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Duas vidas interrompidas

Nesta terça-feira, 8, fomos bombardeados com a notícia do assassinato de Kathlen Romeu, de apenas 24 anos, por “bala perdida”, durante uma operação policial no Rio de Janeiro. Mais um “caso isolado”, mais uma “bala perdida” que encontra sempre os mesmos corpos: pretos e favelados.

A jovem Kathlen. Foto: Reprodução/Instagram.

Kathlen era uma jovem negra como várias outras. Como eu e como minhas amigas. Ela era linda e cheia de vida, estava gerando outra vida. O Estado tirou não só uma vida e sim duas, deixando milhares de outras vidas despedaçadas e gerando sofrimentos incalculáveis.

Foto: Reprodução/Instagram.

Quando soube da morte de Kathlen, fiquei um tempo processando o que havia acontecido e é assim a cada morte de um jovem como eu, a sensação de que está tudo desmoronando, a vontade de não acreditar. Tenho medo que um dia seja eu, que seja uma parente, uma amiga. Estamos expostas e nossos corpos são alvos.

Não consigo mais gritar que vidas negras importam… A voz falha, parece não sair mais, pois ninguém se importa com as vidas negras, todos os dias temos provas disso. Mas o que fazer diante da política de morte que todos os dias ceifa vidas negras? Como cobrar de um governo que escolheu fingir que não nos ouve? Como consolar tantas mães pretas que choram pelos seus filhos?

Kathlen e outras jovens negras tinham muito o que viver! É triste ver suas fotos sendo compartilhadas e o seu trabalho sendo reconhecido apenas após perdermos essa vida. Doeu ver em seu perfil um story comemorando a gravidez, pouco tempo antes de ser assassinada.

Kathlen e o companheiro, Marcelo. Foto: Reprodução/Instagram.

Dor e indignação é o que eu sinto. Não tem o que falar, dá vontade de gritar, me sinto sem forças, estou cansada. Tem dias que eu acordo querendo esquecer o mundo ao meu redor e só fingir que está tudo bem, mas absurdos como esse me lembram todos os dias que pra mim, mulher preta, é impossível ignorar a crueldade da sociedade em que vivemos.

Foto de capa: Reprodução/Instagram.

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