O documentário What Happened, Miss Simone? (2015), dirigido pela norte-americana Liz Garbus, teve sua primeira exibição no Festival Sundance de Cinema, um dos mais importantes festivais de cinema do mundo, e foi indicado ao Oscar de Melhor Documentário em 2015, além de receber o Prêmio Emmy do Primetime: Melhor Documentário/Especial e Peabody Award – Documentary.
O filme está disponível no catálogo da Netflix e narra a trajetória de Nina Simone, uma artista hipnotizante e extremamente talentosa, buscando responder a questão que dá título ao filme: “O que aconteceu, senhora Simone?”.
Por que uma artista, que à frente do seu tempo, teve uma trajetória tão conturbada? Para tentar responder essa questão, o filme vai recorrer às diferentes fases da vida da cantora, desde a infância, quando lutou junto com os pais em um país totalmente segregado para se tornar a primeira pianista negra de música clássica, seu estilo musical preferido.
Quando Nina Simone nasceu, em 1933, recebeu o nome de Eunice Kathleen Waymon. Filha de pais cristãos, iniciou a carreira na igreja, mas foi aos 3 anos de idade que começou a conquistar os primeiros fãs tocando piano. Seu talento era tão incrível que a comunidade criou um fundo para financiar seus estudos em música clássica.
Ao longo do filme, Nina fala diversas vezes sobre a frustração por não ter se tornado famosa por causa da música clássica, apesar do seu respeito pelo jazz e blues. Numa das passagens, durante um dos mais importantes shows da carreira, ela lamenta não estar tocando música clássica.
A obra acompanha também a luta de Simone pelos direitos civis, mesmo sendo criticada por diversos fãs brancos, pela mídia e por investidores. Assim como não se pode separar a artista da obra, também não se pode separar Nina Simone da luta pelos direitos do povo negro norte-americano, luta da qual ela participou ativamente em palanques e na criação de canções que falam da beleza e da importância de seu povo.
Simone compôs canções consideradas ruins pelos fãs brancos, porque falavam sobre a realidade dos negros estadunidenses. Essas músicas são, até hoje, extremamente importantes, como “Mississippi Goddam” (Maldito Mississipi), que fala sobre o assassinato de meninas negras em um incêndio criminoso causado pela Ku Klux Klan em uma igreja no Alabama; “Why? (The King of Love is Dead)“, sobre o assassinato de Martin Luther King em 4 de abril de 1968; “Backlash Blues” fala sobre como os negros são humilhados e ao invés de conseguirem emprego, foram mandados para a guerra do Vietnã.
Nina Simone se tornou referência no movimento político da época pelo uso de canções como expressão do debate de direitos humanos. Como ela dizia: “Pra mim, os negros são as criaturas mais lindas do mundo. Se sou negro e lindo, eu sou mesmo e sei disso, não me interessa o que pensem ou falem”.
O documentário revela ainda sua luta contra a bipolaridade, doença que a fez perder amigos, família e trabalho, e as reviravoltas em sua vida, seguido de um retorno triunfal aos palcos. Durante um longo período da vida, Nina abandonou a carreira e foi morar sozinha na Libéria, na África Ocidental. “Escolhi refletir o tempo e as situações em que me encontro. Pra mim isso é meu dever”.
What Happened, Miss Simone reúne conteúdo inédito, além de trazer leituras sobre o diário de Nina, no qual ela revelou medos e angústias, além do sentimento sobre a relação abusiva que vivia com o marido e a carreira.
Nina Simone era uma mulher negra, corajosa e que lutou pela liberdade do seu povo e pela sua própria. Sobre isso, disse: “Liberdade pra mim é isto: não ter medo”.
Confira o trailer:
Ficha Técnica
What Happened, Miss Simone?
País de origem: Estados Unidos
Ano: 2015
Gênero: Documentário/Biografia Musical
Classificação: 14 anos
Duração: 102 minutos
Foto de capa: Getty Images.
Formada em Jornalismo e com especialização em mídias digitais, a baiana tem dedicado sua carreira ao mercado audiovisual há oito anos, quando iniciou na área. Já atuou como produtora executiva em obras para a televisão e em diversas funções dentro da produção de uma obra. Apaixonada por filmes e séries, se considera uma viciada que assiste mais de seis obras por semana.
