Radar Negro

AfroPai: o primeiro podcast a debater a paternidade negra no Brasil

O podcast AfroPai, veiculado pela plataforma Paizinho, vírgula, é a primeira produção na podosfera a debater paternidade negra no Brasil. Um dos objetivos dessa iniciativa é buscar influenciar uma geração de homens negros a terem maior contato com sua própria saúde psicológica e as de seus filhos. A ideia foi inspirada no podcast Tricô de Pais, focado em abordar paternidade em geral.

“O AfroPai surgiu inesperadamente há três anos”, diz Leandro Ferreira, um dos apresentadores do podcast. “Recebi um convite do Hélio Gomes, que tinha o desejo de criar algo semelhante ao podcast Tricô de Pais. O que fundamentalmente me motivou foi o meu profundo envolvimento com o processo de gestação, do parto e do início da paternidade e da maternidade da minha esposa. Tudo caminhou para me dar consciência sobre como é necessário que os pais também participem do processo.”

O homem negro é o mais atingido pela masculinidade tóxica. A cobrança de um comportamento masculino endurecido parte de uma longa cultura de desumanização e de racismo que atinge homens negros em suas relações familiares e amorosas. Frente ao desafio da paternidade negra e da responsabilidade pela formação de pretas e pretos do futuro, homens negros de todo o mundo influenciados pelo estudo de pautas raciais usam da internet como plataforma para diálogo, auto-conhecimento e desconstrução. Meios como o podcast AfroPai são um exemplo disso.

Imagem representativa de momento entre pai e filho negros. Foto: Ketut Subiyanto/Pexels.

Leandro também deu importância à discussão de não somente pautas da paternidade negra dentro de casais heterossexuais, mas também da paternidade homoafetiva e da maternidade negra. “Há uma deficiência na representatividade do homem negro não somente na paternidade, somos subrepresentados em boa parte dos espaços públicos e sociais. Há uma defasagem de todas as representatividades: homens e mulheres pretas, empregados e desempregados, homens e mulheres trans experimentando da paternidade e da maternidade, etc. Há uma dificuldade nesse debate pois ele é historicamente deixado à margem da sociedade brasileira.”

O problema dos altos dados de abandono parental entre homens negros é também um problema do racismo estrutural. Segundo dados de 2017 do Atlas da Violência, o índice anual de morte de homens negros era de 40 mil. Em junção com dados de encarceramento e construção social do homem negro, o racismo se coloca como causa e efeito do abandono parental.

Leandro diz que um ambiente onde homens negros possam falar de suas pautas e experiências é importante para a compreensão de seu papel fundamental na formação dos filhos. “É um terceiro despertar da nossa negritude. Você se reconhece negro ao nascer através de sua certidão, ao crescer através de sua vivência e ao ter um filho negro percebe que tem um legado e uma luta a construir.”

Leandro também menciona que a paternidade negra tem de ser ouvida não somente por pais negros, mas pais de todas as raças. “A ideia da paternidade tem que se tornar mais representativa para que não somente pais brancos adentrando esse mundo maravilhoso compartilhem de suas experiências, mas também para que homens negros, as vezes nada privilegiados, possam ser ouvidos.”

O podcast tem episódios que variam de temas, como colorismo, educação, dinheiro, gestação, relações afetivas, representatividade, diversidade, planejamento, política, masculinidade e outros assuntos da atualidade, e pode ser ouvido através do Spotify:

Além de outras plataformas, Castbox e Google Podcasts.

Foto de capa: Andrea Piacquadio/Pexels.

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