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Bacurau: se for, vá na paz

Bacurau (2019) foi a grande sensação do cinema brasileiro de 2019 e permanece até hoje fazendo história, mesmo um ano após o lançamento. Na estreia, o filme já deixou uma importante marca no audiovisual nacional, ao ganhar o terceiro mais importante troféu do Festival de Cannes, o Prêmio do Júri. A conquista representa um marco histórico, afinal, a primeira vez que o Brasil venceu esse prêmio foi em 1962, com O Pagador de Promessas (1962).

Após alcançar diversos prêmios mundo afora em diferentes categorias, o filme, que fala sobre um Nordeste pouco conhecido, levou seis prêmios no 19º Grande Prêmio do Cinema Brasileiro, ocorrido no último dia 11, incluindo Melhor Filme de Ficção.

Não há dúvidas que a obra está se consagrando como um dos grandes filmes brasileiros, recebendo críticas positivas de importantes veículos de comunicação mundiais. Segundo o Rotten Tomatoes (site que agrega críticas de usuários e profissionais), o longa-metragem alcançou a marca de 91% das aprovações.

Resumo do filme (contém spoilers)

Num futuro próximo [mas que poderia ser no presente], os moradores de Bacurau, um pequeno povoado localizado no sertão nordestino, estão realizando o funeral de Dona Carmelita, interpretada por Lia de Itamaracá. A mulher mais velha da cidade, com 94 anos, é considerada uma matriarca e guardiã do conhecimento, tradições e cultura. Uma pergunta suscitada pelo enredo é: seria o sepultamento a tentativa de sucateamento da cultura, que vem ocorrendo atualmente no País?

Com o retorno de Teresa (Bárbara Colen), ex-moradora de Bacurau que saiu da cidade para estudar, o telespectador é levado a compreender que o único território onde há água disponível, está ocupado por criminosos que não permitem o acesso da população. Bacurau está abandonada pelo poder público e sobrevive graças aos próprios moradores, que buscam alternativas pra continuar vivendo em sua terra natal. É Teresa quem nos fala pela primeira vez sobre o “fora da lei” Lunga (Silvero Pereira), um dos personagens mais interessantes do filme. 

Lunga foge dos estereótipos de foras da lei do Nordeste que são retratados no cinema. Totalmente excêntrico, suas roupas reluzem, assim como os coturnos estilo punk, as unhas são pintadas e tudo em Lunga é diferente. Ele é procurado pela polícia e considerado bandido, pois luta contra os poderosos (polícia, políticos e fazendeiros) para que a população de Bacurau continue recebendo água. 

No entanto, o filme que parece ser sobre disputa por água, acaba se revelando um faroeste cheio de bandidos estrangeiros que querem usar a população como alvo.

Dias após o sepultamento de Dona Carmelita, os moradores descobrem que a cidade está fora do mapa e não aparece nem mesmo nas imagens de satélite. Toda a comunicação foi interrompida, e nenhum telefone funciona. Ao mesmo tempo, dois forasteiros da região Sudeste aparecem em Bacurau, e logo depois ocorrem vários assassinatos de membros da comunidade.

Desconfiado da situação e acreditando que estão sendo atacados, o matador de aluguel Pacote (Thomás Aquino), busca ajuda de Lunga para proteger a cidade dos assassinos, que pretendem exterminar a população.

Liderados pelo sádico Michael (Udo Kier), os gringos assassinos têm o apoio do prefeito Tony Jr. (Thardelly Lima), que recebeu um grande pagamento em troca de liberar e encobrir a matança em Bacurau. O prefeito representa, sem dúvida alguma, o político comum, como o que vemos no interior ou mesmo em Brasília, guardado na tradição do coronelismo e que pouco ou nada faz pelo povo.

Com a ajuda de Lunga e do psicotrópico de Bacurau, uma droga criada pelo caboclo Damiano (Carlos Francisco), os moradores traçam um plano para se livrar dos assassinos. A partir daí, muita ação, tiros e violência, com direito a muito sangue tomam conta do filme. 

Os diretores Kleber Mendonça Filho (Aquarius, 2016) e Juliano Dornelles (Recife Frio, 2009) não economizam na violência, que não é gratuita, dada a situação em que os moradores são colocados.

Mesmo sendo um filme futurista, Bacurau retrata situações que podem estar ocorrendo neste momento em algum lugar do Brasil. Comunidades inteiras abandonadas à própria sorte pelo poder público e muitas delas nem mesmo são reconhecidas. Políticos vendendo a população em troca de poucas moedas ou enviando produtos vencidos e remédios contra-indicados ou contrabandeados em troca de votos. 

Afinal, quantas Bacuraus existem no Nordeste?

Ficha técnica

Bacurau
Ano:
2019
País de origem: Brasil/França
Gênero: Ficção científica
Duração: 2h11 min
Direção: Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles
Roteiro: Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles
Elenco: Udo Kier, Karine Teles, Sônia Braga, Bárbara Colen, Thomás Aquino, Silvero Pereira, Thardelly Lima

Foto de capa: Divulgação.

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