Nos deixa, aos 88 anos de idade, e com um grande legado que precedeu vários outros talentos negros, a atriz, ialorixá e escritora baiana, Francisca Xavier Queiroz de Jesus, a mestra Chica Xavier, primeira atriz negra a ter grande notoriedade na dramaturgia brasileira. A atriz morreu na madrugada deste sábado, 8, vítima de um câncer de pulmão.
A atriz conquistou o Brasil interpretando a calorosa Bá, escravizada e ama de leite da primeira versão de Sinhá Moça, em 1986, novela de grande sucesso exibida na Globo. Chica Xavier emplacou muitos trabalhos de notoriedade na emissora global. Nas telinhas, viveu Marlene em Dancin’ Days (1978), Júlia, em Fera Radical (1988), Inácia, na novela Renascer (1998). Em novelas, seu último papel foi Setembrina, em Duas Caras (2007). Sendo escravizada ou empregada doméstica, os papéis não apequenavam o brilho e talento da atriz, que inspirou tantos outros atores e atrizes negros que trilharam a mesma carreira de Chica Xavier.
Além das novelas
Brilhando não apenas nas telinhas, Chica Xaver também atuou no cinema, O Assalto ao Trem Pagador (1962), no filme Nosso Lar (2010), drama baseado na obra do espírita Chico Xavier, e na comédia Mulheres no Poder (2015). Em 1999, a atriz que também era mãe de santo ialorixá, transformou seu axé em escritos com o livro “Chica Xavier canta sua prosa: cantigas, louvações e rezas para os orixás”.
Em cena, sendo escrava ou empregada doméstica, os papéis não apequenavam o brilho e talento da atriz, que inspirou tantos outros atores e atrizes negros que trilharam a mesma carreira de Chica Xavier. Em sua homenagem, nesse sábado, diversos artistas se despediram da matriarca preta da teledramaturgia brasileira.
Homenagem
A Secretaria da Cultura do Estado da Bahia (SecultBA) emitiu nota de pesar aos parentes da atriz e enalteceu a atuação e representatividade negra e baiana da atriz. “Foram mais de 60 anos de carreira, exercendo um papel fundametal de representatividade nas artes e na cultura ”, diz trecho da nota de pesar da SecultBA. Artistas também se manifestaram na despedida à matriarca de toda uma geração. Miguel Falabella, que a chamava de “mãe” se manifestou nas redes sociais, “Descubro, aterrorizado que esta minha segunda orfandade me roubou as palavras, foi-se a subordinação, foi-se a delicadeza deste mundo, minha mãe tão amada, tão maior do que qualquer palavra que eu pudesse acolher nesse mar de tristeza em que navego hoje […]” .
Lázaro Ramos também usou as redes sociais para prestar a última homenagem a Chica Xavier, “[…] Quando ainda na Bahia eu sonhava em ser atorer ela uma das minhas inspirações Cheguei ao Rio e tive o privilégio de trabalhar com ela e generosamente como fazia com todos ela me acolheu, me passou ensinamentos, me apresentou a sua linda família, e abriu as portas de sua casa para que eu soubesse que ali onde ela era ialorixá era um lugar de fé e acolhimento”.
Gésio Amadeu
Nesta semana, na quarta-feira, 5, também nos deixou o ator paulista Gésio Amadeu, 73, vítima de Covid-19. O ator atuou em muitas novelas, filmes e peças de teatro. No Sistema Brasileiro de Televisão (SBT), fez muito sucesso em Chiquititas, como “Mestre Chico”, o cozinheiro do orfanato onde a trama ocorria. Já na emissora TV Globo, atuou em Terra Nostra (1999), O Beijo do Vampiro (2002), a segunda versão de Sinhá Moça ( 2006), Paraíso (2009), Araguaia (2010), Flor do Caribe (2013) e Velho Chico (2016) e também esteve nos seriados Sítio do Pica-pau Amarelo (2007), Faça sua História (2008) e Força Tarefa (2011).
Ele iniciou carreira ainda criança, aos seis anos de idade, cantando no coral da igreja e, ao longo de sua trajetória tem inúmeros trabalhos no cinema e no teatro. A comunidade de artistas negros do Brasil está de luto pela perda destes dois grandes nomes talentosos que deixam saudades e um gigante legado da arte que abraçaram e se dedicaram em suas trajetórias de vida.
Foto de capa: Reprodução/Instagram.
Cofundadora do Site Negrê, o primeiro portal de notícias e mídia negra nordestina do Brasil. Comunicadora Social/Jornalista graduada pela Universidade de Fortaleza (Unifor) e Assessora de Comunicação em eterno aprendizado.
