriais.

As expectativas são muito altas, eu trabalho com povos tradicionais, pensando a reparação de danos. E pra mim é se conectar com a nossa cultura ancestral, é conhecer as outras comunidades originárias que estão no Continente Africano. Porque existe uma deturpação de pensar que nós, pessoas negras, também não somos descendentes de povos originários. Somos descendentes de povos originários de outro continente, que tinham suas culturas, seus simbolismos e que foram capturados pela perversão que é o processo colonial”. É o que destaca fortemente Jade Lôbo, em entrevista para o Negrê.

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Durante o congresso, Jade Lôbo apresenta seu trabalho intitulado “O Papel da Antropologia na Advocacia pela Reparação das Comunidades Tradicionais no Brasil”, através do qual discutirá como a antropologia pode apoiar a busca por reparação junto aos povos tradicionais. Além disso, ela vai moderar o grupo de pesquisa “Conhecimento Ecológico dos Povos Tradicionais em Meio à Crise Ambiental e Políticas de Conservação”, no qual irá discutir as pesquisas de especialistas de diversas partes do mundo, em parceria com Nathalia Dothling, doutoranda na The University of Queensland, na Austrália.

O meu projeto de pesquisa, de vida, é fazer essa ponte dos povos originários e povos negros daqui da diáspora africana. A gente sabe que em diversos países, as pautas dos povos originários e dos povos da diáspora eram sempre muito próximas e nós aqui no Brasil tivemos um certo distanciamento. Então, eu tenho feito esse esforço já há alguns anos”, relata a antropóloga baiana.

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Além disso, Jade Lôbo e Nathalia Dothling vão apresentar uma mesa redonda com o título “Crise Ambiental, Desastres e Reivindicações Territoriais: o papel da antropologia com comunidades tradicionais na reimaginação de mundos”. A discussão pretende explorar como a antropologia pode colaborar na valorização do conhecimento ecológico das comunidades tradicionais em meio às crises ambientais.

“Minha participação no congresso é uma oportunidade de amplificar as vozes das comunidades tradicionais e discutir como a antropologia pode contribuir para a reparação de injustiças históricas”. É o que declara a antropóloga e doutoranda Jade Lôbo. A baiana acredita que o conhecimento dos povos tradicionais é fundamental para enfrentar os desafios contemporâneos relacionados às crises ambientais.

O congresso em terras sul-africanas promete ser um marco na troca de saberes e experiências entre pesquisadores e ativistas de todo o mundo. Também pretende destacar a importância da antropologia na construção de soluções inclusivas e sustentáveis para os desafios atuais

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Sobre a antropóloga

Nascida em Ilhéus, na Bahia, Jade Alcântara Lôbo é neta de marisqueira e doutoranda em Antropologia Social na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), membra do ForbesBlk, e traz uma bagagem de experiências em sua trajetória acadêmica e de ativismo. Sua formação inclui uma bolsa de estudos no Afro-Latin American Research Institute (Instituto de Pesquisa Afro-Latino-Americano) na Harvard University, onde adquiriu um Certificado em Estudos Afrolatino-americanos e participou de eventos apresentando suas pesquisas. Jade é reconhecida por sua atuação em temas, como relações étnico-raciais, povos tradicionais, desigualdade de gênero e afroindígenas.

A antropóloga baiana Jade Alcântara Lôbo. Foto: Arquivo pessoal.

Ao compartilhar suas raízes com o mundo, Jade Lôbo tem um histórico de produções em defesa dos direitos das comunidades afro-brasileiras. É autora da obra Para Além da Imigração Haitiana: Racismo e Patriarcado como Sistema Internacional (2020). Além disso, edita e coordena a Revista Odù: Contracolonialidade e Oralitura, tendo sido convidada para publicar seus artigos na Faculdade de Direito da Universidade de Oxford, contribuindo para discussões sobre criminologia e direitos humanos.

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Ela atuou como coordenadora de pesquisa do Instituto de Defesa das Religiões de Matriz Africana (IDAFRO) entre 2022 e 2023, no qual liderou uma equipe diversificada composta por 12 profissionais negros, incluindo psicólogos, engenheiros, advogados e antropólogos. Durante sua gestão, ficou a frente de um levantamento abrangente sobre a situação documental e os danos socioculturais sofridos pelos Povos e Comunidades de Tradição Religiosa Ancestral de Matriz Africana da Região 02 da Bacia do Rio Paraopeba, em Minas Gerais, que foram severamente impactados pelo desastre sociotecnológico da Vale. 

Foto de capa: Arquivo pessoal.

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